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A opinião do GLOBO

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A opinião do GLOBO.

Hoje é o dia mais importante em toda democracia, o dia do voto. Dia em que todo cidadão tem o direito — e o dever — de escolher seus candidatos, com o objetivo de livrar-se de governantes e legisladores ineptos, reeleger os que mostraram discernimento e eficácia ou apostar em novas personalidades, novas ideias e novas histórias. O voto proporciona à sociedade mecanismos de correção de rumo e de inovação. Como quarta maior democracia do mundo, o Brasil exibe números superlativos: 156,4 milhões de eleitores registrados, 11 candidatos à Presidência, 216 nas disputas pelos governos estaduais, 224 nas corridas pelo Senado, quase 9.800 na briga por um lugar na Câmara dos Deputados e pouco mais de 16 mil na pelas assembleias legislativas e distrital.

Embora a democracia esteja baseada num mecanismo de decisão coletiva, paradoxalmente o ato de votar é solitário. Diante da urna eletrônica, de forma secreta, cada eleitor desfruta a oportunidade de fazer escolhas independentes, longe dos olhos do chefe, da família, dos amigos, dos vizinhos, dos sacerdotes ou de mentores de toda sorte. É o momento em que o cidadão comum, na maior parte do tempo invisível ao universo do poder, pode definir as prioridades do país em diferentes áreas — da economia à saúde, da segurança pública à pobreza, da educação ao meio ambiente.

O dia da eleição é o exemplo máximo da igualdade trazida pela democracia. O voto de todos tem exatamente o mesmo valor em qualquer lugar do Brasil, seja pobre ou rico, branco ou negro, homem ou mulher, hétero ou gay, católico ou evangélico, doutor ou analfabeto. A maior meta democrática jamais será fazer com que população tão diversa concorde em tudo — isso é impossível. Ao contrário, a divergência é uma característica essencial da democracia. Se todos pensassem o mesmo, não seria necessário fazer consultas periódicas por meio do voto.

Quem entender que o crescimento econômico é prioritário para combater a fome e a desigualdade precisa examinar o que pensam os candidatos à Presidência e ao Congresso sobre as diferentes propostas de reforma (sobretudo tributária e administrativa) ou a abertura da economia à competição internacional. Escrutínio semelhante vale para outros assuntos, como meio ambiente, saúde, educação ou segurança. Mesmo temas cuja responsabilidade cabe a governadores e assembleias dependem da coordenação do governo federal. Em nenhum deles haverá consenso, por isso é essencial observar o compromisso dos candidatos com a preservação da democracia, mecanismo mais eficaz para que eventuais erros sejam corrigidos no futuro.

Há várias explicações para as diferenças de opinião a respeito de todos esses assuntos — não necessariamente falta de informação sobre os candidatos, educação deficiente ou defeitos morais. As crenças, os valores e a experiência de vida dos eleitores funcionam como réguas para medir os candidatos e suas promessas. Cada um de nós pode achar o que bem entender sobre os políticos. Mas nada justifica que, como tem acontecido com frequência nos últimos tempos, as divergências intrínsecas ao jogo democrático descambem para o ódio, para as agressões verbais ou mesmo para a violência física. Nada. A essência da democracia está justamente em buscar a resolução dos conflitos de forma pacífica — ela não é apenas o governo pela vontade da maioria, mas antes de tudo um conjunto de regras, aceito por todos os atores como garantia de que todos respeitem tal vontade.

É, por isso, inaceitável que essas regras sejam desafiadas, seja por quem for. Neste dia em que todos os cidadãos serão ouvidos de forma anônima, vale lembrar o óbvio: como em todo pleito, haverá ganhadores e perdedores. Candidatos escolhidos por determinado eleitor poderão não estar entre os eleitos. É parte do jogo democrático. Dos políticos derrotados e de seus apoiadores, o fundamental é exigir maturidade, respeito ao resultado das urnas, portanto à própria democracia.

As urnas eletrônicas e o sistema de totalização da Justiça Eleitoral brasileira compõem um sistema de votação seguro e confiável, de reputação reconhecida internacionalmente, que nunca foi alvo de fraude, como era comum no tempo das cédulas em papel. Acusações ou insinuações em contrário vindas do presidente Jair Bolsonaro, de seu partido, o PL, e de seus aliados são feitas sem apresentação de qualquer evidência crível. Caso voltem a aparecer depois da divulgação dos resultados, exigirão calma da população e firmeza das autoridades.

Todos os candidatos e eleitores são livres para crer em Papai Noel ou no Coelhinho da Páscoa. Numa democracia, porém, não é uma opção acreditar que vícios nas urnas eletrônicas determinarão os resultados. Isso equivale a desafiar uma das regras democráticas fundamentais em vigor no Brasil: a vontade popular é soberana. E, graças ao voto de todos nós em dias como hoje, continuará sendo.

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