Desde 2016, o país tem voltado sua atenção para a discussão sobre a Reforma do Ensino Médio, estabelecida pela Medida Provisória 746/2016. As mudanças foram propostas em caráter de urgência no documento e, após a aprovação do Poder Legislativo, já estão prescritas em caráter de lei. No entanto, a adaptação concreta das escolas às normas do Novo Ensino Médio só será exigida após a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio, que ainda não teve sua primeira versão construída e cuja homologação está prevista para 2019. Diante disso, uma questão fundamental paira na mente de estudantes e pais: como as escolas se adaptarão, na prática, às transformações do Ensino Médio teorizadas em lei? Você conhece os pontos das mudanças?

Marista Pio X inicia os processos de adequações propostos pela Reforma — Foto: divulgação

A educação é um processo cujos resultados só são percebidos em longo prazo. Nesse contexto, a necessidade de adaptar-se às mudanças não espera a cobrança da lei, mas exige um diagnóstico dos pontos a serem trabalhados e de sucessivas práticas pedagógicas que podem sofrer alterações para se adequar ao que o Plano Nacional de Educação (PNE) propõe para o Novo Ensino Médio. A Paraíba traz alguns formatos visíveis dessa adaptação, tanto no setor público quanto no privado.

Na rede privada, o Marista, instituição presente em vários países do mundo, há 200 anos, por exemplo, atualmente mantém em suas unidades educativas uma carga horária que ultrapassa o mínimo de mil horas previsto na nova lei. Além dessa estrutura, traz em seu alicerce uma filosofia consonante com a realidade da educação em países desenvolvidos que já implementaram reformas na Educação Básica, como a flexibilização do currículo, com o objetivo de formar o sujeito de maneira integral, considerando-o o centro do processo educativo.

O novo Ensino Médio — Foto: Divulgação

Essa é uma das principais necessidades apontadas no Novo Ensino Médio brasileiro: a formação integral do ser humano para a vida, que intenciona o amadurecimento por parte dos estudantes para que as escolhas profissionais sejam mais assertivas, portanto, devem ser promovidas desde os pilares do Ensino Básico. Essa formação perpassa pelo estímulo ao senso crítico, compreensão dos fundamentos tecnocientíficos, capacidade de aprendizagem constante e resolução de situações-problema.

Marista Pio X inicia os processos de adequações propostos pela Reforma

Marista Pio X inicia os processos de adequações propostos pela Reforma

Segundo Lucimar Dantas, assessora educacional do Colégio Marista Pio X, embora as previsões apontem para a aprovação da BNCC do Ensino Médio em 2019, a Rede Marista possui documentos norteadores, como o Projeto Educativo do Brasil Marista e as Matrizes Curriculares de Educação Básica do Brasil Marista, estas lançadas em 2016, que contemplam uma base conceitual e metodológica fundamentada na formação da pessoa em sua integralidade. “Esses documentos normativos foram formulados com a tendência de um ensino voltado para o amplo, a complexidade, a ligação dos saberes das diversas áreas, inclusive com a proposição de itinerários formativos; não exatamente da forma como o Governo apresentou, mas entende-se já que os jovens têm maneiras diferentes de aprender. Talvez essa seja a principal mudança de concepção”, explica Lucimar.

As proposições da lei visam construir nos educandos a ideia de um Projeto de Vida. Para a Rede Marista, essa é uma prática que deve ser trabalhada desde a Educação Infantil, a fim de que, ao concluir os 60% da carga horária do Ensino Médio, o estudante tenha maturidade para decidir assertivamente a área que deseja seguir e não precise recomeçar outro itinerário formativo, caso não se identifique com o escolhido. “O Projeto de Vida é algo que faz parte da filosofia marista, pois nós consideramos o sujeito como centro da aprendizagem, como uma pessoa completa que tem uma finalidade para a sua vida.

Seguindo os documentos da Rede, estamos materializando e sistematizando ainda mais essa noção, trazendo inclusive o Projeto de Vida como componente curricular no Ensino Fundamental I e como alvo das nossas ações pedagógicas. Então, nós trabalhamos para que eles construam essas competências, para que, quando chegarem ao Ensino Médio, já tenham seu projeto traçado”, diz Lucimar. Segundo ela, o Colégio tem viabilidade estrutural para oferecer aos estudantes quatro itinerários formativos: Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza.

