Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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O futuro não é mais como era antigamente

Um tempo em que um vírus para o mundo exige um novo modelo de educação, que ensine a aprender sempre

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Quando era adolescente, o caminho para alcançar bons empregos e carreira estava desenhado: entrar em uma faculdade, de preferência de bom nível, e em quatro anos “aprender tudo” o que fosse necessário para os próximos 15 anos no mercado.

Evidentemente esse pensamento valia se você fosse parte da elite, para quem não concluir um curso universitário estava fora de questão. Assim como a impressão de que sua trajetória profissional era fruto exclusivo de seu mérito acadêmico. Aos vulneráveis o desafio era –e para muitos ainda continua sendo– terminar o ensino médio e encontrar um bom emprego.

Nossas faculdades de arquitetura formaram designers, paisagistas, fotógrafos, cineastas e até músicos, como Chico Buarque. Jornalistas e publicitários percorreram caminhos distintos, das faculdades de letras à economia, assim como nossos matemáticos e engenheiros coalham o mercado financeiro. Todos eles “descobriram no trabalho” o que lhes foi útil ou não em sua trajetória nos bancos escolares e, sobretudo, que devem seguir aprendendo ao longo da vida.

Embora ainda resista, a educação formal deverá ser tragada por essas mudanças nos próximos anos. Como formar pessoas críticas, empáticas, empreendedoras, colaborativas em um modelo educacional que ainda é o oposto disso? Não se trata apenas da discussão se os currículos devem ser mais ou menos “conteudistas”, ou se os estudantes terão aulas de “projeto de vida” ou de competências socioemocionais.

Trata-se de mudar a organização do ensino e da forma de ensinar, que por sua vez exige mudanças na formação inicial e continuada dos professores e mesmo na regra de acesso ao ensino superior, que, ao fim e ao cabo, organiza o sistema de ensino básico público e privado. Enquanto essa mudança não chega, o Brasil precisa aproveitar a oportunidade aberta com a nova organização proposta para o ensino médio.

Um dos meus filhos emigrou para a França com o irmão e a mãe há uma década. Resolveu estudar cinema. Entre um curso superior tradicional e um técnico escolheu o segundo. “Não quero aprender o que foi e é o cinema, quero aprender a fazer cinema”, me disse. Muitos de seus amigos “pularam” essa etapa e se inscreveram em cursos técnicos.

Enquanto na Europa o ensino técnico e profissionalizante é responsável por 30% a 40% das matrículas em nível médio e garante o acesso a empregos de boa qualidade, no Brasil são apenas 11% e muitas vezes representam o caminho escolhido pelos melhores alunos do ensino público para disputar uma vaga na universidade.

A necessidade e o desejo dos estudantes em buscar seu primeiro emprego, a baixa cobertura de ensino técnico e de estratégias que os preparem para o mundo do trabalho, levam muitos deles a abandonar os estudos em troca de ocupações precárias, muitas delas que provavelmente serão extintas em um futuro próximo.

A boa notícia é que é possível virar esse jogo, a depender do esforço dos governos estaduais, do Congresso e do setor privado. O novo ensino médio permite às redes estaduais de educação incluir a formação técnica e profissional como um dos intinerários formativos desta etapa de ensino. Também é possível combinar cursos curtos de qualificação profissional nos demais intinerários. Por que não ensinar matemática financeira ou fundamentos de programação na área de matemática e suas tecnologias? Ou mesmo produção e edição de vídeo na de linguagens e suas tecnologias?

O deputado federal Marco Bertaiolli tem realizado um trabalho fundamental na comissão para modernização da Lei de Aprendizagem. Há vários pontos a serem observados, mas o mais importante está na integração entre as empresas e as escolas, possibilitando com que o aprendizado teórico e prático espelhe o mundo do trabalho.

Cálculos da comissão indicam que o potencial de contratação de jovens aprendizes é de 1,1 milhão, mas há apenas 400 mil empregados atualmente. É fundamental que o relatório vá a plenário e seja votado ainda neste ano.

A aprovação da nova Lei de Aprendizagem, aliada à ampliação do ensino técnico profissional articulada ao ensino médio pode ter efeitos importantes na redução da evasão escolar e no acesso dos jovens ao mercado de trabalho sem recorrer a empregos precários. Além de “distribuir futuros”, também dialoga com um mundo em que todos passarão um tempo maior de suas vidas trabalhando e aprendendo.

Um tempo em que YouTubers têm tanto impacto na opinião pública quanto veículos de mídia tradicionais, bancos digitais têm tantos clientes quanto os sólidos bancos consolidados há anos e um vírus para o mundo exige um novo modelo de educação, que em vez de entregar conteúdos, ensine a aprender sempre. O futuro não é mais como era antigamente. E pode ser para todos.

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