Priscilla Bacalhau

Doutora em economia, consultora de impacto social e pesquisadora do FGV EESP CLEAR, que auxilia os governos do Brasil e da África lusófona na agenda de monitoramento e avaliação de políticas

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Por saúde e aprendizado, adolescentes precisam dormir bem

Sono de menos faz jovens ganharem peso, perder concentração e ter sintomas de depressão

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Os estudantes de escolas públicas da Califórnia estão podendo dormir mais neste ano.

A Califórnia é o primeiro estado dos EUA a determinar por lei o horário do início das aulas. Desde julho de 2022, as aulas não podem começar antes das 8h30 para o equivalente ao ensino médio nem antes das 8h para o equivalente à segunda etapa do ensino fundamental. Ainda vai demorar para que os efeitos dessa mudança estejam plenamente estabelecidos e conhecidos, mas as perspectivas são positivas.

O processo para chegar a essa lei não foi imediato e está baseado em décadas de pesquisas. Entre as alterações biológicas que ocorrem com a chegada à adolescência, está a mudança no relógio interno.

Os jovens começam naturalmente a ir para a cama mais tarde (e não adianta mandar largar o telefone e ir dormir). Com a rotina escolar começando cedo na manhã seguinte, a maioria não consegue dormir as 8 a 10 horas recomendadas de sono para a faixa etária. Quando é hora de acordar, aquele jovem simplesmente não está pronto, e isso não é (necessariamente) preguiça.

Ilustração de Orlando sobre o sono de adolescentes - Orlando

Evidências apontam que adolescentes que não dormem o suficiente estão mais propensos a ganhar peso, realizar menos atividades físicas, ter menos concentração, sofrer sintomas de depressão, entre muitos outros sintomas. O sono inadequado pode levar a extensas consequências negativas para a saúde e a socialização, afetando a capacidade de aprendizado e o desempenho acadêmico.

Apesar de as evidências sobre o sono dos adolescentes serem claras, os aspectos logísticos para viabilizar a alteração dos horários das aulas não são triviais.

No caso da Califórnia, associações de pais passaram anos se organizando com médicos especialistas em sono para influenciar políticas públicas e os ajustes ainda estão sendo implementados. A mudança impacta também o horário de término das atividades escolares, o que afeta atividades extracurriculares e de trabalho desses jovens, além de toda a rotina familiar.

No Brasil, muitas escolas oferecem turnos distintos, matutino e vespertino. Desse modo, uma mudança no horário impactaria estudantes de ambos os turnos, além de professores, equipes escolares e famílias, que podem não ter com quem deixar os filhos nos novos horários vagos.

Com a expansão das escolas em tempo integral em escala nacional, há a possibilidade de rever os horários de aula, levando em consideração o que é melhor para o aprendizado dos jovens e as necessidades familiares, o que deve envolver políticas intersetoriais. Enquanto isso, os adolescentes ficam na esperança de ter aquele essencial tempinho a mais de sono.

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