O candidato que faz a redação do Enem copiando trechos que decorou de “redações-modelo” engana a si mesmo. A prova de redação existe para verificar competências como análise crítica, visão global, habilidade de argumentação, capacidade de propor soluções para problemas concretos. Isso será necessário na vida acadêmica e quem frauda o exame pode entrar no ensino superior sem os requisitos básicos. A cópia, verificada em diversos casos do Enem 2016, deve ser banida por estudantes, cursos preparatórios e, sobretudo, pelo MEC.

 

O MEC tem parte da culpa. Em primeiro lugar, ao propor temas genéricos demais, que se prestam a uma escrita com base em “templates”- modelos com estrutura já montada que facilitam a inserção de conteúdos.

 

Tanto é assim que muitas das redações nota mil chegam a decepcionar: se mudarmos certas palavras-chave no meio do texto (como preconceito, violência contra a mulher, ou o tema da vez), e trocarmos por outro, a redação até fica compreensível e aceitável. Com temas como “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil” e “Caminhos para combater o racismo no Brasil”, é bastante fácil preencher 30 linhas com fórmulas pré-fabricadas.

 

Outros exames de seleção acertam ao preferir temas com recortes mais específicos, que exigem um posicionamento autoral. Um exemplo é o vestibular 2015 da Famerp, que teve como tema: O imposto sobre grandes fortunas é uma injustiça com os mais ricos? Outro exemplo vem da prova da UERJ do mesmo ano: A necessidade de conhecer experiências históricas de violência e opressão para a construção de uma sociedade mais democrática. São propostas que dificultam o uso de receitas e requerem mais autonomia intelectual.

 

A correção da redação também precisa melhorar. Os textos de 2016 são um enorme chamado de atenção para a banca, que pelo visto está corrigindo de um modo bastante burocrático, sem buscar diferenciais. Será que a correção também está ficando “templatizada”? A banca parece se impressionar ao ver citações de filósofos, mas muitas estão fora de contexto, sem relação direta com a frase seguinte. Foram bem valorizados os textos cheios de palavras supostamente eruditas: “hodierno”, “inobservante”, “alçará e com mesóclises (pronomes no meio dos verbos) - todos com estrutura parecida e cara de receita pronta.

 

Num exame decisivo para milhões de candidatos, espera-se mais rigor do MEC. O Guia do Candidato até explicita que a nota máxima será dada para quem "apresenta opiniões com indícios de autoria”. Então, a correção deve ser mais exigente, avaliando criatividade e a capacidade do candidato de fazer a própria leitura e análise das questões e rejeitando referências literais, a não ser a autores consagrados, e muito bem contextualizados.