Rio

Pais de alunos especiais da rede pública municipal do Rio reivindicam contratação de profissionais de apoio

Segundo os responsáveis, que pensam em organizar um protesto, mediadores são importantes pois atuam na adaptação pedagógica ou nos cuidados com as crianças
Grupo ativista durante manifestação, antes da pandemia, na Cidade Nova Foto: Arquivo pessoal
Grupo ativista durante manifestação, antes da pandemia, na Cidade Nova Foto: Arquivo pessoal

RIO — Pais e responsáveis de alunos da rede municipal de Educação do Rio reclamam da falta de professores e outros profissionais nas escolas públicas da cidade. Em meio a esse déficit, que no fim do ano passado teria chegado a quase 10 mil docentes na capital fluminense, mães de crianças especiais, com autismo ou Síndrome de Down, reivindicam a contratação de profissionais especializados para seus filhos. Além disso, a falta de professores estaria levando escolas a reduzirem turnos e a os unificarem em 2022. A Secretaria Municipal de Educação (SME) do Rio, porém, nega e explica que a decisão será gradativa e já estava prevista nacionalmente, seguindo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).

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— A falta de professores é um problema antigo, não vem deste ano. É uma carência que atrapalha o aprendizado dos nossos filhos, impedem que eles adquiram o máximo de conhecimento. Acho que a secretaria deveria resolver essa questão, contratar profissionais e promover concursos — argumenta uma mãe de aluno, sem se identificar.

De acordo com a secretaria, a rede conta com 38.500 professores e 1.121 novos docentes foram convocados e começarão a lecionar nas próximas semanas. A pasta destaca ainda que trabalha para suprir as demandas também com migração de mais 500 professores para o regime de 40 horas, ampliando a capacidade de atendimento, além de outras medidas estratégicas como, por exemplo, a oferta de dupla regência (hora extra).

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Em meio a esse cenário, responsáveis pensam em organizar um protesto. Segundo o grupo "A Trissomia do Amor 21", que luta pelos direitos das crianças com Down e outras necessidades especiais, são cerca de 18 mil alunos matriculados na rede sem apoio. A dona de casa Alessandra Melo lidera o grupo e diz que a secretaria tem violado direitos dos estudantes.

— Eu tive que preparar para aprender a cuidar do meu filho. Não foi fácil, mas precisei. Por que eles não podem fazer o mesmo? Luto pelo meu pequeno e por todas as outras crianças que dependem disso.

Segundo levantamento do grupo ativista, a carência desses profissionais foi registrada, pelo menos, nos bairros Tijuca, Cachambi e Vista Alegre, na Zona Norte do Rio, e também em Bangu e Jacarepaguá, Zona Oeste.

A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, aponta como uma obrigatoriedade do Estado a oferta de profissionais de apoio escolar, que são "pessoas que exercem atividades de alimentação, higiene e locomoção do estudante com deficiência e atua nas atividades escolares nas quais se fizer necessária". Segundo a ativista, o tema também é tratado em outras legislações.

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Luiz Eduardo acompanhado por uma estagiária no fim do ano passado Foto: Arquivo pessoal
Luiz Eduardo acompanhado por uma estagiária no fim do ano passado Foto: Arquivo pessoal

A professora Ana Luísa Franco é mãe de um estudante com autismo e cobra a adoção das medidas necessárias por parte da secretaria.

— O ano letivo começou e as crianças da rede pública estão sem os mediadores. Consta nos laudos médicos que eles precisam, seja para a adaptação pedagógica dos conteúdos ou para ajudar com os cuidados dentro da escola, já que elas não tem a mesma independência — conta ela, mãe do Luiz Eduardo, de 6 anos, que estuda na Escola Municipal Professor Visitação, no Cachambi: — Na mesma turma há outra criança sem aulas, com Down. Nem ele e nem meu filho iniciaram as aulas.

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De acordo com os pais de alunos, as escolas da rede municipal contam apenas com o apoio de estagiários, de diversas áreas acadêmicas, além de pais voluntários. A medida adotada, porém, desagrada os responsáveis. Além disso, segundo Alessandra, boa parte das escolas informou que, este ano, os estagiários só iriam começar a trabalha após o carnaval. Enquanto isso, as crianças seguem sem acompanhamento.

— Nós não sabemos como esses pais, que muitas vezes aceitam a missão apenas por conta da ajuda de R$ 150, tratam os próprios filhos. Não podemos largar nossos pequenos sob cuidados de alguém despreparado.

Em nota, a secretaria garante que "tem atuação de referência no Brasil no atendimento a alunos da educação especial" e que está em andamento a contratação de 2 mil estagiários voltados para a tarefa. A pasta também informa trabalha para que as salas de recurso contem com mais profissionais de apoio. "Vale reforçar que, neste período de início de ano letivo, muitos pais e responsáveis participam da adaptação, o que não representa que as unidades estão com falta de apoiadores", diz o texto.