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Neste ano, o Enem — a principal porta de entrada para o ensino superior — chega aos 25 anos. Sua matriz de referência, aquilo que fundamenta a prova, mudou apenas uma vez, com a reformulação do exame em 2009. Essa transformação veio acompanhada de uma nova função para a avaliação: ser um concurso seletivo unificado, principalmente para universidades federais em todo o território nacional.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, acertadamente estabeleceu as avaliações em larga escala como forma de monitorar a qualidade do ensino. O país implantou um ambicioso sistema com o objetivo de abranger as redes de ensino em todo o território nacional. Um enorme desafio, sem dúvida, levando em consideração o tamanho da população e as dimensões continentais do Brasil.

No entanto, a guinada de 2009 imprimiu ao Enem um viés conteudista e centralizador. Desde então, o exame vem sobrecarregando o currículo e mantendo congelado o dia a dia nas salas de aula de ensino médio.

No congresso em que celebrou seus 20 anos, no fim de agosto, a Associação Brasileira de Avaliação Educacional elegeu como tema "A avaliação do futuro e o futuro da avaliação". Ao longo de quatro dias, especialistas debateram a relação entre processos avaliativos e inovação. Na sessão de encerramento, o professor Mozart Neves Ramos foi preciso ao recomendar “foco no aluno e em seu futuro, e não no professor e no seu passado”.

Nas origens da instituição escolar, os currículos foram concebidos num contexto de escassez de informação, como meio de assegurar ao estudante o maior volume de conhecimento possível. A revolução tecnológica nas três últimas décadas expôs as atuais gerações ao excesso de informação, algo até então inédito. O desafio das escolas hoje é, portanto, filtrar.

O cenário tão radicalmente transformado convoca as instituições e sistemas de ensino no mundo inteiro a inovarem, mas o currículo com o qual trabalhamos no Brasil ainda é enciclopédico. É imperativa a flexibilidade curricular, prometida pela reforma do ensino médio e que dá chance ao aluno de escolher pelo menos parte de seu percurso de aprendizagem. Os jovens precisam ver sentido naquilo que aprendem em sala de aula.

As últimas gerações, inclusive as dos atuais educadores, tiveram suas próprias trajetórias escolares submetidas a um currículo único. Um sintoma evidente disso é a resistência à reforma do ensino médio: o clamor por tutela deixa claro o dramático impasse em que estamos. Reviravoltas e instabilidade de critérios desnorteiam e travam o sistema de ensino.

Convém considerar essa perspectiva nas reformas educacionais e na atualização de sistemas de avaliação em larga escala, como o Enem. Ao fechar o primeiro quarto do século XXI, nosso compromisso é proporcionar aos estudantes uma escolaridade pertinente, que os prepare de forma eficaz para o futuro em que viverão nas próximas décadas.

Urge que sejam impressas às avaliações em larga escala atualizações pelas quais elas possam induzir, em nosso sistema de ensino, um ambiente propício às inovações curriculares e experimentações tão necessárias. A avaliação do futuro é a que favorece a inovação.

*Pedro Flexa Ribeiro é membro do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro e vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro

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