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Inovações em Educação

O que sua escola precisa fazer pela educação inclusiva

Heloise Costa, consultora pedagógica do Espaço de SER, fala sobre como acolher estudantes em um cenário pós pandemia

Parceria com Espaço de Ser

por Redação ilustração relógio 11 de dezembro de 2020

Garantir a equidade e a qualidade na educação depende que gestores e educadores defendam e adotem os princípios de uma educação inclusiva. Através dela, cada criança é vista como um ser único, e as diferentes formas de se aprender são levadas em consideração.

Mas, se hoje ela tem ganhado força e espaço nas escolas de todo o país, em um passado não tão distante essa realidade sempre pareceu difícil de ser aplicada. O que se via era um modelo predominantemente excludente e discriminatório, que associava deficiência à incapacidade.

No Brasil, a inclusão escolar foi formalizada em 2008 por meio da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva. Em 2015, com a Lei Brasileira de Inclusão, foram estabelecidas legalmente as condições de implementação do sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades. De acordo com o Censo Escolar, o número de matrículas da educação especial chegou a 1,3 milhão em 2019, um aumento de 34,4% em relação a 2015.

Apesar dos números, o Brasil ainda passa por desafios ao oferecer uma educação que seja realmente inclusiva, principalmente quando falamos sobre o espaço físico, segundo dados do Censo Escolar de 2018, apenas 31% das escolas públicas e privadas possuíam dependências acessíveis aos portadores de deficiência.

Atualmente, para além da presença física, é preciso se preocupar também em tornar o digital um ambiente inclusivo. Para entender como acolher os estudantes em um cenário pós pandemia, conversamos com a consultora pedagógica do Espaço de SER, Heloise Costa:

1) Como preparar professores e equipes escolares para promover a educação inclusiva depois de um ano letivo em que alunos ficaram distantes da escola e dos colegas?
Heloise Costa –
Mais do que nunca, é imprescindível um trabalho colaborativo entre professores, os profissionais do AEE (Atendimento Educacional Especializado), coordenação pedagógica e demais equipes para a construção coletiva das estratégias pedagógicas a serem adotadas na escola. Os profissionais de educação precisam garantir que uma atividade pensada para a turma possa desenvolver as potencialidades de todos os estudantes, tendo como base os recursos disponíveis para auxiliar o processo.

Outro caminho é a escuta ativa. Ouvir as famílias que dependem da inclusão na educação, saber o que mudou na rotina dos estudantes com deficiência; o que os cuidadores passaram a adotar como práticas para encaminhar suas necessidades. Para além de compreender o conteúdo teórico sobre educação inclusiva, as leituras diversas, é a prática cotidiana de quem vivencia que facilita o processo e supera qualquer leitura.

Saber o que mudou na rotina dos estudantes, entender como, pedagogicamente e coletivamente, é possível atuar faz muita diferença na maneira como a escola os recebe e possibilita que o momento do retorno não seja ainda mais violento e doloroso quanto já foi o ano de distanciamento.

2) Como preparar o acolhimento de todos, inclusive daqueles com deficiência?
Heloise Costa –
Pensar no retorno presencial à escola passa, primeiramente, por pensar em como construir pontes de afeto e acolhimento aos estudantes e aos profissionais, de modo geral. Precisamos nos questionar se estamos preocupados apenas em retornar ao currículo ou se queremos ir além, e estruturar novas relações dentro do espaço escolar. Esta é uma questão que precisa ser pensada e levada em consideração.

Quando falamos das pessoas com deficiência, para além do acolhimento emocional, precisamos também repensar as formas de exclusão que já existiam antes mesmo da pandemia. Elas estavam lá, mas foram agravadas pela impossibilidade de contato físico e acompanhamento presencial. Assim, é importante que educadores e equipe empreendam estudos e esforços anteriores ao início das aulas para compreenderem como as necessidades dos estudantes com deficiência se alteraram. Um exemplo disso é o uso de máscaras – que atinge de forma bastante expressiva os que possuem deficiência auditiva.

Outro ponto é garantir a segurança com relação aos protocolos sanitários. A escola precisa ter claramente delimitados os processos a serem adotados, no intuito de garantir que o retorno presencial não seja um perigo à saúde ou sinônimo de aumento do contágio. Os profissionais precisam ser treinados para se adequarem às medidas de prevenção.

 3) Como se preparar para o modelo híbrido sem deixar de lado o caráter inclusivo da educação? O presencial será ainda mais importante para alunos com deficiência?
Heloise Costa –
Sabemos que o modelo de atividades escolares presenciais, a convivência e a interação pessoal são benéficos para todos os estudantes, não apenas para os com deficiência. No caso dos estudantes com deficiência, os processos inclusivos e interativos atuam diretamente na maneira como construímos seu senso de pertencimento e as possibilidades de desenvolvimento de suas habilidades e potencialidades.

A pandemia acelerou o movimento já esperado de aumento do uso da tecnologia nas práticas pedagógicas cotidianas. Assim, o modelo híbrido pode também representar uma possibilidade de diminuir as lacunas que as estruturas educacionais apresentam, afinal a tecnologia, se usada de forma intencional e responsável, cria pontes e não um recurso de exclusão. Além disso, os estudantes de hoje,  principalmente os de centros urbanos, – considerando-se todas as proporções e realidades de desigualdades existentes -, já dialogam com a linguagem tecnológica. Então, o exercício deve ser  pensar sobre a pergunta: como aproveitar esses recursos para potencializar a aprendizagem?

Quando falamos em inclusão de estudantes com deficiência no modelo híbrido, podemos pensar em diversos recursos, como  aplicativos, portais e outros. Também já existem diversas ferramentas, como traduções em libras, métodos de leitura para deficientes visuais, braile, compatíveis com as necessidades de pessoas com deficiências físicas. Esses mecanismos podem ser incorporados ao próprio planejamento de atividades dos professores, inclusive para que os educandos que não possuem deficiência possam compreender melhor sobre as necessidades e realidades dos seus colegas.

4) Depois de um ano como o de 2020, de que maneira manter uma boa relação entre escolas e famílias pode colaborar para promover um diagnóstico do que foi aprendido e também uma educação mais inclusiva?
Heloise Costa –
Escola e família são pilares da comunidade escolar que precisam estar juntos não apenas após o ano de 2020, mas em todos os momentos. Uma educação integral é estabelecida não apenas por aquilo que se aprende na escola, mas também pelo desenvolvimento em outros espaços e, por isso , entendemos que o espaço familiar é de extrema importância para que se possa  cumprir um ciclo de desenvolvimento mais completo pelo estudante.

Não se trata de pensar no núcleo familiar apenas como a função de cuidador ou procurador das tarefas dos estudantes, mas como um forte aliado no seu processo de desenvolvimento. A família também possibilita a construção de um diagnóstico mais completo, já que é ela quem conhece as necessidades específicas, as dificuldades, potencialidades, e, principalmente, os anseios e avanços conquistados ao longo do ano.

Sendo assim, um bom relacionamento entre escola e família possibilita que as ações pedagógicas empreendidas não sejam apenas pensadas dentro de uma perspectiva que se limita ao desenvolvimento escolar como algo que se daria apenas em um registro cognitivo, mas que levem em consideração a complexidade de campos que compõem o estudante:, emocional, social, e histórico.

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coronavírus, educação online, engajamento familiar, ensino híbrido, inclusão

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