Por que a aprendizagem criativa vai além do uso de tecnologia - PORVIR
Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

Inovações em Educação

Por que a aprendizagem criativa vai além do uso de tecnologia

Trabalho com tecnologias digitais é importante, mas desenvolvimento da criatividade pode ser alcançado com propostas envolvendo abordagens alternativas, trabalho por projetos, E artes em suas diversas formas

Parceria com Ação Criativa

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 2 de setembro de 2022

É verdade que, quando se fala em aprendizagem criativa, muita gente faz uma associação direta com o uso de tecnologia ou o desenvolvimento de produtos a partir de atividades que contam com etapas online. Entretanto, a abordagem pedagógica defende a criação de ambientes educacionais mais criativos, lúdicos e relevantes, o que pode ser desenvolvido sem qualquer componente digital. 

Abordar a metodologia por esse olhar ‘offline’ pode apoiar escolas que não têm acesso à internet ou contam com conexão insuficiente. “Queremos que os estudantes deixem de ser apenas consumidores de tecnologia para que possam ser também produtores. Além disso, a tecnologia digital é superimportante porque é algo que está no nosso dia a dia hoje, mas quando falamos de aprendizagem criativa, estamos falando do desenvolvimento da criatividade, da autonomia do estudante e do protagonismo, e isso não se desenvolve só no meio digital”, afirma Elio Santos, professor do departamento de física da UFAM (Universidade Federal do Amazonas) e gestor de projeto do Programa Ação Criativa da RBAC (Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa)

Segundo o educador, o segredo está em propostas mão na massa, que permitam que os estudantes se expressem usando diversos recursos, e na autonomia, para que crianças e jovens consigam desenvolver seus projetos, colaborar uns com os outros e ter prazer no que estão fazendo. 

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As muitas abordagens 

Trabalho por projetos, desenvolvimento de um protótipo, produção de um desenho, elaboração de um poema. Essas são apenas algumas das maneiras de trabalhar a aprendizagem criativa, não sendo necessário, portanto, limitar-se ao uso de inúmeros materiais para a confecção de um produto. 

Elio cita o exemplo da arte, campo vasto, para demonstrar como a aprendizagem criativa pode ser abordada de formas alternativas. No teatro, é interessante que além de encenar um roteiro pronto, os estudantes possam participar da elaboração desse texto e que sejam responsáveis pela confecção do figurino e dos cenários. 

no trabalho com o texto, é possível incentivar a criação de poesias durante slam ou sarau na escola, ou mesmo a produção de músicas. O rap, por sua vez, demanda criatividade para criação de estrofes, ritmo e rimas. 

Ao trabalhar com moda, é interessante que os alunos tenham acesso a uma máquina de costura para suas criações. Todas essas propostas têm em comum o incentivo à criatividade, mesmo sem usar a tecnologia para isso. 

Incentivar o trabalho colaborativo e apresentar aos estudantes problemas ‘do mundo real’, para que proponham e pensem juntos em soluções são outras situações que oferecem a liberdade de pensamento e criação. 



Benefícios do uso de metodologias ativas 

Ao passo que um ensino mais tradicional possibilita o desenvolvimento, principalmente, de habilidades como ouvir, ler, observar imagens e assistir filmes, Elio comenta que os tempos atuais demandam outras competências que são possíveis de serem desenvolvidas pelas metodologias ativas. Não é necessário, por exemplo, decorar a tabela periódica já que o conteúdo está disponível na internet. 

“A metodologia ativa amplia o leque de aprendizagem porque engloba a ideia do fazer, como a realização de experiências, a produção de algo real, e com isso há o desenvolvimento de habilidades do mundo concreto.” 

Além de conceder mais autonomia e, com isso, ser mais fácil de centrar o ensino nos estudantes, as metodologias ativas conversam mais com as novas necessidades do mundo: pessoas curiosas e interessadas, que saibam fazer pesquisas e resolver conflitos, que busquem soluções para problemas que ainda não existem, que trabalhem em equipe e sejam autônomas. “É por isso que incentivamos o despertar da curiosidade, que vai fazer com que o estudante se envolva mais com o assunto e traga outros olhares, faça boas perguntas e, com isso, caminhe para uma solução.” 

