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Economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP, consultor econômico e de ensino superior, Roberto Macedo escreve na primeira e na terceira quinta-feira do mês na seção Espaço Aberto

Opinião|Ensino médio técnico e alunos paulistas no Pisa

O ensino médio técnico é recomendado em face das deficiências do ensino médio usual e das necessidades e anseios dos estudantes

Diante da nova reformulação do ensino médio, ora no Congresso Nacional, o Brasil precisa urgentemente encontrar solução para os milhões de jovens “nem-nem” (que nem estudam nem trabalham). De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de jovens nessas condições já passa dos 11 milhões, entre os 48,5 milhões de 15 a 29 anos. Por isso defendemos o ensino médio técnico, que, também segundo o Ipea, tem o potencial de aumentar as matrículas na educação profissional e tecnológica em até 80%, passando dos atuais 1,9 milhão para 3,4 milhões. O projeto de dar aos jovens bolsas para estimular a matrícula e a frequência é bom, mas será preciso avaliar pari passu seus resultados.

Na proposta do Novo Ensino Médio, relatada pelo deputado e ex-ministro da Educação Mendonça Filho, prevê-se uma formação geral básica que engloba as disciplinas obrigatórias, com carga horária de 2.100 horas, e contempla embutir 300 horas de conteúdo para formação técnica.

Essa carga é pequena. Ademais, o espaço de disciplinas eletivas deverá cair de 1.200 para 900 horas, reduzindo o protagonismo do jovem em definir suas áreas de interesse. Isso, vale lembrar, foi o grande pilar da reforma do ensino médio realizada no governo Michel Temer, justamente para torná-lo mais atrativo, reduzindo altas taxas de evasão escolar.

Ainda na formação técnica, vale destacar uma boa notícia educacional: trata-se do desempenho dos alunos do ensino técnico do Estado de São Paulo, que, em contraste à má posição do Brasil, tiraram excelentes notas no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o mais importante programa internacional de avaliação educacional, conduzido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), constituída por países predominantemente ricos. A notícia veio na Folha de S.Paulo de 15/1/2024, em artigo de Vahan Agopyan, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, e Laura Laganá, diretora do Centro Paula Souza (CPS), que administra 228 escolas técnicas estaduais (Etecs).

O artigo cita os seguintes resultados: a “média dos alunos das escolas técnicas (Etecs) paulistas em leitura é de 515, enquanto os países da OCDE obtiveram 476, e o Brasil, 410″. Além disso “três Etecs paulistanas superaram a média de Cingapura, o país mais bem colocado”. Na avaliação de Matemática “nossos alunos alcançaram em média 472, igual à de países da OCDE e superior à brasileira, de 379″, e em Ciências, “enquanto os estudantes da OCDE têm em média 485, as Etecs de São Paulo contabilizam 479 e o Brasil, 403″. O artigo também explica que a pedagogia do CPS valoriza metodologias ativas e contextualiza os conteúdos por meio de projetos para situações reais. Há ainda foco em competências socioemocionais que formam profissionais e cidadãos.

O modelo educacional do CPS, que merece ampla divulgação nacional, deveria ser conhecido, estudado e seguido por toda a rede pública de ensino, já que se revela vencedor. As escolas, assim como seus alunos, devem ser estudiosas para evoluir. Mas nada é fácil, pois o sucesso das escolas técnicas paulistas pode estar atrelado às melhores características de seus ingressantes. É difícil e custa tentar, mas tudo deve ser buscado para melhorar a educação no Brasil.

Além de dar destaque ao ensino técnico, é importante que a nova reforma garanta o protagonismo do aluno na escolha de suas áreas de interesse, promovendo o encontro dos jovens com suas vocações profissionais. Como ressalta o professor Roberto Mangabeira Unger em vídeo publicado no seu Instagram em 11/1/2024, “a escola pública brasileira é vidrada em enciclopedismo raso e decoreba”, e acrescenta que “o Brasil é uma grande anarquia criadora e nossa educação é uma guerra contra nós mesmos, colocando uma camisa de força nos jovens brasileiros”.

Portanto, insistir que esses alunos de ensino médio cursem cargas horárias exaustivas em uma Formação Geral Básica que lhes obriga uma grade curricular engessada, com diversas disciplinas distantes de seus interesses, significa uma asfixia intelectual, desestimulando-os diante de suas aptidões.

Um projeto exitoso de desenvolvimento nacional deve ter a educação como algo prioritário. É preciso investir nela e investir corretamente. Assim, a sociedade espera que os parlamentares tenham zelo com os jovens brasileiros na análise do Novo Ensino Médio. É fundamental que compreendam as aspirações das novas gerações, bem como os desafios que o mundo de hoje lhes impõe.

Que aproveitemos a capacidade criativa do brasileiro a serviço de um grande projeto de desenvolvimento nacional, e que essa virtude não seja asfixiada com modelos educacionais engessados e ultrapassados, mas aproveitada com uma educação que estimule a criar, raciocinar, trabalhar e voar alto.

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SÃO, RESPECTIVAMENTE, ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD) E CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR; E DIRETOR-GERAL DA FACULDADE DO COMÉRCIO DE SP E MEMBRO DO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO PAULISTA

Opinião por Roberto Macedo

Economista (UFMG, USP e Harvard), é consultor econômico e de ensino superior

Wilson Victorio Rodrigues

Diretor-geral da Faculdade do Comércio de SP, é membro do Conselho Estadual de Educação paulista

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