Educação 360
PUBLICIDADE

Por Talita Duvanel e Bruno Alfano — Rio


Amy Webb e Maju Coutinho no Festival LED — Foto: Márcio Alves
Amy Webb e Maju Coutinho no Festival LED — Foto: Márcio Alves

Conhecida e respeitada por suas previsões tecnológicas, a futurista americana Amy Webb, principal atração internacional do Festival LED - Luz na Educação, defende que oferecer infraestrutura tecnológica — como o 5G que promete impactar até a indústria com velocidade e fluidez de informações — será o grande diferencial. Ela destaca, no entanto, que o uso intensivo de novas ferramentas tem de ser acompanhado por investimento pesado na formação de professores. Para Webb, são inúmeras as vias que prometem levar a uma revolução educacional nos próximos anos e o Brasil não pode negligenciá-las.

— É claro que não é só tecnologia. O futuro da educação será moldado por forças econômicas, decisões políticas, mudanças culturais — aponta Webb, que ainda analisa o fenômeno da gameficação e da inteligência artificial nas escolas.

A futurista participou virtualmente em mesa com mediação da jornalista e apresentadora do programa Fantástico, da TV Globo, Maju Coutinho — a conversa está disponível, completa, no site do GLOBO.

No Led Festival, você falou sobre o futuro da educação. Quais são as principais mudanças pela frente e como elas podem ajudar países como o nosso, ao sul do globo, a preencher lacunas como alta taxa de evasão escolar, analfabetismo funcional e outros desafios?

A infraestrutura, especificamente o 5G, é um requisito para a educação moderna. Em última análise, a capacidade de um país de educar seus cidadãos dependerá da conectividade de baixa latência e alta largura de banda. Uma das melhores maneiras de o Brasil preencher as lacunas na educação é construir infraestrutura. Mas os professores também fazem parte da infraestrutura central do Brasil. O Brasil deve investir em seus professores. E deve capacitar os professores a usar tecnologia, já preferida pelos alunos, como o WhatsApp.

O futuro da educação será moldado apenas pela adição de mais tecnologia de ensino?

Claro que não. O futuro da educação será moldado por forças econômicas, decisões políticas, mudanças culturais — a tecnologia desempenha um papel, mas não é um papel predominante. As tecnologias podem ser úteis para ajudar a adaptar a experiência de aprendizagem às necessidades de um aluno individual e podem tornar a educação mais atraente e excitante para os alunos. Mas adicionar tecnologia pela tecnologia não é uma boa ideia.

Como a pandemia mudou as análises que você vinha fazendo sobre o futuro?

A Covid-19 não inviabilizou nenhuma de nossas pesquisas. Acelerou o investimento em áreas como a biotecnologia e revelou como muitas pessoas estão excluídas digitalmente ao redor do mundo. Isso inclui os EUA, onde milhões de estudantes sofreram porque seus sistemas escolares não estavam equipados para oferecer aulas on-line, ou suas famílias não podiam pagar banda larga, ou comunidades inteiras em áreas rurais não podiam ficar online com uma conexão estável.

Durante a pandemia, muitos alunos deixaram de estudar por falta de acesso a equipamentos digitais no Brasile nos EUA. Como lidar com um cenário assim?

Tem que partir do governo. Só há uma maneira de lidar com isso. Infraestrutura e financiamento governamental. Não entendo por que nos EUA e no Brasil a educação não é investimento prioritário. Parece que os governos federais têm a expectativa de que os municípios ou os pais assumam esse papel, o que é ridículo. A única maneira de resolver esse problema no futuro é tornar a conectividade gratuita ou muito barata e disponível em toda parte. Os computadores, celulares, óculos ou qualquer outro disponível vêm depois.

O que você acredita que o metaverso realmente será? Ou trata-se apenas de uma especulação de ficção científica?