Criatividade que desata nós 

É possível juntar matemática, trabalhos manuais e artísticos, empreendedorismo, competências socioemocionais e meio ambiente, tudo isso conectado à aprendizagem criativa? Janair de Melo, diretora do CJCC Senhor do Bonfim (Centro Juvenil de Ciência e Cultura), na Bahia, prova que sim com o projeto Nós na Fita. 

A educadora comenta que a iniciativa visa valorizar o uso de semestres da flora regional, incentivar a produção de renda dando ênfase ao empreendedorismo, discutir empoderamento feminino e, ainda, fazer uma analogia sobre os nós que precisam ser desatados ao longo da vida de cada um. O projeto, realizado com estudantes do 9º ano do ensino fundamental até jovens do 3º ano do ensino médio, acontece nas oficinas de linguagens matemáticas e clube da leitura itinerante do CJCC, bem como em eventos e mostras culturais. 

“A atividade mão na massa é introduzida com alguns questionamentos sobre fragmentos de textos expostos em Tumblr (plataforma de blog) de como podemos desamarrar os nós que nos prendem e que nos limitam. A proposta segue com o contexto da valorização da arte e das sementes ofertadas pela flora regional, e é finalizada com a construção de um chaveiro: uma cestinha de nós em cordão para guardar a semente selecionada. São abordadas dicas de como empreender diversificando com criatividade e inovação para ampliar a renda”, explica Janair. 

O projeto trabalha conceitos matemáticos como noções de eixo x e y, lateralidade e espacialidade, posição vertical e horizontal em coordenadas geográficas, formação geométrica da construção da rede que envolve a semente, entre outros. Já no tema socioemocional, os estudantes partem da pergunta geradora: Quantos nós você já precisou ‘Dar’ ou ‘Desatar’ em sua vida?, bem como de textos reflexivos sobre a temática das emoções, discutindo a liberdade e autonomia de dar e desatar os nós. Os jovens são incentivados a aprender a lidar com as emoções, entendendo suas habilidades e se tornando mais confiantes. 

Todo o processo incentiva a criatividade, desde pensar novas formas e configurações para a criação do chaveiro até a confecção de outros objetos a partir da técnica ensinada. 

Arte e criatividade construindo pontes 

E quando a criatividade serve de ponte para conectar estudantes de diferentes realidades? Esse é o caso dos alunos de José Anchieta, professor coordenador da escola estadual Itiro Muto, em São Paulo. 

Considerando sua experiência enquanto jurado do projeto Slam Mossoró e participação em saraus da prefeitura de São Paulo, José criou uma disciplina eletiva de Slam para estudantes do ensino médio. Tudo isso conectado à abertura para desenvolvimento de projetos na escola de São Paulo deu origem à iniciativa. Os estudantes foram apresentados à definição de Slam e foram estimulados a escrever e declamar suas poesias. 

O projeto, entretanto, teve um diferencial. Por contar com grande número de alunos estrangeiros vindos da Venezuela, a declamação de poemas também serviu como conexão entre os jovens. A turma contou com a participação de Catalina Salazar, representante chilena da ONG Social Hip Hop Chile e United Network of Young Peacebuilders na região da América Latina e Caribe e Carlos Guerra “Mossoró”, criador do Slam Mossoró RN e professor titular da Universidade de Rondônia. 

“Para que os estudantes pudessem interagir melhor com a língua espanhola, tivemos a presença do aluno do 4º ano Darwin Javier Ruiz Mejias, da Venezuela. No início, ele ficou muito tímido e depois foi se soltando. Tivemos a participação de 50 estudantes, além de professores dos 5°s e 4ºs anos”, comenta José. 

Para o professor, as atividades estimularam alguns estudantes a expressar suas ideias e suas poesias. O próprio estudante Darwin foi traduzindo algumas palavras e ajudando no decorrer da atividade. “A questão [do uso] da língua espanhola deixou alguns estudantes mais confortáveis e acolhidos. Em alguns casos essa aproximação foi bem interessante devido a familiaridade com o idioma”, finaliza.

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aprendizagem criativa, arte, educação mão na massa, ensino fundamental, ensino médio

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