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Por Pâmela Dias — Rio de Janeiro

O ambiente escolar é apontado por 64% dos brasileiros entre 16 e 24 anos como o lugar onde mais sofrem racismo. Mulheres negras são maioria (63%) entre os que afirmam enxergar a raça como a principal motivadora de violência nas escolas. Os dados inéditos são da pesquisa divulgada nesta quinta-feira (27) pelo Ipec, Instituto de Referência Negra Peregum e Projeto SETA.

A principal forma de identificação da manifestação do racismo pela população brasileira é violência verbal, como xingamentos e ofensas (66%), seguida de tratamento desigual (42%) e violência física, como agressões (39%). De acordo com o levantamento, nos espaços da educação básica, as pessoas pretas foram as que mais vivenciaram violência física (29%).

— A violência em espaços escolares talvez seja a parte mais dramática das violências a que nossas crianças e jovens estão expostos. A escola deveria ser um ambiente seguro, de socialização. Porém, é um espaço que acaba propiciando episódios de violência física e simbólica. Precisamos entender que o racismo também é um gerador de violência. Xingamentos, exclusão e bullying acabam atingindo muito mais crianças negras e indígenas — comenta a analisa a gestora do Projeto SETA e diretora programática na ActionAid, Ana Paula Brandão.

O levantamento ouviu 2 mil pessoas de 16 anos ou mais, a fim de entender a opinião da população brasileira relativa à percepção sobre racismo. O intervalo de confiabilidade da pesquisa é de 95% e a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O estudo foi realizado em 127 municípios brasileiros das cinco regiões do país durante o mês de abril de 2023.

Maioria não estuda história afro-brasileira

Em relação a cotas raciais em específico, 74% da população brasileira é a favor da reserva de vagas em vagas em faculdades/universidades, concursos públicos e empregos em empresas privadas para a população negra e/ou indígena.

A Lei 10.639/2003 que, neste ano completa 20 anos, tornou obrigatório o ensino de "história e cultura afro-brasileira" dentro dos componentes curriculares que já fazem parte da grade escolar dos ensinos fundamental e médio. Na prática, porém, a realidade é outra. Apenas 46% dos brasileiros afirmam ter aprendido história e cultura afro-brasileira nas aulas; 37% debateram sobre racismo; e 25% responderam ter aprendido sobre história e cultura africana.

A abordagem sobre história e cultura afro-brasileira na escola para aqueles que aprenderam essa temática foi considerada muito adequada por 42% dos respondentes, pouco adequada por 47% e nada adequada por 9%

81% dizem que o Brasil é um país racista

Outro dado obtido pela pesquisa é o de que 44% da população considera raça, cor e etnia como o principal fator gerador de desigualdades, e mais da metade (51%) já presenciou alguma situação de racismo.

O levantamento aponta ainda que 81% dos brasileiros afirmam que o Brasil é um país racista, sendo que 60% concordam totalmente e 21% concordam em parte. Os índices de concordância com relação a esse tema se mantêm expressivamente altos independente de gênero, faixa etária, escolaridade, região do país, porte da cidade, renda familiar, religião, orientação sexual e orientação política.

No entanto, apesar de reconhecerem o preconceito, apenas 11% afirmam que têm atitudes ou práticas racistas, 10% que trabalham em instituições racistas e 12% que sua família é racista. Isso significa que a população brasileira identifica que o país é racista, mas tem dificuldade de nomear o racismo em suas experiências pessoais.

De acordo com a antropóloga e consultora de monitoramento e avaliação do Projeto SETA, Jaqueline Santos, a negação do racismo no Brasil é um obstáculo para o reconhecimento público do preconceito.

— Por um lado existe uma dificuldade de identificar o racismo estrutural e, por outro lado, a dificuldade de identificar o racismo no universo privado pela pessoa respondente, ou seja, no cotidiano das escolas, do trabalho, das famílias e outros espaços de convivência. É possível relacionar o cenário com o baixo percentual de pessoas que aprenderam sobre o racismo nas escolas de forma adequada — afirma.

Racismo na abordagem policial

Ao todo, 88% dos participantes concordam que negros são mais criminalizados do que brancos. No que diz respeito à abordagem policial, 79% responderam que ela é baseada na cor da pele, tipo de cabelo e tipo de vestimenta. Ainda nesse contexto, 84% concordam que pessoas brancas e negras são tratadas de forma diferente pela polícia.

— Esses dados escancaram o racismo no Brasil e demonstram que a população em geral reconhece o racismo em uma das suas faces mais cruéis: a violência institucional, no caso específico, a policial. De forma prática, ela é reflexo do racismo que estrutura nossas instituições, da maneira como naturalizamos a violência contra as pessoas negras e moradoras das periferias — afirma a analisa a gestora do Projeto SETA, Ana Paula Brandão.

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