Absurdo

Para Doria, família é responsável se criança pegar covid-19 na volta às aulas

Diferente da propagando de Doria, primeiro dia de planejamento da volta às aulas foi marcado por salas cheias, álcool em gel vencido e escolas em reforma

GovSP
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Secretário da Educação Rossieli Soares defendeu aulas presenciais e garantiu que escolas estariam seguras

São Paulo – Preparando a volta às aulas, o governo de João Doria (PSDB) emitiu termos de responsabilidade às famílias de estudantes da rede estadual de ensino em que se exime totalmente de responsabilidade caso crianças e adolescentes sejam contaminados pela covid-19 nas escolas. O documento coloca entre as condições para retorno do aluno às aulas presenciais que, “em caso de contaminação com a covid-19, me responsabilizarei inteiramente com os cuidados necessários, uma vez que o vírus circula em todos os locais e não somente na escola”.

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O documento é semelhante ao que foi divulgado na primeira tentativa de volta às aulas em São Paulo, em setembro do ano passado, que o governo Doria disse não ter sido elaborado pela Secretaria de Estado da Educação. O documento também exige que os familiares se responsabilizem por garantir que o estudante vai seguir “as orientações diárias que receberá dos funcionários da escola”. Pais reclamam de não terem recebido qualquer informação anterior, somente uma comunicação para se dirigir à escola, onde descobriram que a convocação era para decidir sobre a volta às aulas dos filhos.

“Não tem condições de tomar uma decisão dessa desse jeito. E ainda que a gente assuma toda a responsabilidade, é seguro ou não é? Se o governo diz que é seguro, porque eu tenho que me responsabilizar integralmente se meu filho for contaminado? Além disso, tem uma série de condições que a gente não conhece, que precisava ter informação antes. Mas a gente chega e tem que assinar, dizer se vai ou não e pronto”, reclamou uma mãe de aluno que pediu para não ser identificada.

Documento entregue às famílias para a volta às aulas em São Paulo

Diferente da propaganda

O governo Doria pretende voltar às aulas na próxima semana, mesmo com parte do estado na fase vermelha da quarentena e parte na fase laranja. As salas poderão ter até 35% dos estudantes por turno, nesse período. Na fase amarela serão até 70%. E na fase verde, 100%. O tucano diz ter investido R$ 1,4 bilhão na adequação das escolas.

Frasco de álcool gel vencido distribuído aos professores nas regiões de Tatuí e Rio Claro

O primeiro dia de planejamento da volta às aulas dos professores da rede estadual de São Paulo desmontou as propagandas do governo Doria e confirmou as preocupações dos trabalhadores da educação. Salas cheias e mal ventiladas, álcool em gel vencido e escolas ainda em reforma foram denunciadas em várias regiões do estado. Além disso, os professores criticaram a determinação de retomar as atividades presenciais de planejamento, sendo que a orientação foi toda por meio de vídeos, vistos em telões ou celulares.

“Não tinha necessidade disso. O governo quer se vingar dos professores, fazendo a gente se expor para isso. Era perfeitamente possível fazer o planejamento com uma reunião online”, disse uma professora que pediu para não ser identificada.

Professores aglomerados em sala em atividade que poderia ser feita em home office

O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) reuniu relatos de professores e outros trabalhadores da educação mostrando alguns dos problemas. Escolas na região de Tatuí e Rio Claro distribuíram álcool em gel 70% vencido aos professores. Na Escola Estadual (EE) Valentim Gentil, no Cursino, região sudeste da capital paulista, a reforma da unidade ainda está em andamento. Mesma situação da EE Professor José Cardoso, em Rio Claro, em que nenhum banheiro estaria acessível aos estudantes, se as aulas voltassem hoje, como planejado inicialmente.

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Em Marília, no interior paulista, professores relatam ter ficado 4 horas em sala, apenas com um ventilador apontado para a porta, por que as janelas basculantes estão emperradas e não abrem. Além disso, o próprio uso do ventilador não é recomendado, fazendo com que muitas salas fiquem extremamente quentes. “Se com ventilador já é difícil, imagina sem. Agora imagine se as crianças e adolescentes vão respeitar as regras nessas condições. Ficar horas de máscara num calor desse?”, questionou um professor que também pediu para não ser identificado.

Muitas escolas sequer tiveram as reformas concluídas, apesar da propagando do governo

Além dos problemas estruturais, a presidenta da Apeoesp e deputada estadual, Professora Bebel (PT), denunciou casos de escolas em que já há pessoas contaminadas pelo novo coronavírus e os professores foram orientados a “ficar alertas”.

Covid-19 na volta às aulas

“A irresponsabilidade e a prepotência da dupla Rossieli Soares (secretário da Educação) e (o governador) Doria já provoca contaminação e situações de risco iminente para professores e funcionários da rede estadual de ensino. Isto antes mesmo de que voltem as aulas presenciais. As escolas já estão funcionando com as equipes gestoras e funcionários há algum tempo. Apesar dos casos confirmados, a dirigente de ensino da região manteve a determinação de que todos os professores e funcionários compareçam às escolas nesta segunda-feira, para as atividades presenciais de planejamento”, disse Bebel.

Segundo a presidenta da Apeoesp, as situações ocorreram na Escola Estadual Dom José Maurício, na região da Diretoria de Ensino de Bragança Paulista, a diretora, a vice-diretora, a coordenadora e as funcionárias da limpeza foram contaminados pelo novo coronavírus. E na Escola Estadual Professora Mathilde Teixeira de Moraes há um caso suspeito e um caso confirmado de covid-19.

Os professores seguem reivindicando que a volta às aulas seja suspensa em todo o estado de São Paulo enquanto não houver controle da pandemia e vacinação dos professores. E prometem iniciar uma greve na próxima semana se não houver acordo.

A Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu uma nota pública na última sexta-feira (29), em que defende a importância da volta às aulas para as crianças e adolescentes, mas reconhece que a maioria das escolas, sobretudo as públicas, não estão preparadas para garantir um retorno seguro. E cobra que os governos municipais, estaduais e federais se empenhem efetivamente em garantir as reformas estruturais e as condições materiais para a retomada.