Por Samantha Silva, g1 Piracicaba e Região


Escola Sud Mennucci, em Piracicaba — Foto: Samantha Silva/g1

A Secretaria de Educação Estadual iniciou o ano de 2022 em Piracicaba (SP) com o maior índice de evasão escolar no ensino médio em 11 anos. Os últimos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostram que em 2021, segundo ano após o início da pandemia, 713 alunos deixaram de estudar. A última vez que o número ficou acima disso foi em 2011.

Na análise do dirigente de ensino em Piracicaba, Fabio Augusto Negreiros, dificuldades econômicas podem ter influenciado muitas das desistências no período, com a necessidade dos jovens procurarem emprego para ajudar a família. Além disso, ele vê uma necessidade da educação em se modernizar para acompanhar uma geração que já nasceu tecnológica.

Veja abaixo os números de evasão escolar nos últimos 11 anos.

Taxa de evasão escolar no ensino médio em Piracicaba

Ano Nº de abandonos Taxa de rendimentos
2011 830 5%
2012 566 3,5%
2013 560 3,5%
2014 588 3,7%
2015 441 2,9%
2016 414 2,9%
2017 303 2,2%
2018 309 2,4%
2019 245 1,8%
2020 33 0,2%
2021 713 4,6%

Os dados mostram que, desde 2012, a quantidade de estudantes deixando de fazer o ensino médio seguia reduzindo gradativamente até disparar em 2021. Para Negreiros, com a volta das aulas presenciais em 2021, muitos alunos tiveram que mudar sua rotina para conseguir trabalhar durante o dia, o que pode ter influenciado no aumento da evasão escolar.

"Uma coisa interessante que aconteceu entre 2020 e 2021, que foram os dois anos do auge da pandemia, foi que o número total de alunos matriculados permaneceu constante. Isso é óbvio porque com a pandemia, as pessoas permaneceram em casa, nós trabalhamos de forma remota, portanto oscilou muito pouco, o aluno conseguia ter aula a qualquer momento por qualquer meio eletrônico, seja celular, tablet, computador."

Já com a volta gradativa ao presencial, no segundo semestre de 2021, os educadores perceberam que muitos alunos não tinham voltado para as aulas, e ao mesmo tempo, houve uma maior busca de mudança dos alunos para o período noturno.

"Isso, com certeza, com a volta de todo mundo para o mercado de trabalho, não só às aulas, cresceu a busca pelo período noturno porque esses jovens buscaram o mercado de trabalho. Todos nós saímos, de uma certa maneira, com mais necessidades socioeconômicas depois desse período de pandemia."

Inclusive durante o ano de 2022, segundo Negreiros, mais de mil alunos pediram transferência do período diurno para o noturno em Piracicaba, um aumento significativo em um curto espaço de tempo. "Isso dá uma clara indicação de que esses alunos saíram da pandemia indo pro mercado de trabalho, ajudando suas famílias."

Mudanças no ensino para evitar a evasão

De acordo com o dirigente de ensino, algumas mudanças foram feitas nos horários das aulas do ensino médio estadual para tentar manter o número de alunos matriculados. Antes somente em horário parcial de manhã ou à noite, passou também a ter aulas em tempo integral nas seguintes opções:

  • Período integral com 9 horas de aulas na escola
  • Período noturno de 7 horas de aulas que começa às 14h15 até 21h15 (para atender os jovens que querem trabalhar como menor aprendiz)

Outra mudança importante, segundo Negreiros, foi também uma modernização do ensino com aulas em uma estrutura mais tecnológica, com uso de computadores, televisores e sistema de som.

"Você ofertar pra ele uma sala de aula mais atualizada, com mais acesso de tecnologia, ajuda a reduzir esse tipo de saída do aluno, porque é muito importante ele sentir que a escola tem sentido pra ele, que ele está estudando num local que tem semelhança com aquele que ele vai para o mercado de trabalho depois, que é cada vez mais um mundo muito conectado, muito tecnológico."

Modernização de salas de aula é necessidade para jovem se envolver no ensino médio — Foto: Juliana Wolf

Os educadores também perceberam muitos problemas emocionais dos adolescentes com a volta ao presencial, pelo medo ainda da pandemia, o que dificultou também a aprendizagem em alguns casos.

Para Negreiros, o ensino integral colaborou para ajudar esses alunos, que tinham mais horas na escola para receber atenção em suas necessidades, além de tutores que acompanham grupos menores de estudantes, fazendo um acompanhamento mais próximo.

Transformações para uma nova geração

Segundo Negreiros, à parte os desafios mais consequentes da pandemia, no geral o ensino médio tem passado por grandes transformações, não somente tecnológicas, mas que também envolvem se atualizar para uma geração que busca um propósito para tudo o que está fazendo.

"Senão você não convence ele a fazer. Hoje você não vence pela obrigatoriedade. Se você chegar para um jovem e falar: 'você tem que fazer', você perdeu ele. Ele tem que ser convencido de que aquilo é importante pra ele."

O dirigente de ensino explica que a escola tem tentado se adaptar para acompanhar os estudantes de maneira mais próxima, durante todo o ano, alinhando o ensino ao projeto de vida que cada aluno tem para o futuro.

"Ou seja, o jovem precisa ser convencido de que nós o estamos apoiando, que nós estamos transformando a escola em um local que tenha sentido pra ele, que isso vai trazer pra ele, no seu projeto de vida, um sentido. Pra isso eu tenho que trabalhar questões tecnológicas, um espaço maker no qual ele possa desmontar um equipamento e montar ele, descobrir como funciona, o jovem gosta muito disso."

Negreiros cita como exemplo uma época em que o celular era proibido dentro de sala de aula. Atualmente, acompanhando uma geração que está sempre conectada, ele é um aliado do professor no ensino.

"A escola não pode ser um espaço passivo. Esse jovem nosso de hoje, ele espera da escola um espaço dinâmico. Eu entendo que isso é importante, preparar os nossos professores para esse novo momento que a educação exige que a gente se adapte e atenda o jovem nessa direção."

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