Ex-diretor de Apoio à Gestão Educacional do Ministério da Educação (MEC), Alexsander Moreira foi exonerado nesta segunda-feira do cargo, após ser alvo da Polícia Federal em operação que apura fraudes e lavagem de dinheiro na venda de kits de robótica. Sua relação com a área educacional, no entanto, não se iniciou no serviço público, e sim na seara religiosa. Alexsander foi postulante ao posto de monge no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, onde morou em 2004.
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Graduado em Filosofia pela Universidade do Sagrado Coração (USC), Alexsander chegou a dar aulas da matéria aos estudantes do Ensino Médio da congregação. De acordo com o registro da instituição, o ex-diretor do MEC permaneceu no templo por nove meses e chegou a vestir batina, mas optou por não completar sua formação. Antes, segundo relatos de religiosos do local, ele também teria tentado se tornar monge no Paraná, no Mosteiro de Ponta Grossa.
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— Nós normalmente ficamos sabendo da vida dos companheiros que passam por aqui e saem, alguns viram amigos. Mas esse sumiu, nunca mais tivemos notícia. Só ouvimos falar dele agora, como alvo das investigações de corrupção — contou ao GLOBO um monge da congregação, sem se identificar.
Natural de Bauru, no interior paulista, o ex-aspirante a monge teve a trajetória religiosa interrompida em 2005, quando ingressou no serviço público como professor de Filosofia, Sociologia e História no Governo do Estado de São Paulo.
Alexsander foi nomeado no Ministério da Educação em 2016, no governo do presidente Michel Temer, e permaneceu na pasta durante a gestão de Jair Bolsonaro. Ele foi promovido em janeiro deste ano, já no mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tornando-se diretor de Apoio à Gestão Educacional da do MEC. No cargo, o educador tinha uma salário bruto de aproximadamente R$ 13 mil.
Durante o período em que esteve no MEC, Alexsander fez mais de 70 viagens de trabalho pelo país. Entre suas funções, ele era responsável por avaliar o cumprimento de metas do Plano Nacional de Educação pelos municípios.
Na última segunda-feira, Alexsander participou por videoconferência de uma reunião no Senado sobre a plataforma +PNE, que registra as metas traçadas pelo MEC na atual gestão. Na ocasião, seu trabalho chegou a ser elogiado pelo senador Flávio Arns (PSB-PR), que é presidente da Comissão de Educação.
— Fiquei muito bem impressionado com a sua fala, sabe? Uma plataforma boa, interessante, uma análise da realidade, dos desafios dessa realidade, mas um trabalho que tenho certeza de que vai gerar excelentes frutos — afirmou o parlamentar.
Investigações
Alexsander foi um dos alvos da operação da PF na última quinta-feira, quando policiais federais e servidores da Controladoria Regional da União em Alagoas (CGU/AL) cumpriram 27 mandados de busca e apreensão, sendo 16 em Alagoas, oito no Distrito Federal, um em Pernambuco, um em São Paulo e um em Goiás.
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Além destas medidas, foi determinada apreensão de bens móveis e imóveis dos investigados, no valor de R$ 8,1 milhões — prejuízo que teria sido gerado ao erário pela compra superfaturada dos kits de robótica—, e a suspensão de processos licitatórios e contratos administrativos celebrados entre a empresa fornecedora investigada e os municípios alagoanos que receberam recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ligado ao MEC, para aquisições dos equipamentos. Alexsander é investigado por suposto desvio de dinheiro do FNDE ao direcionar as contratações dos kits a uma empresa de cujo dono, aliado deArthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, ele recebeu depósitos em dinheiro.
Segundo a PF, os crimes teriam ocorrido entre 2019 e 2022, durante a realização de processos licitatórios, adesões a Atas de Registro de Preços e celebrações contratuais relacionadas ao fornecimento de equipamentos de robótica para 43 municípios alagoanos, cujos recursos aplicados ou previstos seriam de natureza federal, oriundos do FNDE. O inquérito apontou que as contratações do MEC teriam sido direcionadas a uma única empresa fornecedora dos equipamentos de robótica, através da inserção de especificações técnicas restritivas nos editais dos certames e de cerceamento à participação plena de outros licitantes.
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A investigação identificou ainda movimentações financeiras para pessoas físicas e jurídicas sem capacidade econômica e ou pertinência com a área. Para a PF, isso pode indicar a ocultação e dissimulação de bens, direitos e valores provenientes das atividades ilícitas. As movimentação foram realizadas pelos sócios da empresa fornecedora e por outros investigados.