Por Luciane Cordeiro, G1 PR — em Londrina


Estudante de 18 anos desenvolve pesquisas para realizar o sonho de ganhar um prêmio Nobel

Estudante de 18 anos desenvolve pesquisas para realizar o sonho de ganhar um prêmio Nobel

"Quero um Nobel". O desejo é da estudante de 18 anos de Londrina, no norte do Paraná, Maria Vitoria Valoto. Desde 2014, ela trabalha para chegar ao objetivo – conquistou 34 prêmios ao participar de feiras de ciências nacionais e internacionais.

Em todas as feiras, ela apresentou pesquisas que desenvolveu em um colégio particular em parceria com duas universidades.

Atualmente, ela não faz nenhum curso de graduação, se dedica a pesquisa, e participa de um processo seletivo para conquistar uma bolsa de estudos em alguma universidade americana.

Maria Vitoria já desenvolveu três projetos científicos diferentes na área da saúde desde os 14 anos. O último trabalho, uma pesquisa que tenta encontrar um método natural e eficiente para acabar com o fungo que provoca a candidíase, foi apresentado na Sérvia, em abril, e nos Estados Unidos, em maio.

Ela é aluna voluntária do laboratório de ecologia microbiana da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e procurou a instituição de ensino para melhorar e aprofundar os conhecimentos que tem sobre pesquisa.

Como participa com frequência de feiras, e o nível dos trabalhos apresentados é alto, Maria Vitoria descobriu que a ajuda das universidades é fundamental para publicar um trabalho completo.

"Hoje temos um nível de competição muito alto nas feiras. Se quer competir e ser reconhecido tem que estar no nível dessas pessoas. É muito difícil chegar nesse nível fazendo a pesquisa dentro da escola. São as universidades que fazem a gente crescer, chegar a um nível de competição", explica.

Maria Vitoria frequenta o laboratório da UEL três vezes por semana e ainda trabalha na escola onde fez o Ensino Fundamental e Médio. O trabalho ajuda a pagar despesas com viagens para participar de feiras e desenvolver os projetos.

Fora desse período, a pesquisa não para, ela lê e escreve muito. Um esforço que tem um único objetivo: ser uma pesquisadora conhecida mundialmente.

"Quero ser uma super pesquisadora, não sei direito no que, mas eu quero. Também quero ser uma professora, porque acho muito legal poder passar o conhecimento para outras pessoas", diz.

Desde que começou a participar de feiras de ciência, Maria Vitória já recebeu 14 medalhas pelas pesquisas — Foto: Luciane Cordeiro/G1

Estudantes cientistas

Maria Vitoria é um exemplo entre milhares de estudantes espalhados pelo Brasil que tiveram contato com a pesquisa científica, desenvolvimento de projetos e produção de artigos ainda na escola.

Desde os sete anos participa de projetos de iniciação científica no colégio e, em 2014, passou a fazer pesquisa com mais seriedade e participar de feiras.

A estudante de Londrina não recebe nenhuma bolsa, mas se dedica à pesquisa por amor à ciência.

Amor pela saúde

A primeira pesquisa que Maria Vitoria desenvolveu foi feita em parceria com a Universidade Norte do Paraná (Unopar). Ela e os professores - tanto da escola quanto da universidade - , trabalharam no desenvolvimento de uma cápsula para intolerantes à lactose.

A ideia era transformar o leite normal em uma bebida que não causasse alergia. Por meio dessa pesquisa, ela participou da Feira Internacional de Ciências e Engenharia (Intel), nos Estados Unidos.

Em 2017, a estudante passou a fazer pesquisas na UEL. A estudante queria realizar estudos com bactérias e encontrou no laboratório da universidade a ajuda que precisava.

Na UEL, fez pesquisa com a superbactéria KPC, mas devido aos riscos desse trabalho, o projeto foi deixado de lado. Atualmente, ela pesquisa a utilização de compostos produzidos por bactérias para combater o fungo da cândida.

"Sempre foi um trabalho em conjunto, nunca foi uma ideia só minha ou de outra pessoa. A decisão, em escolher o que pesquisar, é baseada no que eu gosto de fazer, com o que eles me proporcionam e o que é acessível para minha idade", pontua Maria Vitria.

