Por g1 RS


Especialistas citam combate à evasão escolar como medida preventiva à insegurança

Especialistas citam combate à evasão escolar como medida preventiva à insegurança

A educação como forma de evitar a violência foi tema de mais uma edição do Painel RBS Notícias. O debate, realizado nesta quinta-feira (14), ouviu especialistas, que discutiram caminhos para uma sociedade melhor através do ensino. O encontro foi mediado pelo jornalista Elói Zorzetto e transmitido pelo g1. Veja a íntegra abaixo.

Entre os convidados, estiveram o vice-governador do RS e secretário da Segurança, Ranolfo Vieira Júnior (PSDB); Marcos Rolim, doutor em sociologia e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública; e Aline Crochemore, coordenadora executiva do programa Pacto Pelotas pela Paz.

Ao longo do ano, o Painel RBS Notícias debateu temas como a retomada do agronegócio, da indústria, do comércio e da construção civil na pandemia, além dos impactos da crise da Covid-19 na educação e na saúde pública. Confira as edições anteriores abaixo.

Painel RBS Notícias discute a educação como forma de evitar a violência

Painel RBS Notícias discute a educação como forma de evitar a violência

Prevenção

O vice-governador, Ranolfo Vieira Júnior, citou que a violência se combate de forma transversal, atuando também na prevenção do crime. Nesse âmbito, o estado selecionou 196 escolas de 23 municípios para uma ação integrada na política preventiva.

"Para cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos nas escolas, há uma diminuição de 2% na taxa de homicídios. Então, aqui, há uma relação direta com este tema que a gente está tratando", avalia com base em nota do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Ranolfo Vieira Júnior, vice-governador e secretário da Segurança — Foto: Reprodução/RBS TV

Um dos trabalhos na área é o Pacto Pelotas pela Paz, no município do Sul do estado, coordenado por Aline Crochemore. Ela relata que, entre 2002 e 2017, houve alta nos crimes letais na cidade. Naquele ano, a prefeitura iniciou projetos de prevenção social junto às famílias.

"É um plano municipal de segurança pública que integra, de forma muito contundente, todas as possibilidades de construção das políticas municipais diversas a partir de cinco eixos de atuação. O pacto se propõe a pensar muito além das questões de policiamento e justiça para lidar com segurança pública, também nas questões de fiscalização administrativa, de urbanismo, de tecnologia dando suporte para todas essas ações que se desenvolveram aqui e, especialmente, a prevenção social", diz.

A especialista cita o combate à evasão escolar como uma estratégia para afastar os jovens da criminalidade. Durante a pandemia, a busca ativa também contribui para a inclusão de adolescentes ao ambiente escolar.

"Os que mais morriam eram jovens de 15 a 19 anos, com baixa escolaridade e, boa parte deles, sem o ensino fundamental completo. A gente percebe este fator de risco da evasão escolar", ressalta.

Aline Crochemore, do Pacto Pelotas pela Paz — Foto: Reprodução/RBS TV

O sociólogo Marcos Rolim detalhou informações de seu estudo sobre jovens envolvidos em crimes contra a vida. O especialista afirma que os adolescentes mais dispostos a matar são aqueles que saíram da escola precocemente.

"Não havia uma história de sucesso escolar, uma história de desempenho na escola desses jovens. Quando a gente fala hoje no Brasil em evasão escolar, nós estamos falando de um indicador que é fundamental na área da segurança pública, prevenir que esse jovem saia da escola, que ele permaneça na escola por mais algum tempo. Qualquer tempo a mais é uma grande vantagem", sustenta.

O vice-governador do Rio Grande do Sul citou investimentos nas áreas de segurança e educação, ressaltando que o estado precisa acolher as crianças e adolescentes e "disputar" os jovens com a criminalidade.

"Esse jovem que não tem uma perspectiva, uma expectativa de futuro. Não tendo isso, o que acontece, ele acaba sendo cooptado pela organização criminosa, que lhe dá condições até econômicas e financeiras, a curtíssimo prazo, bem melhores que a questão da educação. Nós precisamos trabalhar com um eixo transversal, geração de emprego e renda", defende Ranolfo Vieira Júnior.

