Antônio Gois
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Antônio Gois

Um espaço para debater educação

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Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.


Ao analisarmos indicadores insatisfatórios de acesso, conclusão ou aprendizagem, na busca por razões e soluções do problema, por vezes esquecemos do quão relevantes são fatores externos. Um novo exemplo de impacto educacional de uma política alheia ao campo pedagógico vem de um estudo dos pesquisadores Victor Araújo (University of Reading), Marta Arretche (USP) e Pablo Beramendi (Duke University), publicado em janeiro no periódico científico The Journal of Politics, um dos mais prestigiosos da área.

Eles investigaram os efeitos do programa Luz para Todos, criado no primeiro mandato de Lula, com o objetivo de garantir o fornecimento de energia elétrica em áreas ruais e remotas, especialmente no Norte e Nordeste. A principal preocupação dos autores era identificar se o programa trouxe retornos eleitorais aos governos do PT _ a conclusão foi que sim, houve retorno positivo e persistente _, mas, para isso, procuraram mensurar resultados que ultrapassavam o objetivo primordial da política, de fornecer energia em áreas remotas. E um dos efeitos significativos encontrados pela chegada de luz elétrica nas localidades beneficiadas foi o aumento na matrícula entre jovens de 15 a 17 anos e de 18 a 25 anos.

Isso se explica porque a chegada de eletricidade nessas localidades permitiu que as escolas pudessem abrir no período noturno, levando a um aumento da matrícula e conclusão no ensino médio, e até a um aumento na matrícula no ensino superior via educação a distância (na década de 2000, o governo federal também lançou um programa de EaD público, o Universidade Aberta do Brasil).

Na literatura acadêmica, não faltam evidências de várias outras ações no entorno da escola que impactam – positiva ou negativamente – os resultados observados dentro dela. Por exemplo, o estudo "Tiros no Futuro: Impactos da guerra às drogas na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro", de 2022, identificou que conflitos ocorridos durante o ano letivo estavam associados ao aumento da evasão e queda na aprendizagem em escolas afetadas. Em linha semelhante, os pesquisadores Joana Monteiro e Rudi Rocha, em estudo de 2013, identificaram que o desempenho acadêmico dos alunos caía em escolas mais afetadas por tiroteios ao redor, que levavam também a maior absenteísmo docente, rotatividade de diretores e interrupção de aulas.

Estudos mostram também que a melhoria no acesso ao saneamento básico impacta nos indicadores escolares. Um deles, realizado pelos pesquisadores Juliana Scriptore, Carlos Roberto Azzoni e Naércio Menezes-Filho, foi publicado em 2018 e identificou aumento na matrícula e redução na evasão e repetência no ensino fundamental em áreas onde houve ampliação do acesso ao saneamento básico. Trabalhos mais recentes têm identificado que o aumento da temperatura média agravado pelo aquecimento global também impactam a aprendizagem. E provavelmente o mais relevante – em termos de impacto – de todos os fatores externos à escola é o nível socioeconômico das famílias, variável de maior influência nos resultados de aprendizagem dos alunos.

Todas essas e outras constatações soam intuitivas, ou mesmo óbvias. Mas, com frequência, são esquecidas no momento de formulação de políticas públicas que olham apenas para o que se passa na escola.

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