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Pesquisa: um em cada 5 alunos de escolas públicas não consegue estudar em casa na pandemia

Pesquisa: um em cada 5 alunos de escolas públicas não consegue estudar em casa na pandemia

Estudantes de todo Brasil ainda tentam se adaptar às dificuldades do ensino a distância.

A pipa que rasga o céu no meio da semana não é bom sinal. Paulo, 14 anos, deveria estar estudando. Mas, na casa dele, na Zona Sul de São Paulo, a TV quebrou, não tem celular nem internet. A mãe, doméstica, ficou sem emprego na pandemia.

“Eles ficam meio chateados porque não tem. Mas ou eu coloco Wi-Fi ou eles comem. Então, eu prefiro que eles comam do que colocar um Wi-Fi”, explica Fátima Gomes da Cruz.

Paulo até conseguiu as apostilas distribuídas pela escola, mas sem a orientação do professor, se sente em desvantagem diante dos colegas. “Estou ficando para trás. Eles vão passando mais para frente, fica, aprende mais e, como a escola parou por causa dessa epidemia, não tem como eu estudar”, afirma Paulo Roberto Profires Júnior.

João mora em Petrolina, interior de Pernambuco. O Jornal Nacional só conseguiu falar com ele à noite, quando o sinal da internet melhora um pouco. Para se preparar para o Enem e o sonhado curso de medicina, ele passa a madrugada em claro.

“Aqui no interior, a internet é ruim durante o dia, a qualidade é péssima. Aí eu começo a estudar a partir das 22 horas e só vou parar depois que eu termino tudo, por volta das 5 horas da manhã, 6 horas da manhã. É um mal que eu estou tendo que fazer para um bem necessário”, conta João Samuel Cunha da Silva.

Uma pesquisa com mais de mil pais de alunos de escolas públicas de todo o Brasil concluiu que o ensino remoto está crescendo, mas 21% dos estudantes continuam sem nenhuma atividade pedagógica em casa.

Um terço dos pais teme que os filhos abandonem a escola por não conseguirem acompanhar o ensino remoto. Segundo a pesquisa, a maioria dos alunos não se sente motivada estudando em casa: 64% estão ansiosos, 45% irritados e 37% tristes com a rotina da pandemia.

Sentimentos que Vivian, aluna do último ano do ensino médio, conhece bem. “Principalmente ansiedade e, às vezes, irritação porque a gente não consegue terminar as atividades por conta de dúvida, de internet mesmo. O ensino está muito fraco, sabe? Tirou um sonho da gente”, diz Vivian Gomes de Carvalho, 17 anos.

A pesquisa mostra que a dedicação aumenta entre quem consegue ter contato mais frequente com o professor. Roberto leva de moto o material para os alunos, mas reconhece que o resultado está longe do esperado.

“A gente não está preparado para chegar diante de uma câmera e falar para os alunos. Pegou todo mundo de surpresa, mas a gente tem que ir fazendo o que pode”, afirma.

O educador Chico Soares, professor emérito da UFMG e ex-presidente do Inep, diz que as redes de ensino precisam fazer um esforço para evitar a desistência dos alunos: “A palavra-chave é acolhimento, outra palavra-chave é contato. Colocar esses alunos para receber uma mensagem da escola, que a escola os quer de volta".

A estudante Larícia Gonçalves vai fazer Enem esse ano e pega estrada para estudar em Águas Formosas, no interior de Minas. “Nós estamos andando dois quilômetros de estrada para ir até a casa de um amigo, porque lá tem internet. E tem jovens que têm isso tudo: internet boa, notebook, e não estão dando valor. Então, vocês que têm, jovens, estuda, gente. Porque o nosso estudo é tudo”, diz.

“A dificuldade é o ponto que a gente tem para se agarrar mais no estudo. Eu vejo isso. Então, eu tenho que enfrentar ela sem desistir, levantar a cabeça e enfrentar ela”, destaca João Samuel.

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