Por que sua escola precisa debater representatividade e criar espaços de escuta - PORVIR
Crédito: Allison Shelley for EDUimages

Inovações em Educação

Por que sua escola precisa debater representatividade e criar espaços de escuta

Psicólogo e consultor em saúde mental Lucas Veiga traz recomendações a comunidades escolares que desejam ampliar o trabalho com a autoimagem dos estudantes

Parceria com LIV

por Redação ilustração relógio 23 de setembro de 2021

Você já parou para pensar a respeito do que te representa? Quando olha para as produções de TV e cinema, por exemplo, e vê alguém parecido com você, como isso te deixa?

A representatividade tem sido cada vez mais explorada em produtos do audiovisual e também tem suscitado muitas discussões nas redes sociais. Segundo o psicólogo Lucas Veiga, é por volta de 1 ano e 6 meses que as crianças começam a se reconhecer como indivíduos não ligados à figura materna. É também neste período que passam a reconhecer o ambiente ao seu redor.

Essa primeira expansão de mundo, de como veem a própria realidade, vêm também de fontes diversas como a televisão, computador, desenhos animados, além claro das relações que a criança tem dentro de casa. O que acontece é que, com o tempo, as crianças vão absorvendo o que captam dessas diversas fontes.

“Os símbolos que entram no imaginário da criança, vão dando a possibilidade de brincar com esses símbolos e se imaginar nesses lugares fazendo essas coisas, sendo professora, médico, dentista, ator, apresentadora etc.”, aponta o psicólogo.


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A construção da autoimagem acontece com a ajuda do cuidador e também pode ser influenciada por tudo o que a criança acessa. Sugerindo um recorte racial, o psicólogo destaca que o problema acaba recaindo quando crianças negras veem símbolos de beleza, autoridade e inteligência somente em pessoas brancas.

O psicólogo Lucas VeigaCrédito: Divulgação

O psicólogo Lucas Veiga

Um exemplo deste impacto, por exemplo, foi a entrada da jornalista Maria Júlia (Maju) Coutinho na bancada de um telejornal de grande circulação. As crianças negras tiveram a presença de uma mulher negra em um posto antes ocupado majoritariamente por pessoas brancas. Isso influencia diretamente na forma como a autoimagem das crianças é construída.

“Que imaginações de mundo possíveis estão sendo cerceadas por essa criança negra que consome esses símbolos tão predominantemente brancos? A importância dessa discussão da representatividade na escola é fundamental para o processo de desenvolvimento saudável da subjetividade de uma criança negra”, aponta Lucas.

A escola é um espaço para discutir esse tipo de assunto. Após a promulgação da lei 10.639, que inclui o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares e instituiu o dia 20 de novembro como dia da Consciência Negra, uma série de materiais e pesquisas têm sido colocadas à disposição para incorporar a temática de identidade negra na escola.

Ele destaca que o ensino de cultura e história africana e afro-brasileira nas escolas acaba tendo um efeito muito positivo e importante não só na autoimagem das crianças como também na identidade delas. “É poder conectar-se à sua racialidade dentro de um registro de positividade e de resistência.”

Incluir o ensino e a temática racializada em sala de aula é um meio de também “descolonizar” o currículo, como aponta o psicólogo. Lucas destaca que “A nossa mentalidade também foi colonizada e descolonizar a nossa mente tem a ver com a gente se descolonizar um pouco dessa ideia de que é na Europa que está o saber ou a verdade das coisas, e passarmos a produzir conhecimento sobre nós mesmos […]. A gente pode pensar isso junto com a educação porque, ainda hoje, muitos livros didáticos trazem a história do negro no Brasil circunscrita exclusivamente à história da escravidão, como se a história do povo preto começasse e terminasse com a escravidão, e não é verdade.”

Toda a percepção e construção de autoimagem tem um peso na saúde mental. O psicólogo afirma que não só na educação como também na própria graduação de psicologia há uma lacuna sobre o assunto. Isso porque há, segundo ele, uma mentalidade também colonizada, com excesso de importação de conceitos norte-americanos e europeus. Há pouca exploração, portanto, de outros saberes.

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