Por Valéria Oliveira e Robson Moreira, G1 RR e Rede Amazônica Roraima


Pai de aluno fecha escola com pedaços de padeira em protesto para cobrar transporte escolar para o filho — Foto: Robson Moreira/Rede Amazônica Roraima

Pais de alunos fecharam com madeira as portas e janelas de uma escola estadual na vila do Taboca, no Cantá, região Norte de Roraima durante um protesto contra a falta transporte escolar nesta quarta-feira (28).

O ato foi na escola Alcides Miguel de Souza, na zona Rural do município, onde há 82 alunos matriculados nos ensinos fundamental e médio. Além das madeiras, eles também usaram cadeados e correntes para fechar o prédio.

Os pais afirmam que 80% dos estudantes estão sem ir às aulas porque o governo do estado não pagou a empresa terceirizada responsável pelo transporte escolar e os veículos pararam de fazer a rota. As atividades começaram no início do mês.

Mãe de três filhos que estudam em horários diferentes na escola, a agricultora Maria de Menezes disse não ter condições e nem veículo próprio para levar os estudantes às aulas e cobrou uma solução.

Maria de Menezes tem dois filhos que estudam na escola estadual no Taboca, interior de Roraima — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Roraima

"Gostaria de saber onde é que estão as autoridades neste momento? Porque se fosse nós pais que tivéssemos deixando nossos filhos irem para a escola, o conselho tutelar já teria nos levado. Então não tem lei para punir o governo?", questionou Maria.

O governo informou em nota que fez uma reunião com 34 empresários do transporte escolar e "expôs a restrição orçamentária que tem enfrentado, tendo informado aos mesmos as providências que estão sendo tomadas em busca da regularização dos pagamentos". (Leia a nota abaixo)

O problema do atraso no pagamento ocorre desde o final do ano passado, antes dos alunos entrarem de férias, disse Meicle Rodrigues, mãe de um estudante do ensino fundamental.

"Moro a 10 Km daqui e está sendo muito difícil, nós não temos transporte e dependemos do governo. Estamos esquecidos no interior. Desde o ano passado que estamos assim. Teve situação em que os alunos iam apenas uma vez por semana, só para passar mesmo. Assim não tem como um filho nosso competir com alguém da cidade", lamentou.

Mesmo com transporte próprio, os pais afirmaram que é obrigação do governo oferecer o serviço aos alunos, principalmente por ser um gasto fora do orçamento.

Pai de aluno diz que gasto para levar filhos para a escola por conta própria é de R$ 100 por semana — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Roraima

"Se eu for colocar gasolina para trazer meus dois filhos de onde moramos para estudar aqui, vou gastar uns R$ 100 por semana e o governo não vai repor isso", comentou Bras Almeida, que também estava na manifestação.

Outro problema relatado é a falta de refrigeração na escola. Diversas centrais de ar estão nas caixas empilhadas no corredor há 12 anos e não há previsão para serem instaladas, segundo os funcionários.

A gestora da escola ainda tentou impedir que os pais fechassem o prédio, mas não conseguiu. Ela não disse se pretendia reabrir a unidade, mas professores que estavam no local disseram que possivelmente voltariam a dar aulas na quinta (29).

Pais disseram que problema afeta 80% dos alunos matriculados na escola — Foto: Robson Moreira/Rede Amazônica Roraima

Motorista diz que atraso é de cinco meses

O motorista da empresa terceirizada que oferta o transporte para escola, Edilton Lajes, disse que o atraso do governo é de cinco meses.

"Paramos por falta de pagamento. O ano de 2017 foi todo problemático. A governadora chegou a ficar até quatro meses sem pagar. A gente parou em outubro, eles pagaram um mês, nos voltamos a trabalhar e eles atrasaram de novo", disse.

Segundo ele, a empresa está parada desde dezembro pois não há dinheiro para pagar os funcionários, colocar combustível ou comprar peças para os carros quebrados. "Só vamos voltar a trabalhar quando recebemos", frisou Lajes.

Correntes com cadeados foram colocados nas portas da escola na vila do Taboca, interior de Roraima — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Roraima

Nota do governo sobre o atraso

A SEED (Secretaria Estadual de Educação e Desporto) informa que na semana passada foi realizada uma reunião entre os secretários da pasta e 34 empresários do Transporte Escolar, quando foram ouvidas as demandas e, também, a Secretaria expôs a restrição orçamentária que tem enfrentado, tendo informado aos mesmos, as providências que estão sendo tomadas em busca da regularização dos pagamentos.

Esclarece que, durante a reunião com os representantes das empresas, não foi cogitada a paralisação, tendo em vista que são prestadores de serviços ao governo há muitos anos.

Escola Alcides Miguel de Souza fica no interior de Roraima e atende 86 alunos — Foto: Robson Moreira/Rede Amazônica Roaraima

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