Economia
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Por Glauce Cavalcanti — Rio

Em um momento em que as empresas avançam em práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), o anúncio de suspensão da seleção de novos alunos em 2023 pelo Portas Abertas, dedicado à inclusão de estudantes de baixa renda, após a Escola Eleva — bilíngue e do segmento premium —ter sido comprada pelo grupo britânico Inspired Education, desencadeou forte resposta de pais e responsáveis.

A comunidade escolar enxerga o programa como um pilar central da escola e razão para que a maioria das famílias tenha optado por matricular seus filhos na Eleva. E não entende a interrupção da concessão de bolsas neste momento.

Bruno Cypreste, presidente da Associação de Pais e Mestres da Eleva Botafogo, explica que grande parte da comunidade escolar optou pela escola pela filosofia inovadora, combinando qualidade com consciência sociocultural. O foco, diz ele, é o de formar jovens mais seguros, que saibam atuar em prol da diversidade social, racial e de gênero.

A comunidade escolar lançou um manifesto de apoio ao Portas Abertas que já soma perto de mil assinaturas. Cypreste está confiante que isso leve o Inspired a reabrir a seleção de bolsistas em 2023:

— Sabíamos que com a compra pelo Inspired viriam surpresas. Mas essa suspensão é muito ruim. É como a quebra de um acordo, de um pilar da escola em que acreditamos muito. Deixa os pais e responsáveis inseguros sobre que outros projetos poderiam ser impactados. O Janelas Abertas é a “cereja do bolo” da escola.

‘Ir na contramão’

Aline Pimenta, sócia-fundadora da Oito Impacto Positivo, especializada em ESG e sustentabilidade, pondera que o mercado de educação vive onda de consolidações, com os negócios se profissionalizando, se posicionando com portfólios definidos.

— Pensando em negócio, no contexto de ESG, diversidade e inclusão são os temas mais fortes. Estão sendo implementados com rapidez nas empresas. Isso porque é uma resposta a algo que todo negócio precisa, que é inovação. Quanto mais diverso o time, mais olhares e realidades diferentes para buscar soluções. Então, fazer o oposto disso é ir na contramão do negócio — diz ela, destacando que, no Brasil, isso passa fortemente pelo pilar racial.

A Escola Eleva da Barra da Tijuca   — Foto: Divulgação
A Escola Eleva da Barra da Tijuca — Foto: Divulgação

Relatório de 2021 do Janelas Abertas mostra que 110 estudantes foram beneficiados desde 2017. Atualmente, há 84 bolsistas. Houve, porém, redução relevante em admissões nos últimos dois anos.

Ingresso de menos bolsistas

Em 2017 entraram 25, no ano seguinte, 30. Em 2019, recou a 22 bolsas; em 2020, a 18. Em 2021, contudo, a seleção encolheu a seis, enquanto para este ano ficou em nove. O Janelas Abertas funciona pelo sistema de match funding. A cada R$ 1 doado pela Escola Eleva, via comunidade escolar ou outras fontes, o Instituto aporta igual valor.

Para o Janelas Abertas, o custo da bolsa de um aluno em 2022 é de R$ 36,22 mil (mensalidade, alimentação e outros programas), totalizando R$ 3 milhões. Em 2021, eram R$ 2,6 milhões. O instituto fixou R$ 4 milhões como meta de captação para 2021 e 2022. No primeiro, alcançou 84% da meta; no segundo, 73% até a divulgação do relatório.

No documento, no site do programa, já consta a informação que, “estamos revisando a nossa estratégia de captação e estruturando um novo plano de ação para o próximo ciclo”.

Bolsista ganhou Olimpíada de Matemática

O manifesto de apoio ao Janelas Abertas destaca a expectativa que a Escola Eleva tinha de que seu programa fosse replicado por outras escolas. Fala ainda do desempenho desses alunos bolsistas, como Rodrigo Porto, 18 anos, aluno do 12º ano (3º do ensino médio) na Eleva de Botafogo, e na escola desde o 8º ano. Ele venceu a Olimpíada Internacional de Matemática em Oslo, na Noruega.

No mês que vem, irá à Colômbia, participar da Olimpíada Hispano-americana de Matemática.

— Rodrigo sempre se destacou e começamos a buscar escolas de excelência para ele. Passou em primeiro lugar para o Pedro II, mas acabou indo para o CAP Uerj e, depois, entrou no Colégio Militar. Mas no 7º ano, achou que não alcançaria a excelência que buscava. Começamos a receber convites de escolas de outros estados, mas não queríamos deixar o Rio. E aí surgiu a Eleva — conta a professora Carla Porto, mãe do estudante.

Ela demonstra preocupação diante da suspensão da seleção de novos alunos, frisando que “há muitos Rodrigos precisando dessa bolsa”. O engenheiro Allan Domingos de Andrade, pai do estudante, diz que a família não teria como custear os estudos do filho sem a bolsa.

— É meu último ano numa escola totalmente diferente das outras em que estudei. Tive muitos recursos e apoio acadêmico e psicológico, fui acolhido. No 8º e no 9º anos, eu ganhava uma bolsa do Programa de Iniciação Científica do CNPq. Eram R$ 100 por mês. Eu doava metade para o Janelas Abertas por tudo que a escola fazia por mim — conta Rodrigo. — Quando puder, vou apadrinhar um estudante, ajudar este ou outro projeto.

A Inspired Education informa que “o modelo do programa de bolsas das escolas Eleva é baseado em doações e, por isso, foi necessário interrompê-lo temporariamente para que seja reestruturado de forma a garantir sua sustentabilidade, tal qual nos outros programas do grupo que recebem, anualmente, mais de R$ 150 milhões em bolsas em todo o mundo”. E reafirmou que os bolsistas atuais têm os benefícios mantidos até a formatura.

A Eleva Educação informou que “a atenção aos pilares das Escolas Eleva foi fator relevante nas trocas com o grupo Inspired Education, assim como o compromisso com os atuais alunos do programa e a manutenção de suas bolsas”. Nas 22 marcas do grupo, há mais de 1.600 bolsas de estudo ativas.

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