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O papel da educação no letramento científico

Por André Lázaro*: A pandemia da covid-19 evidenciou a importância da pesquisa e da ciência. Veio dela a resposta para combater um vírus desconhecido e devastador. Por meio de pesquisas e grande inovação técnica foi possível desenvolver vacinas em tempo recorde e orientar as comunidades […]

Publicado em 14/11/2022

por Redação revista Educação

shutterstock_1698488083 destaque Foto: shutterstock

Por André Lázaro*: A pandemia da covid-19 evidenciou a importância da pesquisa e da ciência. Veio dela a resposta para combater um vírus desconhecido e devastador. Por meio de pesquisas e grande inovação técnica foi possível desenvolver vacinas em tempo recorde e orientar as comunidades para enfrentar as ameaças. 

Passados os momentos de maior gravidade, fica a esperança de que um dos legados da pandemia seja o fortalecimento da educação científica ou letramento científico.

Letramento científico diz respeito à capacidade das pessoas se relacionarem com a ciência como cidadão reflexivo, explicando fenômenos por argumentos científicos, como a evolução humana, e interpretar dados e evidências, por exemplo, o formato esférico do planeta.

Se a ciência ganhou força e reconhecimento neste episódio dramático da pandemia, houve também o surgimento do negacionismo científico. Governos, instituições e mesmo profissionais se somaram numa incrível cruzada de negar as vacinas, desprezar os riscos da contaminação e incentivar atitudes que, na prática, agravaram a disseminação da doença com elevação dos óbitos.

A campanha antivacina ganhou adeptos e tem graves consequências para a saúde de toda a população. De acordo com dados relativos a 2021, da Agência Senado, há expressiva redução da cobertura vacinal infantil contra a poliomielite. Em 2018 a vacinação alcançou 90% das crianças, mas em 2021 essa proporção caiu para 69%.

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Leia: “Brasil de volta ao Mapa da Fome é fruto também do descaso com a ciência”

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A formação de uma cultura científica na sociedade é necessária pois, além dos impactos evidentes na saúde e bem-estar da população, uma sociedade informada apoia investimentos em pesquisa e valoriza a dedicação dos profissionais. A educação tem papel fundamental para o letramento científico.

O Brasil tem participado de avaliações internacionais sobre o aprendizado em ciências. A OCDE realiza a cada três anos o exame do Pisa, do qual participam 78 países, inclusive o Brasil e outros latino-americanos. Os resultados do Pisa de ciências em 2018 trazem um alerta para a educação brasileira. 

Numa escala de sete níveis, em que 6 é maior e 1 o menor, alcançar o nível 2 é particularmente relevante, pois indica que os jovens estão aptos a participar de forma plena da vida social, econômica e cívica na sociedade contemporânea. Dos estudantes brasileiros que participaram da avaliação, 55% ficaram abaixo do nível 2, enquanto a média da OCDE é de 79% nesse nível ou acima.

São muitos os desafios: formação de professores nas disciplinas da área, infraestrutura laboratorial nas escolas e um ambiente acadêmico onde a pesquisa científica é estimulada por meio de políticas públicas. 

São três fatores em que a realidade brasileira tem números ruins. 

Nos primeiros anos do ensino fundamental somente 77% dos docentes de ciências têm formação adequada, segundo dados do Inep. Nos anos finais essa porcentagem cai para 66%, demonstrando um flagrante déficit. 

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Leia: Os desafios dos professores de ciências para implementar abordagem investigativa no ensino

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Já no aspecto da infraestrutura escolar, os resultados são muito desiguais, quer entre os setores público e privados, quer entre as unidades da federação. Considerando dados de 2018, 44% das escolas de ensino médio contam com laboratório de ciências, média entre os extremos de 21% no Amapá e 82% no Distrito Federal. Se considerarmos apenas as escolas públicas, a média cai para 39%, sendo a menor proporção no Amapá, com 12%, e maior no Paraná, com 78%.

letramento científico
Foto: Shutterstock

Para agravar a situação, o país vem diminuindo os recursos aplicados em ciência. Agências de fomento como Capes e CNPq tiveram que reduzir o número de bolsas de estudo oferecidas para mestrado, doutorado e pós-doutorado devido aos cortes sofridos em verbas públicas. 

Para o doutor em educação e professor visitante na Universidade Federal do ABC, Tárcio Minto Fabrício, o Brasil vai precisar de duas a três décadas para retomar os patamares em que a ciência se encontrava cinco anos atrás. 

Assim, hoje, pesquisadores buscam no exterior oportunidades que são negadas em nosso país. 

Para finalizar, fica um dado estarrecedor: em 2012, o Brasil investia 11,5 bilhões de reais na área de ciência e tecnologia. Em 2021, 10 anos depois, o investimento foi reduzido a 1,8 bilhão, de acordo com reportagem do jornal da USP de 11 de junho de 2021: Dados mostram que ciência brasileira é resiliente, mas está no limite.

Veja a conversa com o professor Tárcio Minto Fabrício na live: Educação científica:

*André Lázaro é diretor de políticas públicas da Fundação Santillana

Leia também:

O papel da educação e do trabalho na criação de uma sociedade mais justa

Autor

Redação revista Educação


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