Irapuã Santana
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Irapuã Santana

Doutor em Direito

Informações da coluna

Irapuã Santana

Doutor em Direito

O texto a seguir foi escrito para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Escolhi Maria Augusta Arruda, diretora de desenvolvimento de pesquisadores na Universidade de Nottingham.

Escrevo de um workshop sobre “Equidade racial no ensino superior”, cujo acrônimo é “ICARE4Justice” (eu me importo com justiça). Pesquisadores de Estados Unidos, Reino Unido e Holanda estamos reunidos em Haia, na Holanda, uma cidade escolhida a dedo.

Considerada capital jurídica do planeta, desde o século XIX Haia reúne líderes do mundo todo que buscam evitar, resolver e, em último caso, julgar violações aos direitos civis. É sede de quatro tribunais internacionais: Tribunal Permanente de Arbitragem, Tribunal Internacional de Justiça, Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia e Tribunal Penal Internacional.

O que diplomacia e justiça têm a ver com ciência? Tudo! A diplomacia científica oferece uma plataforma para entender que os grandes desafios que põem em risco a humanidade — do aquecimento global a desigualdades sociais, surtos pandêmicos e endêmicos — não respeitam fronteiras. Portanto necessitam de cooperação internacional, com a participação de cientistas, diplomatas e gestores de políticas públicas.

Para facilitar a compreensão do papel da diplomacia científica, podemos dividi-la em três eixos: 1) ciência na diplomacia — cientistas estão aptos a aconselhar líderes; 2) ciência para a diplomacia — a ciência facilita discussões entre países com rivalidades históricas; 3) diplomacia para ciência — governos e instituições possibilitam a cooperação internacional entre cientistas.

Essa tríade permite um ciclo virtuoso que propicia não só a geração de conhecimento, mas a troca de boas práticas e a resolução de conflitos por meio da ciência.

A diplomacia científica nos ajuda a perceber que o colapso nos indicadores sociais e econômicos observado nos últimos cinco anos está intimamente relacionado à falta de apoio e fomento à ciência e à irrelevância do Brasil no palco diplomático internacional. Em outubro, teremos a oportunidade de votar num projeto de reconstrução nacional que deve ter ciência, tecnologia, inovação e cooperação internacional em sua agenda.

Todo cientista é um diplomata, uma vez que somos treinados a resolver problemas, procurar parcerias e criar pontes, seja entre setores da sociedade, seja entre nações. A ciência não vê fronteiras e será fundamental para reconstruir o Brasil e também para reimaginar um futuro mais próspero, justo e feliz para sua população.

Nelson Mandela, cuja trajetória foi pautada por resistência e esperança, disse:

— Sempre parece impossível até ser feito.

Que nas eleições que se aproximam possamos honrar nossos antepassados e as gerações futuras, votando num projeto de governo com ciência, pela ciência.