O metaverso é uma ideia, um conceito. Não uma tecnologia. Quando, em outubro passado, Mark Zuckerberg anunciou que o novo nome do Facebook mudaria para Meta, outras empresas de repente se juntaram. Eu diria que muito do que está acontecendo é emocional, não racional. E as empresas não devem tomar decisões emocionais.

Numa entrevista, você já disse que "nossas vidas serão cada vez mais gamificadas". Como será essa gamificação? A escola vai se beneficiar disso?

A melhor maneira de pensar sobre isso é em termos de motivação e recompensa. As escolas já são projetadas para espelhar motivação e recompensa. Lembro-me de quando eu estava na escola primária e, se você tirasse 100% em um teste de ortografia, ganhava um adesivo de estrela dourada. Quando eu tinha 7 anos, uma estrela de ouro foi uma grande recompensa, e isso me motivou a estudar. Nem toda criança vai conseguir facilmente essas estrelas douradas, então as escolas devem calibrar as recompensas para cada aluno. Essa é a parte complicada, porque sobrecarrega os professores que já estão completamente assoberbados. Mas é aí que uma certa quantidade de inteligência artificial pode desempenhar um papel, na personalização de planos de aprendizado pessoais.

Quais os limites éticos da inteligência artificial e como esta tecnologia afeta a educação?

Os sistemas de inteligência artificial podem expressar sentimentos, mas não sentem, da mesma forma que sentimos. Eles foram treinados para imitar, interpretar e interagir. Agora, para a educação, pode haver no futuro uma ferramenta de conversação para ajudar as crianças a aprender — se as crianças ficarem frustradas, o sistema pode reconhecer essa frustração e acalmar o aluno.

Vivemos a era das notícias falsas, da desinformação e do discurso de ódio que tem influenciado movimentos políticos e sociais em vários países, inclusive no Brasil. Qual é a sua perspectiva para isso?

Não gostaria de comentar especificamente sobre a situação política no Brasil. Em relação à desinformação, este não é um problema simples. As plataformas são as culpadas, mas os políticos também. As organizações de mídia podem desempenhar um papel para relatar e fornecer jornalismo de qualidade, mas é difícil competir com algoritmos.

Mais do Globo

Condomínio cobrava desde 2016 cotas mensais não pagas pelo artista

Latino evita leilão de mansão no Rio após pagar dívida de R$ 723 mil

Rubro-negro começou a competição com calendário complicado e soma três derrotas consecutivas

Em ano de maior investimento de sua história, Flamengo tem pior começo no Brasileirão feminino

Estudo recente, ainda não revisado, encontrou uma associação com um risco aumentado de morte por problemas cardiovasculares

Jejum intermitente é alvo de polêmica: dieta é perigosa para o coração? Entenda

A aparente bonança dos dias de folga pode se tornar um desafio para o nosso bem-estar emocional, segundo especialista

O paradoxo dos feriados: descanso ou mais estresse? Especialista explica

Pesquisa Ipsos detecta na Argentina maior queda na crença da população no futuro dentre as 29 nações pesquisadas no mesmo período; em janeiro, dois terços se diziam otimistas, agora pouco mais da metade

Confiança dos argentinos nos rumos do país despenca três meses após a posse de Milei

Ao GLOBO, Larysa Denysenko denunciou situações de abuso contra menores na Ucrânia; impacto da guerra na infância é tema de livro publicado no Brasil

'Falamos com as crianças sobre como o medo se transformou em força', diz escritora ucraniana sobre invasão russa

Chocolate vicia? Ele causa dor de cabeça ou pode ser usado contra a depressão? Endocrinologista responde as principais perguntas sobre o principal alimento da Páscoa

Páscoa: 11 mitos ou verdades sobre o chocolate para 'abusar com moderação' neste feriado

Análise de dados de vida real mostraram que medicamento da Eli Lilly pode levar a redução até 7,2% maior do peso corporal

Ozempic e Mounjaro, qual leva à maior perda de peso? Veja comparação