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Os pais e a volta às aulas

Atuação dos pais melhora o desempenho escolar e a relação familiar, dizem estudos

Foto do author Renata Cafardo
Por Renata Cafardo
Atualização:

Nesta semana de volta às aulas, que tal aproveitar para pensar em algo mais do que o alívio de ver crianças e adolescentes voltarem à rotina? Nós, pais, participamos, de verdade, da vida escolar dos nossos filhos? Quantas vezes no último semestre fomos à escola? Não apenas buscar na porta ou em festinhas, mas conversar com seus professores, conhecer seus colegas, ver o que eles aprendem e produzem enquanto passam horas fora de casa? Não importa a idade do estudante, as pesquisas são claras em dizer que a atuação dos pais melhora o desempenho escolar e até a relação familiar. 

Aula de Língua Estoniana na Escola Inglesa de Tallinn usa tecnologia para fazer projetos Foto: Renata Cafardo/ESTADAO

Na Estônia, que se tornou o país mais bem avaliado em educação da Europa, frequentar a escola do filho é obrigação. Os pais e mães são liberados do trabalho para reuniões e outras atividades escolares. Participam de diversas decisões da instituição, inclusive da escolha do diretor. 

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A Estônia é destaque no Pisa, avaliação feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com alunos de 15 anos do mundo todo. Estudantes que disseram em questionários do Pisa que seus pais se interessam e participam de sua vida acadêmica têm resultados melhores na prova. Estatisticamente, essa associação é ainda mais forte entre os jovens com notas mais baixas. Ou seja, ter o pai ou a mãe por perto ajuda ainda mais os chamados “piores alunos”. 

Esses mesmos jovens que disseram ter os pais próximos da escola também demonstraram bem mais motivação em estudar e satisfação com a própria vida. O relatório do Pisa conclui dizendo que “um crescimento da compreensão de que pais e professores podem ser parceiros efetivos no sucesso da criança na escola tem levado autoridades em vários países a fazer políticas para aumentar a participação dos pais na vida escolar”. 

Por aqui, essa relação ainda é complicada. Pesquisa tabulada pelo Instituto Iede mostra que 9 em 10 professores do Brasil acham que os problemas de aprendizagem dos alunos ocorrem por falta de acompanhamento e assistência dos pais. Para eles, isso é mais determinante do que a falta de esforço ou meio social em que o aluno vive. 

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Ao mesmo tempo que as escolas reclamam que os pais “terceirizam a educação” dos filhos, muitas limitam as interferências a reuniões burocráticas. Algumas sequer permitem que os pais entrem nas salas de aula. Recebem mal as críticas e sugestões. 

Um exemplo interessante é o que faz o Centro Educacional Assistencial Profissionalizante (Ceap), organização não governamental que está no bairro da Pedreira – na zona sul da capital – desde 1985. É mantida por doações de pessoas físicas e de empresas como Ambev, Cielo e JP Morgan. Oferece ensino profissionalizante para mil meninos e meninas pobres, de 10 a 18 anos. A taxa de empregabilidade chega a 70%. Uma das condições para entrar no Ceap é que os pais participem de tudo. 

Há um curso de formação para mães, pais e outros responsáveis, em que se discute não só questões acadêmicas da escola como a relação com os filhos em casa. Eles participam de palestras sobre drogas, tecnologia, como melhorar o diálogo, ser mais presente.  Os pais também precisam ter conversas frequentes com os tutores de seus filhos na escola. São profissionais que atuam de forma individual para entender as circunstâncias familiares, as motivações do aluno, as dificuldades. Pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que 96% das famílias passaram a conversam mais em casa depois de frequentar a ONG.

Sim, a vida é difícil, os horários de escola nem sempre batem com os de trabalho. Mas um espaço livre nesse semestre para bater um bom papo com o professor pode ser crucial para o desenvolvimento do seu filho.

*É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ESTADO’ E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)

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