Luana Tolentino

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Mestra em Educação pela UFOP. Atuou como professora de História em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e da região metropolitana. É autora dos livros 'Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula' (Mazza Edições) e 'Sobrevivendo ao racismo: memórias, cartas e o cotidiano da discriminação no Brasil' (Papirus 7 Mares).

Opinião

Pesquisa revela que maioria dos brasileiros é contra a agenda ultraconservadora na Educação

Apesar do desejo de muitos, o Brasil não é e não será o país da ignorância, da indigência intelectual, do ódio

Ação na EE Milton da Silva Rodrigues, na Zona Norte de São Paulo - Foto: Flávio Florido/EducaçãoSP
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Inicio essa coluna parafraseando um texto do poeta Carlos Drummond de Andrade: de boas notícias, estamos todos precisados. E é exatamente uma boa nova que trago aqui: segundo a pesquisa “Educação, Valores e Direitos”, coordenada pela ONG Ação Educativa e pelo CENPEC, a maioria dos brasileiros é contra a agenda ultraconservadora na educação, que tem como carros-chefe a defesa da educação domiciliar e a militarização das escolas, como também ataques à política de cotas, à promoção da igualdade de gênero e à educação sexual.

No levantamento, foram ouvidas 2.090 pessoas, situadas em 130 municípios de pequeno, grande e médio portes, entre os dias 8 e 15 de março de 2022. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa buscou compreender qual a capilaridade e a adesão da população à agenda conservadora, sobretudo, no âmbito educacional. Os resultados são animadores, numa época em que o país é bombardeado pela violação de direitos e pelo sucateamento da educação pública em favor dos interesses da iniciativa privada.

Em relação à educação domiciliar, que tem sido apresentada como uma das prioridades do Governo Federal, os resultados da pesquisa apontaram “um grande apoio à visão da educação como um direito das crianças e adolescentes, independentemente do desejo dos pais, demonstrando que a população entende que o espaço escolar é importante para a socialização das crianças e jovens, inclusive para a convivência de crianças com deficiência”.

No que tange à militarização das escolas, outra bandeira do atual governo e de parlamentares que reivindicam o enfraquecimento dos princípios da Constituição cidadã, ficou explícito que a maioria dos brasileiros não é favorável à educação por meio da repressão.

Segundo o levantamento, 56,3% dos entrevistados confiam mais em docentes do que em militares para atuar nas escolas. A pesquisa revelou ainda que entre os participantes, há o entendimento de que os problemas relacionados à educação se dão em razão “da ausência de investimentos nas escolas públicas, dos baixos salários e da desvalorização docente”.

Em um contexto no qual educadores que promovem iniciativas que visam a superar as violências e desigualdades que permeiam a vida de meninas e da população LGBTQIA+ vêm sendo perseguidos e criminalizados, sob o argumento falacioso de “defenderem a ideologia de gênero”, a pesquisa traz uma grata surpresa: 73% dos entrevistados são a favor da educação sexual nas escolas, partindo da compreensão de que discussões relacionadas a esse tema ajudam crianças e adolescentes a se prevenirem contra abusos sexuais.

A respeito do enfrentamento ao racismo, outro dado extremamente importante: 90,2% defendem que a discriminação racial deve ser discutida pelos professores nas instituições de ensino. Pensando nesses números, Denise Carreira, doutora em Educação e uma das coordenadoras da pesquisa, assevera: “A população é menos conservadora e mais progressista do que alardeado por movimentos ultraconservadores. O nível de adesão a essas agendas antidireitos é limitado e não se sustenta quando confrontado com situações cotidianas e familiares”.

Neste cenário de tantas ameaças e destruição, a pesquisa “Educação, Valores e Direitos” apresenta-se como um verdadeiro bálsamo, um lenitivo. Fica uma certeza: nem tudo está perdido. Apesar do desejo de muitos, o Brasil não é e não será o país da ignorância, da indigência intelectual, do ódio.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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