Rio Bairros

O desafio das aulas on-line: a reinvenção da escola na era da Covid-19

Instituições e alunos se adaptam ao ensino à distância com diferentes estratégias

Guilherme Conde. Aluno do CEEI assiste a aula on-line em casa
Foto:
Acervo pessoal
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Guilherme Conde. Aluno do CEEI assiste a aula on-line em casa Foto: Acervo pessoal /

RIO — Fechadas devido à pandemia de Covid-19 , escolas tentam se adaptar ao ensino à distância para não prejudicar alunos . Embora a prática já esteja valendo em vários colégios desde o fechamento do espaço físico das escolas devido ao novo coronavírus , educadores ainda buscam formas de adaptar o conteúdo às aulas on-line e discutem os prós e contras da situação. O debate foca principalmente o grau de eficácia em diferentes conjunturas, que envolvem da faixa etária dos estudantes a sua realidade pessoal.

Algumas instituições mantêm uma abordagem parecida com a presencial, oferecendo aulas on-line interativas, como o Marista São José , que desde a última segunda tem recorrido à plataforma Teams, da Microsoft, e a uma equipe especializada em tecnologias educacionais. Os alunos podem esclarecer dúvidas diretamente com o professor durante a apresentação das matérias.

— O conteúdo continua o mesmo, e é muito bom poder ver os professores, mesmo que através da tela. O que muda mesmo é o espaço físico. Embora tudo seja muito diferente e novo, estou gostando das aulas e me organizando bem. Só me sinto um pouco mais disperso por não estar em sala — avalia Rafael Siqueira Brasil Ribeiro, aluno do 7⁰ ano do Marista.

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Há também colégios como a Christian School Recreio e o Ao Cubo Barra , que escolheram gravar as aulas e disponibilizar um horário específico para os estudantes tirarem suas dúvidas em tempo real. O Ao Cubo convocou seus professores assim que o decreto estadual determinando o fechamento das escolas saiu, na sexta-feira, dia 13 de março, e eles passaram aquele fim de semana gravando aulas no estúdio do colégio.

Para Nigel Winnard, diretor da Escola Americana ,  em uma situação de ensino à distância, os professores precisam adaptar métodos que reformulem os planos de aula para acomodar um ambiente de aprendizado muito diferente. Mas, apesar da mudança de contexto, o básico permanece o mesmo: inspirar os jovens a apreenderem novas ideias e desenvolverem o raciocínio.

O Centro Educacional Espaço Integrado (CEEI) tem dado aulas on-line desde o dia 17 de março. Tanto alunos como educadores já estavam familiarizados com o sistema, usado como complemento do presencial. A diretora-geral, Luciana Soares, conta que a reorganização repentina só não foi caótica por isso.

— Nossos educadores foram rápidos e criativos — afirma Luciana. — Cada disciplina tem uma sala virtual, e o conteúdo é pensado de diferentes formas.

A diretora ainda destaca que o material on-line faz com que o aluno tenha a liberdade de acessá-lo na hora que quiser, apesar de haver horário fixo para tirar dúvidas com os professores.

—  Tenho visto o empenho do meu filho e de colegas à frente do computador e em aplicativos de bate-papo, como se estivessem na escola. Observo diariamente o quanto isso está dando certo — aprova Lucia Rego, mãe de aluno do 3º ano do Ensino Médio do CEEI.

No Colégio Notre Dame , no Receio, além das aulas on-line, todas as turmas estão recebendo atividades pedagógicas planejadas com recomendações dos professores e sugestões de leituras. Mesmo assim, a diretora Leci Paier ressalta a importância da organização de uma rotina de horários em casa e do apoio das famílias nas tarefas propostas.

Os pais que estão trabalhando em casa, sentem na pele a diferença de atenção exigida em relação a idade das crianças. Para a analista de responsabilidade social, Tatiana Saramago, é bem diferente a atual rotina de ensino à distância entre seus dois filhos, um de 10 e e outro de 3 anos, ambos matriculados no Notre Dame.

— Com o Rafael, o mais velho, não tenho trabalho. Mas acredito que isso é fruto de uma autonomia que sempre incentivamos nele, além da facilidade das novas gerações em lidar com tecnologias. Já com o Daniel, o caçula, preciso fazer um revezamento de jornada com o meu marido.

Aula virtual de espanhol do colégio Ao Cubo Foto: Divulgação
Aula virtual de espanhol do colégio Ao Cubo Foto: Divulgação

Coordenador de Enem da rede QI, o professor de história Renato Pellizzari frisa que alunos do ensino médio são mais independentes e lidam melhor com as as aulas on-line. Tanto que, num primeiro momento, a maior preocupação foi oferecer conforto psicológico aos vestibulandos. Para ele, os mais afetados com as mudanças são os mais novos.

— O ensino à distância funciona melhor com alunos mais maduros. Na educação infantil e fundamental, é tudo muito mais lúdico. O espaço de troca e socialização é ainda mais importante nessa fase.

O Miraflores , que trabalha com crianças dos ensino infantil e fundamental, optou inicialmente por antecipar as férias de julho. Porém, com o prolongamento da quarentena, também passou a ter aulas on-line, com o suporte da Árvore de Livros e Guten News, plataformas de leitura digital que elaboraram planos de aula, conteúdos e materiais de apoio exclusivos para este momento.

— Os alunos recebem um quadro de horários das aulas, que serão interativas. Mas elas também ficam gravadas, caso os pais não tenham disponibilidade de acompanhar os filhos naquele momento —  explica a diretora pedagógica do Miraflores, Jane Serrato Rocha Lima.

Luiz Rafael Silva da Silva, coordenador pedagógico do Mopi , onde alunos têm aula via Google Classroom e encontros on-line interativos, lembra que a mudança afeta não só pais e alunos, mas os professores, que precisam se adaptar à nova realidade:

— Toda semana discutimos o que pode melhorar, acompanhamento feito também com as famílias. Com isso, temos obtido um bom aproveitamento. Neste momento, empatia é fundamental.

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