Por que nº de jovens que não estudam nem trabalham é o menor desde 2019?

Cerca de 9,6 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos estão sem emprego e fora da sala de aula; demanda maior do mercado de trabalho reduziu parcela sem ocupação, segundo IBGE

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Por Roberta Jansen
Atualização:

Um em cada cinco brasileiros (19,8%) entre 15 e 29 anos não estudava nem trabalhava em 2023, conforme dados divulgados nesta sexta-feira, 22, na Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No total, esse grupo, chamado de nem-nem, reúne 9,6 milhões de jovens. A proporção é a menor desde 2019, quando a taxa foi de 22,4%.

Proporção elevada de jovens que não estudam nem trabalham preocupa especialistas Foto: Lev Dolgachov/Adobe Stock

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O problema é ainda pior entre as meninas. Na faixa etária dos 15 aos 29 anos, uma em cada quatro delas não estuda nem trabalha, 25,6%. Isso acontece porque no caso das jovens, muitas deixam de estudar para se ocupar do trabalho doméstico não remunerado, como tomar conta dos irmãos mais novos, por exemplo, ou ainda por conta de gravidez precoce. O trabalho aparece em 25% das respostas sobre os motivos de deixar de estudar, seguido da gravidez (23%).

O número de brasileiros nesta faixa etária é de 48,5 milhões. Deste total, 15,3% estavam ocupados e estudando, 25,5% estavam estudando, porém não trabalhando e 39,4% estavam trabalhando, mas não estudavam.

Na análise da pesquisadora do IBGE, Adriana Beriguy, responsável pela apresentação do trabalho, a principal razão para o porcentual dos que não trabalham nem estudam ter caído nos últimos cinco anos foi a demanda do mercado de trabalho, e não impulsionado por maior busca pela educação.

As pessoas de 18 a 24 anos de idade são aquelas que idealmente estariam frequentando o ensino superior, caso completassem a educação escolar básica na idade adequada. Contudo, o atraso e a evasão estão presentes no ensino médio e, em menor proporção, no fundamental. Consequentemente, muitos jovens entre 18 e 24 anos já não frequentam mais a escola e alguns ainda frequentam as etapas da educação básica obrigatória.

O abandono escolar é um dos principais gargalos da educação no País. Na tentativa de frear esse problema, o governo federal lançou este ano o programa Pé-de-Meia, que prevê auxílios para que os jovens continuem nas salas de aula durante o ensino médio.

Especialistas, porém, alertam que essa não pode ser a única ou principal política antievasão. Prova disso é que aproximadamente 43% dos que abandonaram a escola o fizeram ainda no fundamental.

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O ensino médio é a UTI”, em termos de estratégia de reter os jovens na escola, disse em entrevista recente a superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue, após apresentar pesquisa sobre o tema. Segundo ela, é preciso considerar toda a trajetória escolar, olhando para a aprendizagem e para o desejo e necessidade dos jovens em ter profissão.

Após um impasse entre o governo e o Congresso, nesta semana Câmara aprovou a revisão da reforma do ensino médio, apontada pelos especialistas como crucial para melhorar a aprendizagem e aumentar a conexão da escola com a realidade dos jovens. Um dos objetivo da mudança é flexibilizar o currículo da etapa e permitir maior integração com a educação profissional e técnica.

Nações desenvolvidas, no topo das avaliações internacionais de educação, investem fortemente no ensino profissional junto do médio. No Brasil, só 10% dos alunos cursam o técnico, ante 68% na Finlândia e 49% na Alemanha.

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Em 2023, a taxa de escolarização da faixa entre 18 a 24 anos, independentemente do curso frequentado, foi de 30,5%, porcentual próximo ao de 2022. Por sua vez, 21,6% desses jovens frequentavam a faculdade e 8,9% estavam atrasados, matriculado em algum dos cursos da educação básica. Apenas 4,3% já haviam completado o ensino superior e 65,2% não frequentavam escola.

Levando-se em conta o grupo de jovens de 14 a 29 anos do País, 9 milhões não completaram o ensino médio, seja por terem abandonado a escola antes do término dos estudos ou por nunca a terem entrado na etapa. Desses, 58,1% eram homens e 41,9% eram mulheres. Considerando-se cor ou raça, a desigualdade é ainda maior: 27,4% eram brancos e 71,6% eram pretos ou pardos.

Quando perguntados sobre o principal motivo de terem abandonado ou nunca frequentado escola, esses jovens apontaram a necessidade de trabalhar como fator prioritário. No Brasil, este contingente chegou a 41,7% em 2023, aumento de 1,5 pontos percentuais ante 2022.

Para aqueles que responderam ter abandonado a sala de aula por falta de interesse de estudar, embora seja o segundo principal motivo, este tem apresentado queda sequencial nos três anos investigados pela pesquisa, chegando a 23,5% em 2023.

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Para o principal motivo apontado ser a necessidade de trabalhar, destacam-se os homens, com 53,4%, seguido de não ter interesse de estudar (25,5%). Para as mulheres, o principal motivo foi também a necessidade de trabalhar (25,5%), seguido de gravidez (23,1%) e não ter interesse em estudar (20,7%).

Além disso, 9,5% das mulheres indicaram realizar afazeres domésticos ou cuidar de pessoas como o principal motivo de terem abandonado ou nunca frequentado escola, enquanto para homens, este percentual foi inexpressivo (0,8%).

Outra questão importante, segundo a pesquisadora, é a questão da modalidade do ensino. Em 2023, a rede pública atendia 77,5% dos alunos da creche e pré-escola; 82,3% dos estudantes do fundamental regular; e 87,0% do ensino médio regular.

Por outro lado, a rede privada responde pela maior parte dos estudantes de graduação, especialização, mestrado e doutorado. Em 2023, 73,9% dos alunos de faculdades frequentavam uma instituição de ensino privada.

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