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Por que a classe alta valoriza menos a carreira do professor? Veja o que diz pesquisa

Pesquisa mostra que esse grupo vê a profissão como menos atraente, apesar de entender a importância do papel do docente na educação

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Por Renata Cafardo

Brasileiros mais jovens e das classes A e B valorizam menos a profissão de professor do que os mais velhos e mais pobres. Ao serem questionados sobre se a carreira docente é atrativa para estudantes, só 22% dizem concordar totalmente enquanto quase 60% dos integrantes da classe D e E dão a mesma resposta. Esse grupo também acredita que sua família teria uma renda maior se fosse professor, o que não é verdade para a maioria dos demais.

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O piso salarial do professor - cujo dia se comemora neste domingo, 15 - é hoje de R$ 4.420,55. Ele não é respeitado em todas as redes, mas o valor considerado baixo para grandes cidades pode ser expressivo em muitos municípios pequenos, onde também a carreira docente se mostra mais valorizada.

Os resultados fazem parte do Indicador de Valorização de Professores (IVP), criado pelo Instituto Península, e divulgado com exclusividade pelo Estadão. O indicador será elaborado a cada dois anos a partir de agora. Por meio de pesquisas com a sociedade em geral e com os docentes, o índice pretende compreender melhor como o professor é visto no Brasil.

Estudos mostram que o docente é fato determinante para a aprendizagem de um estudantes. Alunos de um bom professor têm maior probabilidade de iniciar o ensino superior, entrar em faculdades de melhor qualidade, receber maiores salários e poupar mais para aposentadoria, segundo pesquisas internacionais.

O indicador geral de valorização do professor pela sociedade no País ficou em 6,7 (numa escala de 0 a 10), considerado uma nota média. Foram avaliadas áreas como carreira, campo de atuação, ambiente de trabalho e questões do indivíduo. Já o índice geral a partir das respostas dos próprios professores sobre eles mesmos ficou em 7.

Estudos mostram que o docente é fato determinante para a aprendizagem de um estudantes. Alunos de um bom professor têm maior probabilidade de iniciar o ensino superior Foto: Tiago Queiroz/Estadão

As diferenças aparecem, no entanto, ao se estratificar as respostas por classe, região e idade. As notas mais baixas foram dadas pela maior parte das pessoas que têm entre 16 a 44 anos, com nível superior, que moram nas grandes cidades e estão na classe A e B.

“Quanto menos instrução, mais clareza a pessoa tem que a escola é um ambiente de transformação social e sua única oportunidade”, diz a diretora executiva do Instituto Península, Heloisa Morel. “Além disso, nas cidades menores, ser professor muitas vezes é a melhor carreira que há. Já nos grandes centros, onde há mais competição e oportunidades, a visão é mais crítica com relação à carreira.”

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Isso, no entanto, não impede que as classes altas vejam a importância do docente na educação de forma geral, segundo a pesquisa. Ao serem perguntados se bons professores podem transformar a vida de uma pessoa, 90% das pessoas de todas as faixas de renda respondem que concordam totalmente.

“Existem muitas coisas concretas que podem ser feitas para valorizar a carreira do professor além de salário e percebemos que a sociedade tem consciência disso, como diminuir a quantidade de escolas que o mesmo docente atua, garantir o tempo de formação durante o trabalho”, diz Heloisa.

Os índices de respostas positivas caem quando se questiona se os professores das escolas brasileiras são competentes: 34% entre os de classe A e B concordam totalmente, 44% da classe C e 51% das classes D e E. A diferença também aparece ao perguntar se os professores são tão valorizados quanto médicos, engenheiros ou advogados. Só 6% das pessoas de classe alta concordam ante 26% nas camadas mais vulneráveis.

Formação a distância

Nesta semana, dados do Censo da Educação Superior mostraram que oito em dez estudantes que entram em cursos de Licenciatura optam pela modalidade a distância (EAD). Atualmente, 64% das matrículas nesses cursos são por EAD, o que demonstra que a maioria dos professores de educação básica do País estão obtendo sua formação a distância. A expansão foi impulsionada pela rede privada, que tem 60,2% dos concluintes da área.

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Para a presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, esse crescimento está atrelado à baixa qualidade da formação e representa uma “sinalização de desvalorização da profissão docente”.

“Um país que admite isso está dizendo que tudo bem o professor ser formado a distância porque é uma profissão que não exige tanta formação”, afirma. “Quando, na verdade, a profissão docente é uma das mais complexas e mais importantes”, completa. Para ela, o uso desenfreado do EAD na formação dos professores prejudica principalmente os alunos das escolas públicas no País.

Estudos do Ministério da Educação mostram ainda que a nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de estudantes que entram em cursos de Pedagogia são muito mais baixas do que dos que prestam Engenharia, Direito, Administração ou Medicina.

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A pesquisa do Instituto Península ouviu 2 mil pessoas de todas as regiões do País e outros 6.775 professores.

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