ONGs se organizam para pagar taxa de inscrição do Enem de alunos de baixa renda
A dois dias do fim do prazo para pagamento da inscrição no Enem, organizações não governamentais estão se mobilizando para financiar a taxa de alunos de baixa renda que não conseguiram a isenção.
A Samanta de Araújo Marques não pediu a tempo a isenção da taxa e não tinha como pagar os R$ 85 para fazer a prova. A sorte dela foi encontrar um grupo de ONGs que se juntou para pagar a inscrição de jovens LGBT, que são minoria no ensino superior.
“Foi de grande importância para mim. Tive a oportunidade de participar desse projeto e consegui, e graças a isso vou poder participar do Enem 2022”, diz a estudante.
“Principalmente pessoas trans e travestis, a gente tem 0,2% só dessa população nas universidades. É uma porcentagem muito baixa, então a gente tenta incentivar para que essas pessoas ocupem esse espaço”, diz a fundadora da ONG Casinha, Natalia Pasetti.
Têm direito à isenção, segundo o MEC, estudantes de famílias inscritas em programas sociais do governo, alunos de escolas públicas ou bolsistas em escolas particulares. Mas nem todos conseguem o benefício. Alguns por falta de documentos, outros porque perderam os prazos para fazer o pedido.
E tem também aqueles que não fizeram as provas do exame no ano passado e aí não podem pedir isenção.
O Cristiano Ferraz faz parte de um movimento que desde 2020 conectou 2 mil alunos a 2 mil doadores que pagaram as inscrições para o Enem e outros vestibulares de universidades públicas. São estudantes de famílias com renda menor que três salários mínimos que conseguiram essa ajuda.
“Muitos estudantes ficam no caminho e não conseguem realizar a sua inscrição, por isso que iniciativas como a nossa são muito importantes”, diz o coordenador do Movimento Amplia.
A Júlia Fernandes dos Santos tem uma irmã gêmea. E pagar a taxa de inscrição para as duas seria impossível para os pais. Uma pessoa de Brasília, que ela nem conhece, doou o valor da inscrição do Enem, que foi a porta de entrada da Júlia para o curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo.
“Com certeza mudou a minha vida. Estar dentro da universidade e também ser beneficiada por um movimento de inclusão. Eu acho que é um orgulho”, diz a estudante.
A Aryani já sentiu essa sensação. Ela também teve ajuda de muita gente para entrar na faculdade, e agora fez questão de doar a inscrição do Enem para uma pessoa que não teria como pagar.
“Poder fazer isso por outras pessoas, para mim é muito estimulante. Acredito que a educação não é um privilégio. Educação tem que ser um direito. Espero que ela consiga realizar seus sonhos e ampliar o acesso à educação para que a universidade seja mais democrática”, diz Aryani Nascimento.