Representante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rolim defende que a escola pública se aproprie da psicopedagogia para auxiliar as crianças oriundas de ambientes violentos, seja em casa ou na vizinhança.

"Com essa condição de estresse, ela tem enormes dificuldades de se concentrar em sala de aula. Mas há técnicas que os professores podem utilizar de acolhimento dessa criança para que ela seja desestressada", pontua.

Marcos Rolim, doutor em sociologia — Foto: Reprodução/RBS TV

Violência em casa

Marcos Rolim comenta que a escola também é importante para ajudar crianças e adolescentes vítimas de violência e abusos dentro de casa, em rede com Conselho Tutelar, Ministério Público e outras autoridades.

"Por incrível que pareça, a casa é o espaço mais violento para essas crianças. É claro que a maioria dos pais não é violenta com seus filhos, mas aqueles que são, são violentos dentro de casa. A casa é um fator de risco muito grande, e, para isso, nós precisamos também valorizar muito a escola pública", observa.

Painel RBS Notícias sobre educação e segurança foi transmitido pelo g1 — Foto: Reprodução/RBS TV

O Pacto Pelotas pela Paz trabalha com o fortalecimento de vínculos na primeira infância, a fim de educar pais. O programa visita famílias em regiões vulneráveis, a fim de contribuir com uma educação não violenta.

"Em quase todas as escolas municipais de educação infantil, nós temos facilitadores dessa metodologia. Trabalhando com os pais essa perspectivas do educar sem o uso da violência, da questão do afeto. Quando uma criança é amada, é cuidada adequadamente, ela tem segurança na sua constituição enquanto ser humano e vai se relacionar de forma mais empática com o outro", explica Aline Crochemore.

Entre os dias 4 e 7 de outubro, o RBS Notícias, da RBS TV, exibiu uma série de reportagens sobre violência infantil. Na primeira matéria, especialistas afirmam que a pandemia ajudou a ocultar da sociedade casos de agressão. A importância das denúncias e do olhar da sociedade para o problema, além de iniciativas para a educação também foram abordadas pela série.

Série de reportagens do RBS Notícias tratou da violência infantil no RS — Foto: Reprodução/RBS TV

Questão prisional

O secretário da Segurança e vice-governador afirma que o estado tem 43 mil presos recolhidos, enquanto a capacidade de atendimento é de 27 mil apenados. Ranolfo Vieira Júnior, projetando recursos para o setor prisional para a próxima semana, defendeu melhorar as condições das penitenciárias a fim de enfraquecer quadrilhas que atuam nas unidades.

"Com esse déficit, o que acontece, esses criminosos acabam sendo também cooptados pelas organizações criminosas dentro do próprio sistema penitenciário. Eu tenho uma posição muito clara, cadeia não é para ser colônia de férias, mas o sistema prisional não deve e não pode ser uma coisa medieval, como a gente vê em todos os lugares do Brasil", defende.

Na questão da comunicação de presos, através de celulares, o político cita a tecnologia de bloqueadores de sinal e a retirada de tomadas das celas.

Marcos Rolim afirma que apenas construir mais presídios não é uma forma de resolver o problema da violência. O especialista cita que presos por tráfico de drogas compõem o maior contingente, enquanto "os donos do negócio" não são presos.

"Para isso é preciso mais gestão, discutir o tipo de pessoas que nós estamos prendendo. Vai ver, no sistema penitenciário do Rio Grande do Sul, desses 43 mil presos quantos estão presos por homicídios e quantos estão presos por tráfico de drogas. O número de presos por tráfico é quase a metade, no Central [Cadeia Pública de Porto Alegre] é 60%. Nós estamos prendendo no varejo, por contra da guerra as drogas, uma política fracassada", analisa.

O vice-governador respondeu, afirmando que, no estado, as organizações criminosas estão sendo desarticuladas, inclusive no aspecto financeiro.

Cadeia Pública de Porto Alegre, o antigo Presídio Central, em 2017 — Foto: Mariana Ribeiro/Defensoria Pública do Rio Grande do Sul

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