Ricardo Henriques
PUBLICIDADE
Ricardo Henriques
Informações da coluna

Ricardo Henriques


A educação de qualidade para todos é eixo vital para o desenvolvimento socioeconômico sustentável de um país. Não à toa, Daron Acemoglu, um dos autores do livro “Why Nations Fail”, questionado sobre onde o Brasil falha em entrevista recente, indicou a necessidade de uma nova estratégia de desenvolvimento econômico. Dentre os elementos citados para viabilizá-la, a educação encabeçou a lista.

A despeito da resposta não ser uma novidade, tampouco o é a premência de equalização de forças das agendas social e econômica para redução das desigualdades. O discurso de posse do presidente Lula deu sinais nítidos do entendimento dessa centralidade. Os novos ares de 2023 são alvissareiros, mas vêm acompanhados de demandas urgentes apontadas no relatório de transição do novo governo.

No setor educacional, para além da recomposição orçamentária da pasta destacam-se: alfabetização na idade certa; implementação da reforma do ensino médio e seu alinhamento com a educação profissional e tecnológica; expansão da educação infantil; qualificação da formação docente; desenvolvimento profissional dos gestores educacionais (BNC Diretor); bolsas de pós-graduação; aprimoramento das políticas de acesso, permanência e conclusão do ensino superior. Todas essas prioridades requerem também a revisão das avaliações e exames desses níveis e etapas da educação.

No entanto, está no horizonte da política educacional nos próximos quatro anos a revisão de uma série de marcadores normativos que são cruciais para nortear a educação básica. Apenas o cumprimento das obrigações legais previstas será insuficiente diante dos desafios que se avizinham no longo prazo.

É preciso qualificar este processo; do contrário, a capacidade de reorganizar a estratégia de desenvolvimento do país no futuro será comprometida, distanciando-nos, em última análise, dos caminhos apontados por Acemoglu.

Entre outros, os principais marcos normativos e operacionais da educação básica a serem revisados ou implementados no ciclo 2023-2026 incluem a reformulação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2023; o novo Enem e o novo Plano Nacional da Educação (PNE) em 2024; a revisão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a partir de 2026, além da revisão do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) no mesmo ano.

Não obstante estes marcadores possuam finalidades distintas, todos devem ser revistos de forma coordenada e coerente, a fim de maximizar seus efeitos finalísticos.

O Ideb, por exemplo, é o principal indicador de qualidade da Educação brasileira, central para a definição de metas e expectativas de performance dos sistemas estaduais e municipais – em linha com o Ministério da Educação (MEC).

O monitoramento do Ideb entre 2005 e 2021 foi crucial para as redes de ensino e, no momento, se faz necessária sua reformulação de forma a atualizá-lo frente aos novos desafios da educação básica. Para tanto, é necessário também reformular o Saeb, avaliação de larga escala realizada bienalmente desde a década de 1990 que permite calcular parte do Ideb.

Em 2024 o Brasil precisa implementar o novo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Essa atualização é fundamental para que o monitoramento da educação no Brasil reflita com coerência as mudanças curriculares implementadas nos últimos anos a partir da BNCC, bem como as novas diretrizes do Ensino Médio, cuja implementação teve início ano passado.

Os critérios de distribuição da complementação da União e dos fundos que formam o Fundeb (Art. 60-A das ADCT) também serão revistos em 2026. Por fim, o MEC deverá assumir em 2024 a coordenação da formulação do novo PNE para o decênio 2025-2034, posto que será o fim da vigência do atual.

Atender as demandas urgentes, recompor o orçamento do MEC, definir as diretrizes de um projeto educacional inclusivo e de excelência e ainda coordenar a formulação e implementação desses marcos normativos e operacionais será desafiador. Será essencial que o governo dialogue regularmente com gestores públicos, professores, diretores,

estudantes, famílias, universidades, parlamentares, entre outros, para tornar esse projeto de concertação nacional bem-sucedido ao longo dos próximos anos. Felizmente, as nomeações do ministro Camilo Santana, da secretária-executiva Izolda Cela e da equipe de excelência escolhida pelo ministro para conduzir o MEC trazem esperança e confiança de que o horizonte da política educacional estará em boas mãos.

*Ricardo Henriques, economista, é superintendente-executivo do Instituto Unibanco e professor associado da Fundação Dom Cabral

Mais recente Próxima Novos ares para políticas públicas