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Marcus Nakagawa

Os pontos de equilíbrio em um empreendimento de impacto social

Custos e despesas, alcance do impacto e vida pessoal são alguns dos pontos que norteiam a jornada de um empreendedor social

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Marcus Nakagawa

Professor e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental, autor premiado com o Jabuti 2019, palestrante e idealizador da Abraps e do Dias Mais Sustentáveis.

Quando abrimos um negócio, seja ele de impacto socioambiental ou um empreendimento tradicional com produtos e serviços, escutamos sobre o tal do ponto de equilíbrio financeiro ou contábil. Este ponto de equilíbrio (em inglês, "break even point"), geralmente, é calculado nos planos de negócios e nos planejamentos estratégicos como um dos primeiros gols no "jogo" do empreendedorismo.

Basicamente, é equilibrar o que se ganha com tudo o que se gasta. Ou seja, chegar no zero da soma dos recebidos e dos pagamentos que a iniciativa, organização ou empresa realiza. Tecnicamente, é quando a receita total, que vem da venda de produtos ou serviços, é exatamente igual à soma de custos e despesas.

menina sentada em meio à floresta
A diretora executiva do Litro de Luz, Lais Higashi, cria soluções em iluminação para comunidades sem acesso à energia e iluminação pública - Renato Stockler

Este cálculo é importante para entender o quanto temos que vender para poder bancar a operação. Geralmente, este número de vendas ou receita financeira virará uma das primeiras metas a serem conquistadas.

No campo do terceiro setor ou das ONGs, este ponto de equilíbrio também precisa ser calculado somando todos as receitas, sejam elas por meio de vendas de serviços ou ainda de doações de todos os tipos.

O ponto de equilíbrio contábil é um pouco mais simples. Precisamos dividir o valor dos custos e despesas fixas pela margem de contribuição, sendo o resultado a receita necessária para igualar os gastos.

Depois de chegar a este ponto, se a empresa ou organização continuar num crescimento de receita ou recebimentos terá o tão sonhado lucro –ou superávit, no caso do terceiro setor.

Além deste, existem outros pontos de equilíbrio a serem calculados ou, pelo menos, definidos. O primeiro deles é a profundidade do impacto realizado contra a escala desejada.

Para quem está começando nesta jornada ou para os já avançados na temática, é necessário saber que com um mesmo recurso a organização ou empresa não consegue atingir uma grande quantidade de público e fazer uma profunda transformação social.

Geralmente, quem faz isso (ou deveria) são as políticas públicas, com recursos para gerar um impacto profundo. Para ficar mais claro: por exemplo, se o negócio ou organização tiver um projeto de educação e um recurso de R$ 120 mil por ano, terá que decidir por impactar uma pessoa com uma bolsa de R$ 10 mil por mês, dez pessoas com uma bolsa de R$ 1.000 por mês ou cem pessoas com uma bolsa de R$ 100 por mês.

Fica evidente que se escolhermos uma pessoa somente com este valor, o impacto na vida desta pessoa será aprofundado. E se escolhermos as 100 pessoas, o impacto será menor.

Óbvio que este exemplo é simplificado, pois dependerá de qual tipo de educação, qual necessidade estamos resolvendo, onde estamos, como se utilizará este dinheiro, quem são estas pessoas e outras variáveis possíveis em um projeto.

Porém, a busca do ponto de equilíbrio entre escala versus profundidade no impacto sempre será uma discussão nos projetos e empreendimentos sociais e ambientais.

O segundo ponto importante é o equilíbrio entre o impacto social e ambiental versus o lucro a ser distribuído para os acionistas e/ ou investidores. Neste caso, estamos colocando especificamente para os negócios de impacto socioambientais que vendem produtos ou serviços e possuem a divisão de dividendos, no modelo defendido pelos professores Stuart Hart e Michael Chu, das Universidades de Cornell e Harvard.

Neste ponto de equilíbrio, a decisão ou a ponderação é se o lucro deve ser transformado em mais impacto ou se deve ser distribuído entre acionistas para que o negócio possa ser mais agressivo lucrativamente, atraindo, assim, mais investidores e realizando mais impacto.

Este equilíbrio deverá ser guiado pela missão, visão e valores da organização e balizado pelo planejamento estratégico de longo prazo da organização.

E o terceiro ponto importante a trabalhar é o equilíbrio da vida do empreendedor. Geralmente, a liderança de um empreendimento acaba gerando um comprometimento quase em tempo integral, no qual há a mistura de vidas, causas, famílias e amigos com o negócio ou a organização.

Devido à paixão e crença, existe uma mistura entre a missão pessoal com a da organização, levando à uma centralização de decisões, uma dependência, uma não preparação para sucessão, além do cansaço e do termo da moda, o "burnout".

Para isso, é fundamental que o empreendedor possa equilibrar todas estas emoções e razões para que todos tenham um impacto positivo e não negativo, fortalecendo, assim, a organização e realizando as missões pessoais e organizacionais.

Estes três pontos de equilíbrio, além do tradicional citado no começo deste artigo, têm a ver com o meio-termo do filósofo grego Aristóteles, que coloca que devemos viver para buscar o equilíbrio e este seria o estado ideal de vida em sociedade.

Em cada caso, esta busca e a discussão destes pontos de equilíbrio será um ótimo desenvolvimento e planejamento organizacional.

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