Irapuã Santana
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Irapuã Santana

Doutor em Direito

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Irapuã Santana

Doutor em Direito

Os desafios da implementação de diversidade e inclusão no setor privado vão muito além do processo seletivo específico para grupos minorizados. Significa dizer que não basta olhar para o todo e ver se existe na empresa uma quantidade x de pessoas negras, y de mulheres, z de LGBTQIAP+ ou w com deficiência. É preciso saber onde esses colaboradores estão e também como estão suas condições de trabalho.

Um exemplo muito simples para entender isso é nosso próprio país. Temos 56% de negros e 51,5% de mulheres na composição da nossa população. Entretanto, ao analisar os dados econômicos, verificamos que há uma disparidade grande na distribuição por classe social. Segundo o IBGE, pretos ou pardos representavam mais de 70% dos pobres e dos extremamente pobres. Sob a perspectiva de gênero, em 2022, o nível de ocupação dos homens alcançou 63,3% e o das mulheres 46,3%. Controlando a variável do nível de escolaridade, essa desigualdade persistia entre trabalhadores com ensino superior completo: 84,2% para homens e 73,7% para mulheres.

Se houver um filtro duplo, cruzando os dados pelos dois elementos, observamos que a taxa de pobreza entre mulheres pretas ou pardas foi de 41,3%, quase o dobro da registrada entre as brancas (21,3%). É similar entre os homens, para os quais a taxa de pobreza foi estimada em 38,6% para pretos ou pardos, acima da marca de 20,6% dos brancos.

No setor privado, existe o caso paradigmático do Magazine Luiza. A empresa se deu conta de que 53% do seu quadro de funcionários era composto de pessoas negras, mas, ao mesmo tempo, havia apenas 16% de líderes negros.

Dessa maneira, mostra-se necessário prestar atenção não apenas a quanto. É também essencial entender onde estão as pessoas para que a lógica da exclusão presente em nossa sociedade não seja espelhada dentro do setor privado.

Portanto, se é verdade que há legitimidade em perguntar qual a diversidade dos colaboradores de uma empresa, é igualmente justo buscar saber onde ela se encontra. Como é a distribuição por cargos? Quem está no administrativo? Quem está no corpo técnico? Quem está nas coordenações? E na chefia? Quantos são sócios?

Isso é importante para que se verifique a real responsabilidade da companhia na promoção da igualdade de chances para os grupos historicamente marginalizados. A mudança no critério de recrutamento é, nesse sentido, apenas o primeiro passo. Não adianta ter 50% de negros e 50% de mulheres, se está todo mundo concentrado no corpo de estagiários ou auxiliares administrativos. Isso é tão somente manter uma estrutura social construída desde as fundações do nosso país.

E mais: os dados sobre o aumento de lucro nos lugares que investem em diversidade obviamente não se comprovarão. Para obter sucesso com mais ganhos, é preciso coragem para transformar e colocar pessoas com constituições pessoais e visões de mundo diferentes a fim de construir algo novo.

A História mostra que a inovação é a chave para vencer, e sabemos que não se chega a ela fazendo o mesmo de sempre.

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