Brasil Educação

‘O jovem deve conviver com a diferença’, diz educador

Membro da Frente Escola Sem Mordaça, Marcelo Assunção defende papel da escola na formação dos jovens

RIO — A modernização da sociedade está ameaçada nas instituições de ensino, onde os professores são acusados de fazer propagandas partidárias e impor suas preferências políticas aos alunos. O diagnóstico é de Marcelo Assunção, professor da Fundação Osório e membro da Frente Nacional Escola Sem Mordaça. Para o docente, o colégio deve participar da formação de crianças e adolescentes, que, ao contrário do que dizem as famílias conservadoras, não estariam incondicionalmente rendidos às opiniões apresentadas na sala de aula.

Por que foi criada a Frente Escola Sem Mordaça?

A Frente é necessária para que as pessoas sigam a Constituição, que garante o direito de cátedra e a liberdade de uma educação livre e sem restrições. É uma reação ao Escola Sem Partido, que é uma tentativa de inspiração fascista de proibir pensamentos contrários às concepções de seus adeptos. Tem um nome bonito, mas propõe a proibição das novidades que chegaram às escolas nas últimas décadas.

Como ocorreu esta transformação da escola?

A sociedade tornou-se mais moderna, complexa e aberta à diferença. Isso assusta os pais ligados ao Escola Sem Partido. Veem que o jovem sai de uma família homofóbica e volta respeitando outras formas de sexualidade. Ele aprende também que, além de sua religião, deve respeitar outros credos.

Qual é o papel da família e da escola na formação dos jovens?

O Escola Sem Partido diz que as instituições de ensino estão ofendendo os princípios morais das famílias, que têm o direito de fazer a educação religiosa e moral das crianças. Mas a educação também é responsabilidade da sociedade e do Estado. O jovem deve conviver com a diferença. Criou-se um mito de que existem escolas de esquerda que doutrinam alunos incapazes de resistir ao assédio intelectual dos professores. Isso é uma contradição absurda. Se isso acontecesse, só haveria um pensamento. Na verdade, cada um adota as suas próprias ideias. E isso assusta alguns pais — é muito mais fácil ter uma criança obediente do que uma escola que borbulha ideias.

Como o educador deve se posicionar na sala de aula sem ser acusado de doutrinar os estudantes?

Vemos uma reação crescente à sociedade plural e tolerante. Há muitas pessoas de resistência em posições de comando. Como eu, que sou professor de História, posso dar uma aula sobre o golpe de 64, sem ofender quem o chama de revolução? Da mesma fora, se eu disser que existe racismo, vou ofender os racistas. Se negar, vou ofender as vítimas do racismo.

O Escola Sem Partido tornou-se muito famoso nos últimos anos. A curto e médio prazo, o que ocorrerá com o movimento?

Acredito que seu caráter fascista será desmascarado. A escola não tolera mais a intolerância. A sociedade já viu que o projeto tenta cercear o pensamento. Com a pressão jurídica e internacional, esses projetos não vão sobreviver.