O resultado do aprendizado de estudantes de 15 anos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), apresentado na terça-feira, mostrou que, além de o Brasil estar estagnado no ensino, há desigualdade entre os alunos de cada região. De acordo com o exame feito no ano passado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os estudantes do Sul lideram nas três disciplinas avaliadas, enquanto os do Norte obtiveram as menores notas. Alunos do Sudeste e Centro-Oeste brigam pela segunda posição e os do Nordeste aparecem em penúltimo.
Além de apresentar a média nacional geral, o projeto divide o Brasil e outros países de grandes proporções geográficas e amplos espectros sociais em regiões e divulga o desempenho de cada uma delas e suas colocações no ranking mundial.
Em Matemática, a pior nota do país (média de 379 pontos), a diferença entre as notas do Sul — com 394 — e Norte — com 357 — foi de 37 pontos, o que representa uma distância de 22 posições no ranking mundial. O Sudeste, com 388, aparece na segunda colocação, à frente de Centro-Oeste e Nordeste, que obtiveram 384 e 363.
Em Leitura, o país conquistou seu melhor desempenho, com uma média de 410 pontos. Mas a distância entre o Sul (427) e o Norte (382) foi de mais de 30 posições no ranking mundial. Os alunos do Centro-Oeste ficaram em segundo lugar, com 424 de média, pouco à frente do Sudeste, com 420, e bem adiante do Nordeste, em penúltimo com 392.
Os alunos do Sul conseguiram um resultado em Ciência de 421 pontos, acima da média geral nacional, de 403. No Norte, o desempenho ficou em 380. A diferença entre as regiões, mais uma vez, fica na casa dos 40 pontos, e de 33 posições no ranking mundial. Os alunos do Sudeste ficaram em segundo lugar, com 413 pontos, resultado pouco melhor do que os 411 do Centro-Oeste. O Nordeste ficou mais próximo do Norte, com 386 de nota final.
Piora entre ricos
O Pisa também mostrou que a aprendizagem dos alunos mais ricos brasileiros caiu 13 pontos em Matemática. O desempenho passou de 438 para 425 entre 2018 e 2022. Os mais pobres mantiveram o patamar de 348 entre as duas provas. A desigualdade educacional no país entre os jovens de maior renda e os de baixa renda diminuiu de 90 para 77 pontos, o que significa 3,5 anos de aprendizado.
— É um dado muito preocupante. São os alunos da escola privada e dos institutos federais — lembra João Marcelo Borges, gerente de pesquisa e inovação do instituto Unibanco.
A diferença não se alterou em 48 dos 68 participantes com dados disponíveis. Em outros 13, houve um aumento da diferença, e em sete, uma queda da disparidade. Nessa última lista estão, além do Brasil, a Argentina, o Chile, a Moldávia, as Filipinas, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
“Destes últimos países, apenas na Argentina, nas Filipinas e na Arábia Saudita a diferença diminuiu devido às melhorias no desempenho dos estudantes desfavorecidos. Em três outros países, o desempenho dos estudantes favorecidos deteriorou-se”, alertou o relatório da OCDE.
O Pisa produz um indicador socioeconômico com base nas respostas dos estudantes em questionários que são aplicados juntos com as provas. A medida leva em consideração o capital econômico, social e cultural do estudante e de sua família. Considera o nível de escolaridade dos pais e um indicador de riqueza dos alunos (perguntando, por exemplo, que objetos o aluno tem em casa). Com isso, o exame consegue distinguir estudantes socioeconomicamente desfavorecidos (os 25% com os valores mais baixos nesse indicador em seu país) dos socioeconomicamente favorecidos (os 25% com os valores mais elevados desse indicador).