Antônio Gois
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Um espaço para debater educação

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Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.

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Escolas técnicas públicas de São Paulo têm médias no Pisa iguais ou superiores às de países da OCDE, sendo que três delas superam até Cingapura, líder no ranking. Esses dados foram citados em artigo recente na Folha de S. Paulo, de Vahan Agopyan, secretário estadual de Ciência e Tencologia, e Laura Laganá, diretora-superintendente do Centro Paula Souza, para argumentar que “São Paulo tem exemplos de que um projeto bem elaborado e desenvolvido de forma contínua e eficiente pode gerar resultados surpreendentes”.

Alunos e professores das Etecs paulistas merecem todos os elogios. Mas a conclusão de que esses bons resultados no Pisa comprovam a eficácia do modelo requer análise mais cuidadosa. O principal motivo está numa informação crucial, ausente no artigo em questão: o Centro Paula Souza – autarquia do governo de SP responsável pelas Etecs estaduais – seleciona alunos do 1º ano do ensino médio por vestibulinho.

O Pisa, é bom lembrar, é aplicado a alunos de 15 anos, idade em que é esperado aqui que o jovem esteja na 1ª série do médio. Alguns podem estar já no 2º ano, outros ainda nos anos finais do fundamental, mas a maior parte apenas começou sua trajetória no secundário. O exame, portanto, reflete muito mais o percurso acumulado no fundamental do que a experiência já vivenciada no médio.

Ao selecionar apenas os melhores alunos via vestibulinho, a tarefa de obter bons resultados no Pisa – vale o mesmo para Enem ou Saeb – fica muito mais facilitada em relação a escolas que, por serem públicas em seu sentido mais amplo, atendem a todos.

De novo, o objetivo aqui não é desmerecer o trabalho de alunos e professores das Etecs, mas chamar atenção para um equívoco frequente em análises de provas como o Pisa, Enem ou o Saeb. Seleciona-se, ao gosto ideológico do freguês, um modelo restrito a poucos – escolas particulares, Institutos Federais, colégios militares... – e compara-se com a média geral das redes municipais ou estaduais. O equívoco dessa abordagem é que nada garante que, uma vez massificado determinado modelo, os mesmos resultados sejam replicados em larga escala. Na verdade, o esperado é oposto.

Registre-se que as escolas do Centro Paula Souza atribuem um bônus de 3% na nota do vestibulinho aos estudantes negros e de 10% para egressos de escolas públicas. Mas, como argumentou em artigo publicado em novembro no jornal Valor Econômico o pesquisador Naercio Menzes Filho (Insper e USP), esse aditivo não se compara, em termos de impacto na diversidade, a uma política de cota, por exemplo.

O Brasil precisa expandir sua educação profissionalizante. No passado, essa modalidade era direcionada aos mais pobres. Hoje, atrai também muitas famílias de classe média em busca, legítima, de melhores chances de ingresso no ensino superior. As notas médias dos alunos dessas escolas, inclusive, são maiores no Enem, mesmo, em tese, este não sendo o foco principal da modalidade. Estudos recentes comprovam também impactos positivos na remuneração e empregabilidade.

A democratização da educação profissionalizante passa, obviamente, pela expansão com qualidade. Mas, em se tratando de estabelecimentos públicos na educação básica, é preciso discutir também o fim de barreiras que dificultam o acesso dos estudantes que mais se beneficiariam dela.

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