Por Yasmin Castro, g1 Mogi das Cruzes e Suzano


Aos 16 anos, estudante dá aulas de italiano em comunidade e luta por periferia

Aos 16 anos, estudante dá aulas de italiano em comunidade e luta por periferia

Igor Henrique Alves Martins ainda era criança quando aprendeu o poder transformador da educação. Mais do que isso, ele percebeu que o conhecimento é como uma receita boa, dessas que dá certo após muita perseverança. Não adianta guardar para si, é preciso compartilhar.

Com apenas 16 anos, Igor faz parte da luta juvenil por políticas públicas, contra o racismo e pela democratização da educação. No Dia da Consciência Negra, o g1 destaca o trabalho inspirador e mostra, como o jovem faz questão de evidenciar, que a periferia é preta e tem voz alta.

Aos 11 anos, começou a dar aulas de reforço escolar para crianças, adolescentes e idosos de Jundiapeba, distrito da região periférica de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Hoje ensina italiano básico e comanda uma Comissão Jovem que busca ouvir e dar voz à comunidade.

“Quanto mais a gente mostra que a pessoa negra tem talento, quanto mais a gente demonstra que tem pessoas precisando de ajuda na periferia, quanto mais a gente mostra que a periferia não serve só pra voto, mais a gente fortalece a periferia”.

Aos 16 anos, Igor Henrique dá aulas de italiano básico e coordena Comissão Jovem de Jundiapeba, em Mogi das Cruzes — Foto: Reprodução/TV Diário

Foi em 2016 que Igor resolveu, apesar da pouca idade, ajudar o ensino a chegar mais longe. Passou a dar aulas de reforço de português e matemática. Seu objetivo era incentivar moradores de todas as idades para que se sentissem estimulados a acreditar em seus próprios sonhos.

Mais tarde foi estudar italiano e, como de costume, enxergou uma oportunidade que valia para todos. Ele percebeu que o idioma europeu era fácil de aprender e que serviria como uma porta aberta para quem quer levar a periferia para o mundo. Em 2019, mais uma vez, resolveu ensinar.

“Eu estudei italiano básico à distância através de um programa em rede social. Eu aprimorei esse estudo com aulas presenciais. Quando eu percebi que estava bem avançado, que daria para ensinar, eu resolvi dar aula para diversas crianças. Hoje são mais de 300 crianças e adolescentes”.

“A gente precisa mostrar para eles que no mundo a fora existe um mundo circular a eles e, também, sempre motivar eles no caminho profissional”.

Aos 16 anos, Igor Henrique dá aulas de italiano básico e coordena Comissão Jovem de Jundiapeba, em Mogi das Cruzes — Foto: Reprodução/TV Diário

“A linguagem italiana tem algo bem parecido com o português. Muitas palavras são idênticas. Então, a maior parte das pessoas que estão aprendendo pela primeira vez uma linguagem, tem mais facilidade de decifrar. Acho que é importante aprender por uma linguagem que é mais fácil”, comenta.

As aulas ocorrem em associações de Jundiapeba e do Jardim Planalto. Organizado, o jovem professor faz controle de faltas, presença e notas. Ele ainda realiza avaliações periódicas e garante que a grande maioria dos alunos está aprendendo sem dificuldades.

“Desse jeito, consigo avaliar que a maioria está aprendendo. Hoje temos 80% de conhecimento em geral. Eles falam bem, sabem traduzir, sabem decifrar as frases”.

Democracia na periferia

A educação é pilar principal, mas segue firme graças a um alicerce tão resistente quanto: a busca por políticas públicas. Em 2017, aos 12, Igor fundou a Comissão de Juventude Regional de Jundiapeba, onde reúne dezenas de jovens de 14 a 17 na intenção de mostrar que a periferia tem voz.

“Uma coisa que nós jovens da periferia vemos muito é que bairros nobres têm pouca burocracia e na periferia tem muita burocracia. Não somos vistos. Um exemplo disso é que aqui em Jundiapeba tem uma pista de skate que não é reformada desde a inauguração, já tem dois anos”, pontua.

“Só que no centro tem uma pista que recebe reparo toda segunda-feira. A única pista de skate de Jundiapeba é essa. É pequena e tem muita gente que usa. É um pequeno espaço para um distrito que tem quase 80 mil habitantes”.

Sobre o assunto, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer informou que estão previstos serviços de manutenção na Praça da Liberdade, onde se localiza a pista de skate. "Os trabalhos deverão ser executados até a primeira quinzena de dezembro, dentro da programação das equipes responsáveis".

Aos 16 anos, Igor Henrique dá aulas de italiano básico e coordena Comissão Jovem de Jundiapeba, em Mogi das Cruzes — Foto: Reprodução/TV Diário

Além de se atentar aos problemas da vizinhança, eles dão palestras em escolas, fazem campanhas para arrecadação de alimentos e escutam as reclamações que mais afetam o dia a dia dos moradores. Além disso, atuam para que outros jovens negros da periferia tenham oportunidade.

“Lutamos muito com a descentralização da cultura em bairros mais afastados e pela igualdade nos processos sociais e democráticos”, diz.

“A gente também faz ações com MCs jovens, que são jovens que cantam em bairros periféricos. A gente vai apresentando com eles, mostrando o talento e buscando apoio. A gente também tenta trazer skatistas para praticar aqui e incentivar outros jovens”.

Aos 16 anos, Igor Henrique dá aulas de italiano básico e coordena Comissão Jovem de Jundiapeba, em Mogi das Cruzes — Foto: Reprodução/TV Diário

As ações da Comissão Jovem são publicadas em um site, onde a população pode até se cadastrar para receber as novidades por e-mail. Para Igor, essa é mais uma forma de transbordar a comunidade e mostrar para quem está fora que há muita coisa boa por ali.

“A gente precisa conscientizar e lutar por uma sociedade mais igualitária. Para isso, temos essas pequenas iniciativas, que geram tudo que a gente tem até hoje. É importante a participação de todos, porque a gente vai mudando a nossa geração e transformando a realidade”.

“Indiferente de qualquer coisa, cada um tem que ter um futuro. A gente luta pelos skatistas aqui do bairro, lutamos por igualdade perante os setores que estão abandonados, porque o poder público não se faz presente dentro da periferia. A gente quer lutar, cada vez mais, por igualdade e por tudo que pode mobilizar esses estudantes”.

Ubuntu: veja vídeos da TV Diário sobre a Consciência Negra

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