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O fortalecimento de organizações sociais exige uma nova agenda

Para quem está na linha de frente, a emergência é diária e exige uma ação sustentada entre projetos e iniciativas coletivas

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Angela Dannemann

Superintendente do Itaú Social

Fernanda Zanelli

Especialista em programas sociais e produção de conhecimento no Itaú Social

No ano em que a pandemia iniciou, em 2020, quase R$ 7 bilhões foram empregados por investidores sociais. A soma reportada pelo Censo Gife (Grupo de Institutos e Fundações Empresariais) e pelo Bisc (Benchmarking do Investimento Social Corporativo) é um recorde histórico, desconsiderando as sobreposições entre as pesquisas divulgadas no final de 2021.

O ano também foi marcado pelo maior repasse a terceiros, comparado àquele destinado a projetos próprios dos investidores –outro fato inédito no campo.

mulheres aguardam em fila em frente a um paredão grafitado
Fila para distribuição de alimentos organizada pela Cufa Heliópolis, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

No entanto, como cerca de metade deste total foi alocado para o enfrentamento da crise, é baixa a tendência de continuidade deste volume de investimento e, provavelmente, também o repasse a terceiros será menor.

Embora os investidores sociais saibam que organizações da sociedade civil (OSCs) são importantes aliadas em situações de crise ­–já que 57% delas receberam apoio emergencial devido à Covid-19, segundo Censo Gife 2020– menos da metade dos pesquisados (47%) declara investir institucionalmente nestas organizações.

A despeito do aumento de 17 pontos percentuais, comparado ao censo anterior, a prática que prevalece é a de repasses pontuais e por linhas pré-estabelecidas.

Contraditoriamente, uma das principais dificuldades mencionadas pelas empresas para o apoio a organizações é a percepção de que falta estrutura de gestão nas OSCs, somada à dificuldade de monitorar os resultados decorrentes do aporte.

Isso explica, em alguma medida, a prática do apoio pontual a projetos, pois há um pressuposto de que esta modalidade oferece maior controle e menor risco.

Porém, não só em âmbito social, como no mercado, é consenso que instituições fortalecidas são essenciais para obter resultados consistentes. Assim, o risco maior está em estruturas frágeis e capacidades organizacionais baixas, que geram, por consequência, o esgarçamento do tecido social, vital para a participação social, econômica e política das comunidades.

Para as OSCs que estão na linha de frente, a emergência é diária e exige uma ação sustentada e convergente entre projetos e iniciativas coletivas.

Assim, como o investimento social privado pode contribuir para que organizações atuem no cerne do seu propósito voltado às demandas?

Pouco temos falado sobre aprendizados desta agenda que traz dificuldades intrínsecas: como o choque entre culturas organizacionais e a relação assimétrica de poder entre apoiador e apoiado.

Não há estratégia infalível, mas há práticas promissoras: metodologias que, ao mesmo tempo em que propõem parâmetros comuns, permitem a individualização de demandas.

Trata-se, por exemplo, de viabilizar rubricas orçamentárias flexíveis, para que as organizações possam tomar decisões sobre o melhor uso do recurso; investir em ambientes de troca entre pares e assessorias técnicas para que o grupo atue na identificação e encaminhamento de nós críticos, muitas vezes comuns; e construir processos de monitoramento e avaliação que priorizem a reflexão e a aprendizagem, além de responderem à prestação de contas.

Estas práticas estão nos principais manuais de inovação social do mundo contemporâneo.

Fortalecer o desenvolvimento institucional de OSCs gera maior autonomia para conceber soluções sociais inovadoras com lastro nas diversas realidades –brasileiras e globais. Significa confiar nessa inteligência e na eficácia das respostas que certamente irão emergir dos territórios.

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