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É desalentador que o Brasil ainda tenha 9,3 milhões de analfabetos, total apontado para 2023 pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. Embora isso represente apenas 5,4% da população brasileira, é gente demais — o número supera a população de Pernambuco (9 milhões). A persistência do analfabetismo mostra que sucessivos governos têm falhado na missão essencial de fornecer educação básica.

É verdade que a parcela de analfabetos tem caído, mas muito lentamente. Em 2022, os brasileiros que não sabiam ler ou escrever representavam 5,6% da população. O ritmo de queda deixa evidente que o Brasil não cumprirá a meta traçada no Plano Nacional de Educação (PNE) de erradicar o analfabetismo até o final deste ano. Faltam recursos, gestão eficiente e campanhas de incentivo para levar os adultos à sala de aula.

A pesquisa do IBGE mostra que 90% dos analfabetos (8,3 milhões) são adultos com mais de 40 anos, sinal de que os esforços das últimas décadas junto a crianças e adolescentes têm surtido efeito. Na faixa de 15 a 17 anos, o analfabetismo é de apenas 0,05%. “A concentração de analfabetos na população com mais idade tem relação com as melhorias da educação básica no país”, afirma Adriana Beringuy, coordenadora da pesquisa.

As estatísticas expõem também a disparidade regional. O analfabetismo no Nordeste (11,2%) é quase o quádruplo do verificado no Sul (2,8%) e no Sudeste (2,9%). Não deveria ser difícil para o Ministério da Educação, em conjunto com estados e municípios, combater um problema localizado.

Os números refletem a ineficácia — ou, no mínimo, insuficiência — das políticas públicas para Educação de Jovens e Adultos (EJA), destinadas a quem não cursou ensino fundamental ou médio. Infelizmente, nos últimos anos, os governos não têm dado a atenção necessária a elas. Em 2014, foram destinados R$ 820 milhões à EJA. Em 2021, os recursos alcançaram o menor patamar, apenas R$ 6 milhões.

A educação brasileira já tem problemas demais para ter de enfrentar questão tão básica, já superada na maioria dos países emergentes. No Brasil, mesmo alunos considerados alfabetizados encontram obstáculos para ler e escrever. Uma pesquisa encomendada por Itaú Social, Fundação Lemann e BID em 2022 constatou que, na fase de alfabetização, 40% das crianças enfrentam dificuldades. De acordo com os pais, 10% estão bem abaixo do esperado para leitura e escrita, parcela que sobe para 24% nas áreas vulneráveis.

Todos os brasileiros, independentemente da idade, deveriam ter acesso à educação. O analfabetismo segrega o cidadão. Quem não sabe ler ou escrever vive apartado do mundo. Não é incomum encontrar adultos analfabetos que nunca saíram da comunidade em que moram porque não conseguem identificar o número ou o destino dos ônibus e temem se perder. Vivem um isolamento forçado. No mercado de trabalho, são costumeiramente marginalizados. As redes sociais por onde tudo circula não existem para eles. O mínimo que o Estado pode lhes oferecer é a oportunidade de estudar, não importando a idade. Mas não basta abrir as portas da escola. É preciso incentivá-los a frequentar a sala de aula, mostrando o mundo que se abre para quem sabe ler e escrever. Não se trata apenas de educação. Trata-se sobretudo de dignidade.

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