Maria Vitoria apresentou pesquisa desenvolvida em um laboratório da UEL em uma feira na Sérvia — Foto: Maria Vitória Valoto/Arquivo Pessoal

Disposição

A estudante de doutorado Ane Simionato, que orienta a Maria Vitoria na UEL, conta que a adolescente é a terceira estudante que não é de graduação a passar pelo laboratório. Ane ressalta que a principal característica desses alunos é a disposição e a garra para estudar.

"O pessoal do ensino médio é tão animado que qualquer coisa que a gente faça é uma descoberta. Como para eles tudo é novidade, eles têm mais incentivo para estudar. Isso é um incentivo muito grande pra gente da pós-graduação, porque lembramos porque gostamos de ciência", constata.

O coordenador do laboratório Galdino Andrade Filho vai além e diz que os jovens descobrem novos horizontes ao se integrarem à pesquisa.

"Quando os alunos saem lá da periferia e entram na universidade, tem contato com o laboratório, é como se eles estivessem entrando no laboratório da Nasa. Esses jovens são pró-ativos, desenvolvem trabalhos com a perfeição de um mestrando ou de um doutorando. Mas, melhor do que isso, é a vivência com as pessoas daqui e como isso amplia o horizonte dessas crianças", contata.

Papel do orientador

Ao mesmo tempo em que o ânimo e a vontade são características importantes para esses estudantes, os orientadores têm um papel fundamental na seleção de trabalhos para esses jovens.

A estudante de doutorado afirma que a partir da experiência do aluno é possível encaixá-lo em determinado projeto de pesquisa.

"Tentamos ao máximo encaixar as coisas conforme a idade deles, com a experiência que eles têm e com o que eles conseguem absorver. Porque não adianta colocar o estudante em um mega projeto se ele não vai entender", declarou Ane Simionato.

Um trabalho que pode ser desenvolvido ainda na escola. No caso da Maria Vitoria, o colégio e o professores foram fundamentais em sua trajetória.

"A escola é a base de tudo. Sem o apoio da escola não teria começado a iniciação científica. Tive um orientador do processo de iniciação cientifica e lá dentro foi o cara que mais me apoiou. Precisamos dos professores para saber o que fazer e dar o empurrãozinho inicial", conta.

A estudante de doutorado Anne Simionato orienta Maria Vitória na pesquisa que desenvolve na UEL — Foto: Luciane Cordeiro/G1

Força de vontade

Para quem não tem o incentivo na escola e, de repente, nunca conheceu um laboratório, a estudante londrinense diz que o mais importante é querer pesquisar.

"A minha história com a pesquisa foi por incentivo da escola, mas, para quem não tem, é preciso ter força de vontade. É mais complicado. No entanto, se é isso que você quer, procure um laboratório que aceite a sua ideia ou o seu trabalho e depois você desenvolve uma pesquisa junto com eles. Para fazer pesquisa no ensino médio não precisa ser gênio", finaliza a estudante de Londrina.

O professor da Universidade Estadual de Londrina, Galdino Andrade Filho, ainda dá uma dica importante.

O estudante do ensino médio que deseja trabalhar em laboratório, desenvolver algum projeto de pesquisa, pode procurar os departamentos das universidades que têm interesse para se candidatar a um estágio voluntário.

"Primeiro, veja se a sua escola tem o programa de Iniciação Científica Júnior, que inclusive oferece bolsas. Se não for o caso, entre em contato com os departamentos e laboratórios. Tenho certeza que esse aluno terá apoio, a maioria dos laboratórios das universidades estão abertos para isso", constata o professor.

"Parece uma coisa de outro mundo, parece que é impossível chegar até um laboratório de uma universidade, mas não é. Basta nos procurar que desenvolvemos um projeto em conjunto", diz Ane Simionato.

O mundo da ciência não é fácil, há desafios financeiros e de infraestrutura. Porém, quando o resultado aparece, está ali o ânimo para continuar pesquisando.

"Ser um jovem cientista vai fazer com que no futuro o país seja independente e passamos a agregar valor no que a gente faz. Ao invés de vendermos caminhões de grãos de soja, podemos vender componentes dessa soja que valem muito mais", pontua o professor Galdino Andrade.

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