Brasil Educação Enem e vestibular

ONG denuncia que estudantes pobres ficaram sem isenção de taxa no Enem

Educafro participou de reunião de conciliação com Inep para reivindicar benefício para alunos de baixa renda
Estudantes chegam para fazer prova do Enem 2016 Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo
Estudantes chegam para fazer prova do Enem 2016 Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo

RIO — Uma reunião de conciliação entre a ONG Educafro e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mediada pela Procuradoria Geral da República, nesta quarta-feira, terminou sem acordo. A Educafro entrou com uma ação contra o Inep alegando que estudantes que se enquadram nos critérios de isenção de taxa previstos pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não estavam conseguindo o benefício, conforme revelou o Blog do Ancelmo Gois . A justiça negou, em primeira instância, os pedidos da ONG, que entrará com recurso.

Na ação, a Educafro afirma que o site do Inep "dificulta de maneira substancial o exercício do direito à isenção da taxa de inscrição por pessoas que preenchem os requisitos previstos" e pede que o prazo de inscrição, encerrado no dia 18 de maio, seja prorrogado em pelo menos de dez dias úteis a partir da decisão. A Educafro pede, ainda, que os estudantes tenham direito de retificar sua opção pela isenção de taxa. Isso porque a ONG argumenta que muitos candidatos foram induzidos ao erro durante a inscrição.

Devido a isso, a ação movida pedia que o Inep explicasse em todas as etapas da inscrição cada um dos critérios para isenção, além das consequências de optar pela emissão de "GRU (Guia de Recolhimento da União" - boleto para o pagamento da taxa de R$82.

— Tínhamos a intenção de retirar a ação caso o Inep atendesse as reivindicações nesta reunião de conciliação, mas o órgão não atendeu. O Inep argumentou que criou um controle rígido porque tinha informação de que cursinhos pagos têm ensinado alunos a fraudar a isenção. Que façam o controle sobre os ricos, mas prejudicar os pobres somos contra. O Enem é a única porta para os negros e grupos pobres entrarem nas universidades federais, no Prouni e no Fies. Com essa maldade por parte do Inep haverá uma ampliação de negros e brancos pobres que estão sendo impedidos de avançar nos seus estudos— criticou Frei David Santos, diretor-executivo da Educafro.

Candidatos entraram em contato com o atendimento do Inep para tentar resolver o problema, mas não conseguiram
Candidatos entraram em contato com o atendimento do Inep para tentar resolver o problema, mas não conseguiram

O Enem prevê o direito à isenção para candidatos concluintes do ensino médio em escola pública; membros de famílias de baixa renda (com renda per capita de até um salário mínimo e meio) e tenham cursado ensino médio em escola pública ou com bolsa em escola privada; ou inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). No entanto, o benefício, segundo a Educafro, deixou de fora parte dessas pessoas.  Ex-aluno de escola pública e quilombola, Iranildo dos Santos, 18 anos,  não conseguiu a isenção e também não tinha dinheiro para pagar a taxa, que deveria ser quitada até esta quarta-feira.

— Fico bastante indignado. Eu preencho todos critérios de baixa renda e aconteceu essa barbaridade comigo. O enem é uma das únicas oportunidades de nós pobres conseguirmos uma faculdade— disse.

Iranildo chegou a entrar em contato com o atendimento do Inep, por telefone, mas a atendente afirmou que não poderia ajudá-lo. Segundo ela, o candidato deve ter informado algum dado que fez com que o sistema não o considerasse apto, o que, de acordo com ela, não poderia ser corrigido.

Assim como ele, Ana Paula Leocádio, 28 anos, também teve seu direito negado. Recém-casada, a família de Ana vive com apenas um salário mínimo. Ela conta que ao fazer a inscrição não sabia qual dos dois modelos de isenção deveria escolher (já que um diz respeito a famílias inscritas no CadÚnico e outro a famílias de baixa renda)  e acha acabou assinalando a opção errada. Segundo ela, o site não permitiu que ela fizesse a correção.

— O que tenho que fazer para conseguir minha isenção? Tenho que morar na rua? Quem vai fazer alguma coisa por mim? Estou ligando para o Inep e me dizem que não podem fazer nada. Tive que pegar dinheiro emprestado com uma colega para pagar a taxa, nem sei como vou pagar. Eu me sinto discriminada, estagnada, porque vejo que o Brasil é uma terra que tem lei, mas ela só funciona para o rico, branco e de classe média alta. A lei que funciona para mim, negra e pobre, é só aquela usada pela polícia para me revistar — protesta.

O GLOBO entrou em contato com o Inep, mas o órgão ainda não respondeu às solicitações da reportagem.