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Origens

As Histórias Que Nos Trouxeram Aqui: um resgate histórico da construção de identidade de pessoas negras


'O que mais foi tirado da mulher preta foi a autoestima', diz Mc Soffia

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, do Rio

20/10/2022 04h00

Desde que iniciou a carreira, com apenas 8 anos, MC Soffia, canta músicas sobre a autoestima de crianças negras. "Menina pretinha", um dos seus maiores hits, com mais de dois milhões de visualizações no YouTube, viralizou com seus versos "sou negra, e tenho orgulho da minha cor". O empoderamento também foi o seu recado durante a participação, ao lado de Karol Conká, na abertura das Olimpíadas de 2016. Agora, com 10 anos de carreira, e aos 18 anos de idade, ela não pretende abandonar as letras críticas e inspiradoras, mas ampliar o seu público.

Este é o objetivo com o recém-lançado álbum "Ilusão", no qual ela tenta mesclar a juventude e a fase mais madura em suas canções. "Essa mulher que está vindo agora quer músicas mais adultas, referência em imagens, clipes e muita beleza, porque o que mais foi tirado da mulher preta foi a autoestima. Então a gente quer que mais mulheres pretas se achem lindas", contou a rapper, em sua participação em "Origens - As histórias que nos trouxeram aqui", evento promovido por Ecoa nesta terça-feira (18).

Provocada pela apresentadora de Origens, a jornalista Semayat Oliveira, Mc Soffia falou sobre a importância da família para que conseguisse se firmar no cenário musical, a começar pela referência artística, que veio de berço. "Tenho tias que são atrizes, dançarinas. E tem meu bisavô que era músico. Se juntar todo mundo, dá um documentário", brincou.

Além do incentivo e apoio, mãe, avó e tia também trabalham na equipe da rapper desde que ela começou a carreira. Não à toa, elas se tornaram as principais inspirações na vida da jovem.

MC Soffia, em 2016. - Divulgação - Divulgação
MC Soffia, em 2016.
Imagem: Divulgação

"A principal característica delas é o poder. Elas sempre foram de ir à luta, independente se vai dar certo ou não. Todas têm a mente aberta para o conhecimento, todas são muito inteligentes, resistentes e já passaram por muitas coisas, sempre com sorriso no rosto, porque o sorriso negro traz felicidade", conta a rapper.

Soffia também faz questão de dizer que a família paterna sempre esteve presente, seja comprando ingressos ou comparecendo aos seus shows. "Eles me apoiam em tudo, tenho uma família de cabeça aberta, que me aceita da forma que eu sou, com a opção que eu escolher", disse.

A minha família foi minha base. Foram eles que sempre me incentivaram a me aceitar, a me amar. Me mostravam livros, desenhos, filmes, me levavam para eventos culturais com mulheres negras maravilhosas para eu me sentir representada. Olhava e falava que queria ser que nem elas
Mc Soffia, rapper

Apesar de um ambiente familiar acolhedor e em que se sentisse segura, Mc Soffia também diz que sempre teve a consciência de que teria muitos desafios pela frente enquanto mulher negra. Por isso, desde crianças reflete sobre quais estratégias usaria para se defender do racismo.

"A partir do momento em que a gente cresce, a família não vai para a escola. A gente aprende a lidar sozinha com a sociedade, com os coleguinhas, com gente zoando o seu cabelo, a sua cor. A família é minha base, mas na sociedade a gente está sozinho. Precisei aprender a me defender", lembrou.

Hoje mais velha, a rapper usa as redes sociais para dizer o que pensa. Recentemente, ela reclamou publicamente sobre a produção da premiação do MTV Miaw, na qual era uma das indicadas na categoria Black Star Rising por Bet. "Não me mandaram convite, e eu estava indicada!", contou a Splash. "Cheguei no evento, me botaram na pista. Peguei fila, mostrei QR Code, como todo mundo. Depois vi nos camarotes gente que nem estava concorrendo", reclamou na época.

Promovido por Ecoa, Origens está em sua quarta temporada. O evento deste ano teve como mote "As histórias que nos trouxeram aqui", e recebeu ao longo desta terça-feira (18), pessoas, entre celebridades e ilustres anônimos, que contaram sobre como buscaram respostas sobre o seu passado ou agiram para transformar, cada qual à sua maneira, seus núcleos familiares.

Também participaram do evento a poeta e compositora Bell Puã e a humorista e apresentadora dos programas Splash Show e Otalab, do UOL, Yas Fiorelo. A apresentação e mediação dos encontros ficou por conta da jornalista Semayat Oliveira.