Educação

Por Igor Abreu, g1 Ribeirão Preto e Franca


FUVEST 2023 em Ribeirão Preto (SP): candidatos começam a deixar local de prova neste domingo (4) após três horas de exercícios — Foto: Érico Andrade/g1

Professores que atuam em Ribeirão Preto (SP) classificaram a primeira fase da Fuvest 2023, aplicada neste domingo (4), como tradicional, mas sem deixar de lado temas atuais.

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Com duração de cinco horas, a etapa reuniu 90 questões, divididas nas seguintes áreas: biologia, física, geografia, história, inglês, matemática, português e química, além de questões interdisciplinares.

Para a maioria dos docentes das Escolas SEB, o exame teve grau de dificuldade superior em relação aos últimos anos. A segunda fase do vestibular está prevista para janeiro de 2023. (veja calendário abaixo)

Sociologia

O professor Bruno Carlos da Silva destaca o caráter interdisciplinar das questões, que também abordaram assuntos presentes na filosofia e história.

Chamou a atenção de Bruno um texto do sociólogo alemão Max Weber sobre o monopólio da violência, numa relação entre a atuação de milícias no Rio de Janeiro (RJ) e o livro República das Milícias, de Bruno Paes Manso.

"Outra questão é a da interseccionalidade, articulando o conceito de raça, gênero e classe social, em especial a inserção da população negra, fazendo gotejo com os brancos na sociedade atual", comenta.

"A outra questão trazia um texto do Jessé Souza, citando dois autores, o Luc Boltanski e a Ève Chiapello, falando sobre a capacidade do capitalismo atual de engolir a linguagem de protesto e libertação", completa o professor.

História

Ainda de acordo com Bruno, a prova de história trouxe temas esperados como unificação italiana, polis grega e Revolução Gloriosa. Ele diz que as questões de gênero, especialmente sobre o papel da mulher na história, seguiram tendências abordadas nos últimos anos pela Vunesp e pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

"A prova tinha muitos textos, bem a cara da Fuvest. Contudo, uma questão que trazia a inserção da mulher no século XX, era uma questão mais exigente, pois dialogava com a história e sociologia", afirma.

Filosofia

Conforme Silva, as questões de filosofia não apresentaram alta complexidade. No entanto, três demandavam uma atenção maior do candidato, segundo o professor.

"Se pensarmos nas questões de filosofia, tivemos três: uma discutindo um texto de Aristóteles na sua obra clássica 'Metafísica', falando dos sentidos no processo de construção do saber; uma segunda, sobre relação entre sensações e sentimentos, trazendo um autor moderno, o David Hume; outra, já na parte interdisciplinar com a literatura, um texto de Santo Agostinho, falando sobre tempo físico e tempo psicológico, relacionada à obra 'Angústia', de Graciliano Ramos".

Língua inglesa

Ao todo, foram oito questões, segundo o professor Wagner Borges. Todas, de acordo com ele, seguiram o modelo do vestibular: muita interpretação de texto.

Borges diz que, se o candidato desconhecesse os significados de palavras-chave em duas perguntas específicas, poderia contornar com atenção durante a análise.

"Destaco, também, uma questão interdisciplinar que você observava um meme científico. Além do inglês, você tinha ali a parte de química e língua portuguesa. Na minha opinião, a prova seguiu uma toada que vem colocando nos últimos anos: fazer com que o candidato interprete aquilo que está lendo", argumenta.

Português

O docente José Ferreira conta que a quantidade de questões sobre língua portuguesa diminuiu nesta edição. Antes, a média era 17, e agora, 13. "Levando isso em conta, as questões foram bem divididas nas três grandes frentes da língua portuguesa: quatro de gramática; quatro de literatura e cinco de interpretação", revela.

As quatro questões de gramática envolviam eufemismo, figura de linguagem que utiliza termos mais agradáveis para suavizar uma expressão. O número de questões de literatura frustrou Ferreira, que relembra que foram exigidas nove obras.

"Apenas quatro questões de livro é uma pena, tendo em vista que são exigidos nove. Mas foram apenas três cobrados na prova: uma questão que envolvia o papel da mulher em “Família”, uma questão sobre a diferença entre tempo físico e psicológico de 'Angústia,' e duas questões baseadas no poema 'O Quinto Império', de Fernando Pessoa", comenta José.

Geografia

Para Altieris Lima, as questões de geografia ficaram mais complicadas em relação às últimas edições. "Uma prova com muitas questões interdisciplinaridades. O candidato tem que entender que a ciência é um bloco só".

Lima destaca que foram abordados temas como aspectos socioeconômicos da África, discriminação de raça e gênero e movimento feminista.

"Me chamou atenção a preocupação ambiental da prova, que trouxe questões sobre energia renovável, preservação de mangues e preocupação com emissão de gases do efeito estufa provenientes do setor agropecuário brasileiro", conclui.

FUVEST 2023 em Ribeirão Preto (SP): candidatos começam a deixar local de prova neste domingo (4) após três horas de exercícios — Foto: Érico Andrade/g1

Física

Seguindo a tendência, o docente Anderson Fernandes diz que a prova de física também apresentou questões mais difíceis. Ele ressalta que temas tradicionais como cinemática não foram verificados.

"Teve questões rápidas. Tinha uma que era só olhar o valor do menor coeficiente de atrito em uma tabela. Em contrapartida, havia questões bem complicadas em relação à interpretação. Por exemplo, tinha uma questão com dois compartimentos contendo gases. Depois que esses gases eram misturados, eles perguntavam a temperatura final", lembra.

Biologia

De acordo com Fernando Roma, a prova apresentou nível de dificuldade médio para elevado. A politização foi a grande surpresa para o professor, uma vez que foram cobrados temas como discriminação, patrimônio público e milícias.

"Muitos textos, alguns gráficos. Muitos temas atuais. Tivemos uma divisão entre questões envolvendo genética, citologia, ecologia e evolução. Bastante interdisciplinaridade com geografia e química", diz.

Matemática

O professor Jeferson Petronilho vai na contramão e alega que a prova de matemática não superou o nível de dificuldade dos últimos anos. "Um fato que chamou a atenção é o estilo de algumas questões que passam a ser de mera interpretação de texto, ou seja, os alunos deveriam simplesmente ler a questão e executar os comandos dados", opina.

De acordo com Petronilho, temas clássicos como probabilidade e trigonometria não apareceram. O docente calcula que 40% do exame contemplou questões com textos extensos e interpretação de gráficos e tabelas.

O restante trouxe questões conteudistas tradicionais, como análise combinatória, porcentagem, cálculo de volume líquido em cilindro, função logarítmica e sistemas de equações.

Química

De acordo com o professor Rener Ribeiro, a complexidade ficou em um nível intermediário, abordando temas como esterificação e radioatividade.

"Em relação à distribuição das questões, não tivemos a participação da termoquímica, da eletroquímica, da tabela periódica. Uma prova que, com o conceito e interpretação, com certeza o aluno conseguiria se sair bem", finaliza.

FUVEST 2023 em Ribeirão Preto (SP): candidatos se concentram na porta da Unip antes da abertura dos portões neste domingo (4) — Foto: Érico Andrade/g1

Calendário Fuvest 2023

  • Prova da 1ª fase: 4 de dezembro de 2022;
  • Divulgação convocados para 2ª fase: 16 de dezembro de 2022;
  • Provas da 2ª fase: 8 e 9 de janeiro de 2023;
  • Divulgação da primeira lista de aprovados: 30 de janeiro de 2023.

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