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O tamanho da crise na educação

Resultado do Saeb mostra deterioração da educação básica na pandemia; recuperação requer articulação nacional

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Por Notas&Informações
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A principal avaliação da educação básica no Brasil, realizada entre novembro e dezembro do ano passado, confirmou o que já se esperava: a aprendizagem dos alunos de ensino fundamental e médio, na rede pública e privada, caiu durante a pandemia de covid-19, após dois anos letivos extremamente prejudicados pelo longo período de fechamento das escolas. O desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática, como informou o Estadão, piorou em todas as séries avaliadas − e o recuo foi ainda maior entre crianças em fase de alfabetização.

As provas do chamado Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), sob responsabilidade do Ministério da Educação (MEC), são aplicadas a cada dois anos em todo o País. Em 2021, por causa da pandemia, houve menor participação de alunos. O mais baixo índice de comparecimento se deu no 3.º ano do ensino médio, em que apenas 61,4% dos estudantes fizeram o teste − ante 75,6% na edição anterior, em 2019. 

Com tantos alunos ausentes, especialistas recomendam cautela na análise dos resultados. A pontuação teria sido ainda mais baixa caso um contingente maior de estudantes tivesse feito o exame. A premissa é que as crianças e os adolescentes que deixaram de comparecer são justamente aqueles mais afetados pelo fechamento das escolas, isto é, quem se afastou ou até parou de estudar no período de ensino remoto e híbrido.

Não à toa, a própria realização do Saeb de 2021 gerou controvérsia entre educadores. Secretários estaduais de Educação pediram ao MEC que realizasse um exame exclusivamente amostral, a fim de que os resultados ficassem prontos em menos tempo e pudessem orientar o planejamento do ano letivo de 2022. A sugestão foi recusada, e o MEC promoveu o teste nos mesmos moldes das edições anteriores, ignorando por completo a crise decorrente do fechamento das escolas.

O Saeb, como se sabe, serve de base para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), principal indicador de qualidade do ensino no País. Ocorre que o outro componente do Ideb é a taxa de aprovação de alunos ao final do ano letivo − e grande parte das redes evitou reprovar estudantes durante a pandemia. A consequência imediata, no que diz respeito ao cálculo do Ideb, é que os maiores − e artificiais − índices de aprovação acabaram compensando, em maior ou menor grau, a queda das notas em português e matemática. 

Voltando aos resultados do Saeb, o cenário é desanimador. De um lado, demonstram como foi prejudicial manter as escolas fechadas por tanto tempo. De outro, evidenciam as limitações do ensino remoto − que o digam as crianças em fase de alfabetização. O nível de aprendizagem dos alunos brasileiros, historicamente sofrível, vinha melhorando gradualmente no ensino fundamental, na última década. E esse movimento foi interrompido, o que só faz aumentar o tamanho do desafio. O próximo presidente da República e os futuros governadores, sejam quem forem, devem liderar um esforço nacional de recuperação da aprendizagem. Sem educação de qualidade, o Brasil jamais será o país que sonha ser.