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O tardio reajuste das bolsas

Finalmente o auxílio para pesquisadores terá aumento, após 10 anos de congelamento

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Por Notas & Informações
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O governo anunciou um reajuste de 40% nas bolsas de pós-graduação a partir de março. O valor estava congelado havia uma década, o que é, por si só, uma vergonha e dá a dimensão do descaso do País com a ciência e a pesquisa. O aumento não é suficiente para cobrir toda a inflação do período – a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), por exemplo, pedia correção na faixa de 75%, quase o dobro do índice concedido. Mas já é alguma coisa.

Como era esperado, o presidente Lula da Silva procurou capitalizar o anúncio, espetando a conta do atraso no governo anterior, de Jair Bolsonaro. De fato, poucas vezes na história brasileira se viu um governo tão empenhado em destruir a ciência como o de Jair Bolsonaro, seja sufocando-a com cortes orçamentários draconianos, seja desmoralizando-a como inimiga da “pátria” bolsonarista.

O problema é que essa conta é também do lulopetismo. As bolsas de pós-graduação estavam congeladas desde 2013, ano em que o Brasil começou a tomar conhecimento do desastre econômico meticulosamente provocado pela então presidente Dilma Rousseff. O congelamento foi necessário porque o dinheiro simplesmente desapareceu, sugado pela incompetência gerencial da criatura de Lula. Ou seja, a devastação no setor de pesquisa e inovação é uma obra coletiva, com participação significativa do lulopetismo.

Não há milagre: a formação de cérebros capazes de inovar e solucionar os problemas do País demanda recursos, tempo e condições adequadas de estudo e pesquisa. Sem isso, nossas melhores cabeças preferem estudar e trabalhar no exterior, onde são remuneradas à altura. Fez bem o governo, então, em conceder reajuste de 40% às bolsas pagas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). No caso dos mestrandos, como antecipou o Estadão, o valor mensal subirá de R$ 1,5 mil para R$ 2,1 mil; no dos doutorandos, de R$ 2,2 mil para R$ 3,1 mil.

O pacote anunciado inclui aumentos em outras modalidades de auxílio estudantil, inclusive para professores da educação básica em cursos de aperfeiçoamento − uma iniciativa essencial para qualificar o ensino no País. Será elevado também o valor da bolsa de iniciação científica para estudantes do ensino médio, incentivo que deverá beneficiar 53 mil adolescentes com repasses de R$ 300 mensais (o valor atual é de modestos R$ 100, que está mais para insulto que para estímulo). Da mesma forma, será reajustada a bolsa permanência para universitários de baixa renda, um apoio importante para que mais jovens consigam concluir a faculdade.

Assim, espera-se que a nova injeção de recursos, ainda que modesta e claramente insuficiente, seja um sinal de que a ciência começou finalmente a ser vista não como um luxo, mas como uma necessidade estratégica do País. Ou seja, mesmo em tempos bicudos, o investimento em pesquisa deve ser prioritário, justamente porque é daí que o País construirá soluções para seu subdesenvolvimento.