Por G1 CE


As índias Ceciliana e Ivonilda Pereira ensinam crianças da comunidade onde vivem, em Caucaia, na Grande Fortaleza — Foto: Helene Santos

Aprendendo a música da pajé da comunidade, tocando instrumentos e fazendo artesanato. Aliado ao currículo do ensino convencional, é isso que os índios tapebas de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, crescem aprendendo na Escola Indígena da Ponte, situada no município. E é isso que os motiva a trilhar todo o caminho até o ingresso na universidade, como fez a índia Ceciliana Pereira da Silva, de 39 anos.

Aluna do curso de pedagogia em um centro de formação profissional na Grande Fortaleza, ela decidiu ajudar os jovens de sua comunidade e, hoje, além de estudante, dá aulas na unidade.

A índia tapeba precisou passar por um choque de realidade para perceber seu potencial enquanto indígena e o impacto positivo que poderia causar na comunidade. “Antes eu trabalhava fazendo serviços gerais na escola e um dia fui humilhada por uma pessoa que falou que era só isso que eu sabia fazer. Aí caiu minha ficha que eu tinha capacidade de entrar na faculdade e ser professora da minha comunidade”, relata.

Liana, como gosta de ser chamada, destaca que o acesso dos povos indígenas à universidade ainda é “uma experiência nova”. Para ela, a maior carência é de profissionais dentro das próprias comunidades. “Nós precisamos muito ter mais professores de onde vivemos. O mais importante é não deixar a nossa cultura morrer”, desabafa.

Repassar conhecimento

Irmã de Ceciliana, Ivanilda Pereira da Silva terminou o ensino médio aos 29 anos e foi trabalhar como merendeira na Escola Indígena da Ponte. Mas o sonho dela era mais alto. Com o salário de merendeira, pagou as mensalidades do curso de Pedagogia, completou a graduação e se tornou professora de ensino infantil na mesma instituição.

Com um sorriso no rosto, ela relata a luta para que crianças e adolescentes da comunidade Tapeba tenham um futuro digno. “Eu, como professora e índia, acho que é importante as crianças verem que na sua própria comunidade tem professores e que eles podem alcançar isso também. Hoje nós entramos na faculdade com o sentimento de poder repassar o conhecimento para eles”, pondera.

Embora a intenção seja esta, o povo indígena ainda encontra obstáculos para ter educação digna. Hoje, de acordo com o Governo do Estado do Ceará, 39 unidades estaduais espalhadas por 16 municípios cearenses são voltadas exclusivamente para o ensino indígena, mas nem sempre foi assim.

“A história da escola indígena diferenciada vem do próprio preconceito. Antigamente nossas crianças iam à escola convencional e eram discriminadas. Índio não podia ir descalço, não podia ir sujo, com a roupa rasgada. Na escola indígena não tem isso, ele vai do jeito que a condição dele deixar ele ir. O que nós queremos é formar pessoas e ensinar nossa cultura”, conclui Ivanilda.

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