Descrição de chapéu

A ficha de Weintraub

Ataque torpe ao Supremo pode ao menos contribuir para encerrar gestão ruinosa

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O ministro da Educação, Abraham Weintraub, na Câmara dos Deputados - Pedro Ladeira - 11.dez.19/Folhapress

Dadas as dimensões e a relevância da pasta que comanda, Abraham Weintraub talvez seja, entre os muitos ministros ineptos do governo Jair Bolsonaro, o mais potencialmente danoso ao país.

O titular da Educação reúne todos os atributos vis do bolsonarismo instalado no Executivo federal: ignorância arrogante, revanchismo ideológico, rejeição ao diálogo, agressividade doentia e sabujice acima de qualquer noção de respeito à função pública.

A própria imbecilidade pode impedir Weintraub de provocar um mal maior. Não é de hoje que manifestações lunáticas o desmoralizam e ameaçam sua permanência no posto —e a registrada no vídeo da fatídica reunião ministerial de 22 de abril desponta como a mais grave delas até o momento.

Na peça se vê o chefe do MEC, após mesuras tristonhas ao presidente e lamúrias raivosas contra Brasília, dar vazão a um dos mais escandalosos rompantes autoritários do encontro. “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF.”

Até para os padrões destrambelhados do governo Bolsonaro, não é difícil imaginar o mal-estar provocado por um ataque de tamanha torpeza ao Supremo Tribunal Federal —onde se conduz inquérito que, no limite, pode resultar no afastamento do mandatário.

Não por acaso, intensificou-se o rumor sobre a insatisfação do Planalto com o auxiliar, que estaria ainda a dificultar acertos com os novos aliados do centrão. No domingo (24), Weintraub tentou pateticamente sanar o insanável.

“Não ataquei leis, instituições ou a honra de seus ocupantes”, escreveu. “Alguns, não todos, são responsáveis pelo nosso sofrimento, nós cidadãos”, completou, acrescentando covardia à boçalidade.

Cumprirá ao STF reagir com altivez à diatribe temerária. O ministro já foi alvo de um pedido de impeachment, por conduta indecorosa e irresponsável, arquivado em março por uma razão formal —a iniciativa, de parlamentares, caberia ao procurador-geral.

Em abril, o Supremo abriu inquérito para apurar crime de racismo por parte de Weintraub, em razão de ataques preconceituosos à China que também renderam crise diplomática com o maior parceiro comercial do Brasil. Em 22 de abril, o falastrão se queixou também de processos que o envolvem na Comissão de Ética da Presidência.

A opulência desse prontuário contrasta com o vazio do MEC, onde as raríssimas medidas acertadas, como o adiamento do Enem, resultam das pressões da sociedade que tanto irritam o ministro.

editoriais@grupofolha.com.br

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