Dieese

Pandemia reforçou distância entre mulheres e homens no trabalho. Negras são mais afetadas

Em um ano, elas perderam quase 6 milhões de postos de trabalho. E seguem ganhando menos, mesmo com cargo ou escolaridade equivalente ao dos homens

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA
Fatores como filhos, afazeres domésticos e longas jornadas 'tenderam a agravar problemas de saúde física e mental'

São Paulo – A pandemia reforçou a distância entre mulheres e homens no mercado de trabalho, aponta levantamento do Dieese divulgado em alusão ao Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta segunda-feira (8). Elas “seguiram ganhando menos, mesmo quando ocupavam cargos de gerência ou direção”, ou tendo a mesma escolaridade.

Além disso, “parcela expressiva de mulheres perdeu sua ocupação no período da pandemia e muitas nem buscaram uma nova inserção”, diz o Dieese. Do terceiro trimestre de 2019 até igual período do ano passado, elas perderam 5,7 milhões de postos de trabalho e o desemprego aumentou em 504 mil. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.

Taxa “alarmante”

Ainda de acordo com o estudo, em 2020 a taxa de desemprego das mulheres negras e não negras cresceu 3,2 e 2,9 pontos percentuais, respectivamente. No caso das negras, “atingiu a alarmante taxa de 19,8%”. A das não negras foi de 13,5%.

Um setor bastante atingido foi o do serviço doméstico: 1,6 milhão de mulheres perderam o trabalho, sendo 400 mil com carteira assinada. “Já o contingente de trabalhadoras informais, exceto das do emprego doméstico, passou de 13,5 milhões para 10,5 milhões, indicando outro grupo expressivo que perdeu o trabalho e a renda”, aponta o instituto.

Exclusão social

“Os resultados para este contingente de mulheres negras e mais pobres refletiram um agravamento da situação de pobreza e de exclusão social”, afirma ainda o Dieese. “E, para muitas, foi necessário sair de casa para buscar uma inserção, ou seja, escolher entre algum trabalho e renda ou a proteção de sua vida e da família.”

Na faixa de mulheres com maior escolaridade, que foram realizar seu trabalho em casa, o rendimento médio por hora aumentou, mais por efeito estatístico, segundo o Dieese. Saíram as de menor renda e permaneceram as que ganhavam mais. Mas a diferença segue grande: entre as negras, R$ 11,55/hora e entre as não negras, R$ 20,79. Apesar do aumento, fatores como filhos, cuidado com idosos, afazeres domésticos e as longas jornadas “tenderam a agravar problemas de saúde física e mental dessas mulheres”.

Em cargos de gerência ou direção, as mulheres recebiam, em média, R$ 3.910, ante R$ 4.910 dos homens. “Para a juventude feminina, este cenário de pandemia trouxe a desilusão em relação ao futuro e em muitos casos, o abandono dos estudos e da qualificação. Os efeitos para o país foram desastrosos e se essa situação permanecer em 2021, o desenvolvimento futuro do país estará seriamente comprometido.”

Maioria em São Paulo

Outro estudo, este da Fundação Seade, mostra que as mulheres são maioria (51,3%) da população paulista em 2021. “Trata-se de um ano peculiar, uma vez que o contingente de mulheres com menos de 15 anos se iguala ao daquelas de 60 anos e mais: são 4,1 milhões em cada grupo.”

Projeção do Seade para 2050 aponta quase o dobro da população feminina com idade mais avançada, somando 7,9 milhões. E o grupo das mais jovens irá se reduzir em 27%, para 3,2 milhões.

“Em 1950, aquelas com 60 anos e mais representavam 4,5% da população estadual e o grupo com até 15 anos participava com 38,2%. Em 2021, essas proporções se igualam em 17%. Já em 2050, 32,6% estarão na faixa de idades mais avançadas, enquanto 13,4% na de mais jovens”, diz o Seade. A fundação acrescenta que a participação da população feminina com menos de 15 anos é “regionalmente diferenciada”. Em alguns casos, chega a quase 25%. Por sua vez, há municípios paulistas em que as mulheres com 60 anos ou mais superam os 30%.

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