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Por que devemos parar de comparar uma criança com a outra

Será que paramos para pensar por quais razões não devemos comparar as crianças?  - Getty Images
Será que paramos para pensar por quais razões não devemos comparar as crianças? Imagem: Getty Images

Patrícia Guimarães

Colaboração para o UOL

03/11/2017 04h00

"A Marina falou com 1 ano e 8 meses. O Pedro já passa dos 2 anos e ainda não fala!" "Veja como aquele menino é corajoso. Tomou a injeção e não chorou. Você não vai chorar, né?" "Seu irmão nunca me trouxe reclamação da escola. Você não podia ser como ele?"

Falas como essas são bem comuns. Mas será que essas comparações são mesmo inocentes? As psicólogas clínicas especializadas em atendimento de crianças e de adolescentes Vanessa Vieira Beraldo Amorim e Vanessa Ferreira Santos explicam por que devemos evitar esse comportamento:

A comparação pode levar à frustração

Quando a comparação é feita, a criança pode pensar que não é capaz. Cada pessoa tem o seu próprio tempo, principalmente na primeira infância, quando se aprende a engatinhar, andar, balbuciar, falar, comer alimentos sólidos e assim por diante. Quando esses marcos não ocorrem no tempo considerado convencional, muitos pais acabam ficando frustrados e transmitindo esse sentimento para a criança.

Criar um referencial para outro gera sentimento de inadequação

Em médio e longo prazos, uma criança que foi comparada ou estimulada a se comparar com outras pode desenvolver um sentimento de inadequação. Vanessa Santos diz que isso é bem comum em adolescentes que, ao não se encaixarem em padrões de determinados grupos, passam a se considerar parte do que eles mesmos chamam de "grupo dos restos". "A autoestima deles, geralmente, é muito baixa. Quando questionados sobre as próprias qualidades, não sabem elencar. Isso os leva a uma falta de motivação e a questionamentos da própria capacidade, levantando questões como 'no que eu sou bom?' ou 'será que existe algo que eu possa fazer'", afirma.

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Apontar referenciais pode levar a uma crise de identidade

Quando um adulto aponta uma referência para a criança, isso não é saudável, segundo Vanessa Amorim. É melhor que ela escolha, por si mesma, um modelo. Quando é estimulada a se espelhar em alguém que foi mostrado como referência, os sentimentos e vontades dela podem ser confundidos, já que ela vai ter de lidar com algo que veio de fora, o que pode até levar a uma crise de identidade anos mais tarde.

Refletir a partir das atitudes da criança ajuda na autoconfiança

Estabeleça um diálogo claro com a criança, esclarecendo as situações a partir das atitudes que ela mesma demonstrou. Assim, os pais podem estimular o sentimento de autoconfiança, o desenvolvimento emocional e o senso de responsabilidade individual.

Destacar as qualidades ajuda no desenvolvimento

Crianças criadas no mesmo meio, ou até mesmo irmãs, precisam ser respeitadas na própria individualidade. Ao invés de comparar as habilidades ou o desempenho escolar dos filhos, por exemplo, os pais podem evidenciar as qualidades de cada um e trabalhar, separadamente, o desenvolvimento das áreas nas quais a criança não tem muita aptidão. Assim, ela pode se tornar mais confiante. Aproveite também para mostrar para a criança que ser diferente é algo valioso, pois é o que torna cada ser humano único.