O papel da família no Novo Ensino Médio

Para garantir o sucesso da proposta pedagógica que cerceia a Reforma do Ensino Médio, a participação da família dos estudantes é decisiva. Para que haja coerência na formação dos jovens, as escolas precisarão encontrar canais para afinar ainda mais o diálogo com os pais e oferecer-lhes um suporte profissional para que apoiem a formação dos seus filhos de maneira sensata e gradual. Esse trabalho é realizado em longo prazo, a fim de que, desde o Ensino Fundamental, as famílias se engajem nesse modelo educacional e, assim, estabeleçam condições necessárias para que os estudantes enfrentem os novos desafios do Ensino Médio com maturidade.

Um exemplo disso é o Fórum Itinerante do Ensino Médio, que vem sendo realizado em diversas escolas da Rede Marista e aconteceu no mês de outubro em João Pessoa. O evento trouxe profissionais da área de Educação pública e privada para abordar as perspectivas e os rumos das mudanças legitimadas pelo Governo, com o objetivo de formatar um manifesto público com os diversos apontamentos realizados durante o colóquio. Outra atividade é o projeto do Colégio Marista Pio X “Diálogos com as Famílias”, que reúne pais e responsáveis em palestras que discutem temas relevantes do contexto pedagógico atual em cada faixa etária, o mais recente, aconteceu no dia 10, e tratou das perspectivas do Novo Ensino Médio.

Formação continuada é o caminho para o bom desempenho

Se a parceria entre família e escola é importante, é inquestionável que o professor é um dos alicerces fundamentais no processo, já que esse profissional lida diretamente com as práticas pedagógicas. Dentro das condições das reformas, o docente deverá ampliar sua visão para além da disciplina que leciona, criando conexões entre as áreas do conhecimento. Para o professor de Sociologia do Pio X, Carlos Cavalcante, um dos organizadores do Fórum Itinerante, essa é uma mudança necessária para a docência.

“Essa ruptura metodológica da educação, que acompanha o ritmo das transformações da sociedade, leva a superar a concepção de aprendizado numa perspectiva bancária, como diria Paulo Freire. Passa-se a utilizar o paradigma de que o professor aprende com o aluno. Em Humanas, professor e aluno aprendem, reaprendem e constroem sentidos juntos. Claro que essas transformações não são imediatas, mas precisam acontecer”, diz Carlos.

Essa opinião converge com as necessidades emitidas explicitamente pelos educandos. Arthur Julius, que cursa o 1º ano do Ensino Médio no Colégio Marista Pio X, certamentenão vivenciará as mudanças propostas pela reforma de maneira direta, mas ele reconhece a pertinência de determinados pontos da lei para a sociedade em que vive. Arthur reverbera uma das principais queixas dos estudantes: a metodologia engessada do professor. Segundo ele, são poucas as instituições em que os docentes estimulam o senso crítico da forma como explicitou o professor Carlos Cavalcante.

“A exposição do conteúdo nas escolas é, em geral, monológica e cansativa. Se estamos na escola para, em tese, aplicar os conhecimentos na vida profissional, pessoal, social e financeira, eu acho que os professores precisam ensinar no sentido da experiência, da aplicação dos conceitos no dia a dia, assim, os estudantes podem ser estimulados a criar soluções e atuar como cidadãos nessas questões”, propõe Arthur.

As mudanças decorrentes da legislação não têm uma data certa para se efetivarem.Para o diretor Sérgio Oliveira, o Marista tem, em sua prática, desde sempre, a atenção pelo ser humano e sua constituição pautada em valores e princípios que pretendem estimular o trabalho coletivo, a criatividade e as habilidades socioemocionais.Hoje, essas mudanças começam a ser percebidas como necessárias pela comunidade global, ao ponto de serem incluídas no exame internacional Pisa.

“A partir de 2018, elas serão ainda mais vivenciadas no colégio, com atividades extracurriculares mediadas pela prática em ciências e matemática, por exemplo, associada com uma ação pastoral mais efetiva no dia a dia dos educandos”, conclui Sérgio.

União Norte Brasileira de Educação e Cultura
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