Alexandre Schneider

Pesquisador do Transformative Learning Technologies Lab da Universidade Columbia em Nova York, pesquisador do Centro de Economia e Política do Setor Público da FGV/SP e ex-secretário municipal de Educação de São Paulo.

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O ensino remoto fracassou, e agora?

É hora de organizar as escolas, formar professores e ativar uma rede de proteção social para garantir o direito à educação

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Na semana passada a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo divulgou os primeiros dados dos efeitos da pandemia na aprendizagem dos alunos paulistas. Os resultados são devastadores e implicam uma reflexão dos gestores públicos e da sociedade brasileira.

A secretaria encomendou um estudo sobre o impacto da pandemia e realizou uma avaliação externa do nível de aprendizagem dos alunos no início desse ano. A chance de um aluno da rede estadual paulista abandonar a escola cresceu 4 vezes. Os alunos do 5º ano do ensino fundamental obtiveram resultados em matemática inferiores aos que eles próprios alcançaram quando estavam no terceiro ano. Em termos mais práticos: os estudantes de 11 anos foram capazes apenas de resolver contas simples de soma e subtração.

É importante observar que esses são a média dos efeitos e resultados dos estudantes. Grupos mais vulneráveis devem ter resultados ainda piores. Esta é uma suposição, baseada em resultados historicamente comuns, uma vez que não foi realizado um recorte de equidade nas análises divulgadas.

Se em um estado rico como São Paulo um enorme contingente de estudantes não acompanhou as atividades propostas, são candidatos a abandonar a escola e aqueles que persistiram regrediram, é de se supor que a situação não seja muito melhor em outros estados e municípios brasileiros.

Sala de aula branca com janela grande em toda a lateral esquerda. Há quatro alunos sentados, distantes, e mexas marcadas com uma faixa vermelha. À frente, um homem fala e outra pessoa está mais atrás, ao lado esquerdo da lousa branca
Estudantes retornam às aulas presenciais na Escola Estadual Leopoldo Santana, na zona sul de São Paulo - Rivaldo Gomes - 14.abr.2021/Folhapress

Passamos muito tempo discutindo quando abrir ou não as escolas e dedicamos poucos esforços a medir os impactos das políticas educacionais implementadas no último ano. É preciso entender que não vamos voltar às aulas presenciais no modelo anterior à pandemia até o fim desse ano, a julgar pelo ritmo da vacinação.

Do ponto de vista mais geral, disponibilizar aulas em vídeo ou em aplicativos de celular ou simplesmente enviar materiais impressos às residências dos estudantes e acreditar que os mesmos irão aprender autônoma e solitariamente em suas casas se mostrou uma aposta que não deu certo.

Não se deve deixar de lado o uso de tecnologias educacionais e as políticas de ampliação da conectividade dos alunos, mas elas continuarão tendo baixa efetividade se deixarmos de lado a formação de professores, a organização das escolas para que todos aprendam e a articulação de uma rede de proteção social que tenha como eixo as escolas e os territórios aonde estão inseridas.

As referências dos estudantes, especialmente para os mais novos, são seus professores. O investimento primeiro dos gestores educacionais deve ser o de adotar políticas capazes de fortalecer e manter esses laços. Formar os profissionais para acolher o luto, o medo e os demais efeitos da pandemia na saúde mental dos estudantes, planejar adequadamente a combinação entre as atividades remotas e presenciais e engajar os estudantes no processo de aprendizagem são os primeiros passos.

Organizar a escola para produzir e monitorar um plano específico de aprendizagem para cada estudante, de acordo com suas especificidades e necessidades é uma tarefa fundamental em um momento em que as desigualdades preexistentes certamente foram ampliadas. Não é razoável que pela segunda vez se chegue ao fim de um ano letivo e se descubra que milhões de alunos brasileiros sequer entregaram uma atividade proposta ou não se logaram uma única vez nas plataformas ou aplicativos disponibilizados pelas secretarias de educação.

Ativar uma rede de proteção social nos territórios em que estão as escolas é o maior escudo contra o aumento da evasão escolar. O cruzamento dos dados dos estudantes entre as áreas de educação, saúde e assistência social e a integração de políticas sociais no território permitirá resolver com rapidez problemas que provocam a evasão ou o baixo engajamento dos estudantes.

A despeito do enorme esforço dos gestores educacionais, as experiências de ensino remoto não foram suficientes para evitar o aumento da evasão escolar —que dobrou entre 2019 e 2020 segundo o IBGE— e garantir a aprendizagem dos estudantes brasileiros. É hora de organizar as escolas, formar professores e ativar uma rede de proteção social com o objetivo de garantir o direito à educação de todas as nossas crianças e jovens.

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