Jeferson Tenório

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Opinião

Polêmica 'Cavalo Tarado' serve de alerta, mas sem 'higienizar' educação

Para quem foi criança nos anos de 1990 lembra que não havia qualquer preocupação com o conteúdo erótico que era oferecido na TV. A qualquer hora do dia, principalmente, nos programas de auditório, as imagens de corpos seminus em banheiras, danças e hits sensuais eram comuns. Assim como em festinhas infantis, as músicas de cunho sexual, coreografadas e cantadas faziam parte daquele contexto.

O fato é que com o passar dos anos, com as mudanças de comportamento, uma outra visão sobre o lugar da infância se impôs. Assim, toda a discussão sobre preservação do estado infantil dentro de uma sociedade que estimula a entrada precoce de crianças no mundo adulto, passou a ser mais comum e cenas como as de 1990 são impensáveis nos dias de hoje.

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Entretanto, as redes sociais, assim como a internet, facilitaram e muito o acesso a conteúdos impróprios para crianças. Neste sentido, escola, pais e responsáveis precisam estar atentos ao que os filhos acessam e manter sempre um canal de diálogo com eles.

Recentemente a Companhia Suave apresentou uma peça musical para alunos de uma escola municipal no Rio de Janeiro. A peça causou polêmica e ganhou as redes sociais após a postagem de um vídeo em que uma atriz, usando uma máscara de cavalo, dança um funk de cunho sexual.

Após a repercussão, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, se manifestou demonstrando indignação com a apresentação. A Secretaria de Educação no município abriu uma sindicância para investigar o caso. Os diretores das escolas onde aconteceram as apresentações foram afastados do cargo.

Me parece que o que aconteceu na escola foi uma falta de tato, falta de bom senso e, talvez, uma falta de diálogo maior entre os educadores e a companhia de teatro. Uma falta de entendimento do que é ou não é adequado para aquela faixa etária.

Vejam, não se trata de moralismo ou da censura pela censura, mas de compreender, dentro de uma proposta pedagógica, a melhor forma de abordar determinados temas. Neste sentido, é preciso discutir para que situações como essas não se repitam.

Por outro lado, também é preciso tomar cuidado para não "higienizar" a educação. O funk com letras eróticas faz parte da cultura brasileira há anos, sabemos que as letras circulam na sociedade. A questão e o desafio da escola é como lidar com essas demandas. A sexualidade faz parte da nossa formação humana e deve ser abordada na escola, visto que também ajuda a prevenir violências e abusos sexuais.

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A escola é um lugar estranho porque é um espaço que acumula uma série de funções: é o lugar da socialização, da formação cognitiva e pessoal. A escola é uma espécie de ensaio para vida futura, mas também é a própria vida acontecendo. Trata-se de um microcosmo que emula a experiência em sociedade e, neste sentido, a escola, por ter esse perfil, tenta escolarizar o mundo.

Entretanto, nem tudo pode ser escolarizado ou moldado dentro dessa estrutura educacional. A arte, a literatura e o teatro não se encaixam necessariamente nessa escolarização. Justamente porque arte tem objetivo de tensionar e provocar discussões que escapam a pedagogização da vida.

Por isso, a estrutura escolar de tempos em tempos irá se deparar com essas tensões, justamente porque a arte é anterior à escola. E por ser anterior ela não se encaixa exatamente no modelo escolar.

A polêmica do "Cavalo Tarado" serve para nos lembrar de que precisamos nos manter atentos ao perigo da entrada precoce das crianças no mundo adulto, mas sem que com isso deixemos de abordar temas sensíveis, difíceis e necessários.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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